A Jana Couto refere amiúde no seu livro a “mentalidade vencedora”. O que a caracteriza?
Revendo a minha própria história até aqui, para mim, uma mentalidade vencedora é aquela que faz com que sejamos capazes de acreditar em nós mesmos e na possibilidade de atingirmos determinado objetivo. Sem essas duas formas de pensamento, nunca teria conseguido obter os resultados que consegui até hoje.
No seu caso, como se manifestou esta mentalidade vencedora e empreendedorismo?
O empreendedorismo entrou muito cedo na minha vida. Aos nove anos, ainda que em forma de brincadeira, recordo-me de iniciar um pequeno negócio junto à entrada de um campismo. Embora na altura não tivesse dado muita importância, esse interesse começou aí. Depois ao longo do tempo fui tendo outras pequenas experiências, embora tenha continuado os meus estudos e começado a trabalhar por conta de outrem na área da Contabilidade e Gestão.
Em 2020, em plena pandemia, a empresa para a qual trabalhava entrou em layoff parcial, o que me deixou mais tempo disponível. Então, fui investindo tempo de modo a adquirir conhecimento, ainda sem o profissionalizar. Aos poucos, fui aplicando esse conhecimento e vendo o seu impacto em exemplos práticos do dia a dia, o que me levou a criar e a partilhar conteúdos sobre essas aprendizagens que também poderiam ser úteis a outras pessoas. Foi aqui que nasceu o projeto “Finanças da Jana”. Entretanto, aos poucos, fui retomando a “vida normal”, mas com este novo desafio ao qual mais tarde passei a dedicar-me a tempo inteiro.
A Jana Couto assenta a sua aprendizagem numa série de princípios que, entre si, se complementam. Quer, sucintamente, partilhá-los com os leitores?
Sim, a minha trajetória baseia-se essencialmente em quatro princípios. Em primeiro, o da riqueza mental, é importante preenchermos a nossa mente com os nossos sonhos em vez de a usarmos para guardar o que não queremos. O segundo princípio é o da gestão financeira, porque não chega só trabalharmos a mente, temos de saber usar o dinheiro como ferramenta no dia a dia.
O dinheiro é o que vai comprar os nossos sonhos. O terceiro princípio é o de criar mais fontes de rendimento, deste modo se uma torneira deixar de deitar água, temos outra, ou seja, se uma fonte de rendimento deixar de gerar dinheiro, pelo menos temos outra que ainda nos pode ajudar. O quarto princípio é o de multiplicar o dinheiro que sobra para alcançarmos os nossos sonhos mais cedo, e isso é possível quando investimentos as nossas poupanças. Se a poupança é o que nos sobra, o investimento é a forma que temos para multiplicá-la.
Porque nos diz que “a abundância não vem do ter, a abundância vem do ser”?
A importância do ser vai mais além do que se pode imaginar. Uma pessoa só consegue desempenhar um determinado papel se já “for” (com o que quer, pensa, sente e acredita) esse algo mais. Um exemplo muito simples são as pessoas que querem abrir o seu negócio próprio, iniciar um projeto, mas ainda continuam com a mentalidade de funcionário. Quando uma pessoa quer passar para o próximo nível, a sua mente deve estar preparada e os seus hábitos também. A expressão “é preciso ser para ter” vem de que é importante ser o que se quer antes de ter. Desta forma, é importante aprender a pensar e a agir de acordo com o resultado pretendido e, para isso, é preciso ter os mentores certos.
O seu livro também nos fala de crenças e valores. No que toca ao dinheiro, os portugueses têm uma boa relação com o mesmo?
Ter uma boa relação com o dinheiro implica, sobretudo, olhar para o mesmo de uma forma positiva. Se alguém acreditar na expressão “o dinheiro não traz felicidade”, está a atribuir-lhe uma emoção negativa. Porém, o dinheiro é o meio, não o fim. Com mais dinheiro é possível realizar mais sonhos. Os sonhos é que vão contribuir para a felicidade.
No que toca ao dinheiro devemos ser mais racionais e menos emocionais?
Eu diria que é importante sermos mais conscientes em relação aos pensamentos sobre o dinheiro. Portanto, temos de ser racionais, ou melhor, mais conscientes em relação à forma como pensamos, pois vai influenciar as nossas emoções, ações e resultados. Ou seja, somos emocionais por natureza, não dá para “fugir”, temos é de cultivar ou promover as emoções certas, as que nos vão fazer agir.
O que diz a uma pessoa que repete a frase “ficar rico não é para pessoas como eu”?
Para ajudar uma pessoa que pensa assim teria de perceber porque pensa dessa forma, ou seja, temos de ir à raiz da questão para mudar o padrão de pensamento. No meu livro, Como ter mais dinheiro, explico o passo a passo de como funciona esse processo.
No seguimento da pergunta anterior, o que diz a uma pessoa que ganha o ordenado mínimo, não tem poupanças, mas que aspira a constituir um “pé-de-meia”?
Na maioria das vezes, o problema não está na quantia que se ganha, digo-o porque duas pessoas com o mesmo salário podem ter resultados completamente diferentes não só por causa da forma como gerem o dinheiro, mas também por conta de outros fatores, como a própria mentalidade. Por isso, o primeiro passo é desconstruir a forma como lida com o dinheiro, depois é perceber qual a situação financeira atual, para com os recursos atuais desenvolver ações de forma a sobrar dinheiro no orçamento.
É possível partir de um quotidiano preso a dívidas para um outro de desafogo financeiro?
Eu acredito que sim, é possível sair de um orçamento negativo e “sobrar” dinheiro, ou mesmo tendo um orçamento positivo, criar mais dinheiro. O livro aborda os quatro princípios que ajudam nesse processo, com muitas estratégias e técnicas que podem ser facilmente adaptadas à realidade de cada um. Pode não ser fácil, mas com foco e sem saltar passos, é possível.
O livro da Jana Couto também é dedicado às finanças para as crianças. Estamos a saber educar financeiramente as nossas crianças?
Os adultos de hoje, são as crianças do passado, se a sociedade na sua generalidade refletir um padrão de mais escassez financeira do que de abundância, isso significa que precisamos de mudar o padrão. Se não o mudarmos, as crianças de hoje, no futuro, terão exatamente os mesmos problemas que os adultos têm atualmente.
A Jana Couto é apologista da diversificação das fontes de rendimento. Considerando que a generalidade dos cidadãos tem apenas como fonte de rendimento o ordenado mensal, de que forma a podem diversificar?
Existem três tipos de rendimento. Rendimento ativo, que é o rendimento principal e que vem do trabalho, ou seja, o que implica estar ativamente a trabalhar para receber o salário. Existe também o rendimento passivo, aquele rendimento que não requer que estejamos ativamente a trabalhar, por exemplo criar um curso on-line. É verdade que também implica um trabalho inicial, mas depois torna-se passivo e escalável. Outro exemplo são os investimentos (uma vez que aplicando o dinheiro, depois é possível receber ganhos sem fazer nada). E por último, existe o rendimento extra, que é um rendimento alternativo para ganhar mais e não ficar completamente dependente do rendimento ativo.
Os portugueses poupam pouco porque têm pouca margem para o fazer ou porque não estão a aplicar as técnicas certas de poupança?
A maioria dos alunos que acompanhei não conseguiam poupar mais por causa da mentalidade focada em problemas e por não seguirem um modelo de gestão financeira estruturado. Embora não queira generalizar, a resposta para a maioria dos portugueses pode ser o reflexo disto mesmo. Se souberem as mudanças que podem implementar no dia a dia, essa realidade muda. É isso que mostro no meu livro.
Qual o melhor conselho que se pode dar a alguém que se quer tornar um investidor?
Investir em primeiro lugar no seu conhecimento, pois é a única forma de se saber que opções existem disponíveis no mercado e desta forma compreender o que se pode escolher e que é mais adequado à sua realidade e objetivos. Investir não é difícil, mas requer algum estudo e dedicação para se poderem obter resultados interessantes.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
Comentários