Desde sempre na história da evolução da Terra e do Homem, que estão presentes descrições de situações de crise e de catástrofe, sejam naturais – e.g. sismos - ou provocadas – e.g. ataques terroristas. Em comum, todas elas têm a imprevisibilidade com que surgem, as razões de origem pouco controlável, os resultados negativos que deixam e as consequências físicas e/ou psicológicas que geram.
Como tudo o que é pouco – ou nada – controlável, teremos sempre dois caminhos: ou procurar esse controlo no que não controlamos, o que pode ser mais ou menos adaptativo dependendo das circunstâncias a que nos referimos, podendo, mesmo, revelar-se obsessivo ou, tendemos a esquecer ou a evitar a dita situação, como se o facto de algo não ser controlável fosse razão para não caber na nossa existência.
Certo é que, controlável ou não, mais ou menos dentro do nosso controlo, estas situações de crise e catástrofe ocorrem sem que estejamos, realmente, preparados para elas. E como poderíamos estar, se não as controlamos? Devemos então esquecer que existem ou podem existir? Devemos viver com medo da sua existência?
Este medo, quase latente, é dirigido para uma ideia abstracta que, à partida, não existe. Temos percepções das experiências anteriores de situações semelhantes que nos dão informações e é com estas que vivemos, mas não sabemos do que devemos ter medo.
As catástrofes naturais são imprevisíveis. Não sabemos onde nem quando irão ocorrer, mas sabemos que a possibilidade das mesmas existe sempre. A ciência explica-nos as causas destes acontecimentos, mas também explica que só poderemos evitar as ocorrências futuras como um todo, em comunidade. Tendemos a ser mais condescendentes com estas. Como se o facto da nossa intervenção directa não ser suficiente fosse razão para não estar preocupado pois, olhando à volta, “ninguém está”. A generalização leva à inibição do comportamento específico e tendemos a achar que ninguém está a intervir directamente na situação, esquecendo o receio das situações.
As catástrofes provocadas, cada vez mais comuns e conhecidas – infelizmente - pelos casos de terrorismo recentes, provocam reações diferentes das anteriores. São praticadas por Homens, a Homens, o que gera sentimentos de desadequação da sociedade. É como se a natureza Humana não o permitisse e torna-se não lógico que estes acontecimentos existam e possam ocorrer. É como se nos magoasse mais, a nós Homens, que alguém como nós, outros Homens, pudessem desrespeitar as leis fundamentais da vida. Os sentimentos de injustiça e revolta ocupam as nossas emoções, ao mesmo tempo que nos preenche o medo de perceber que pode acontecer.
Como viver num mundo com estes acontecimentos? O medo tende a ser a resposta à generalização de um estímulo pelos semelhantes, isto é, quando um cão morde alguém, a vítima, passando a ter medo de cães, não o terá apenas do cão que a mordeu e passará a generalizar o seu medo à categoria “cães”, como se todos fossem um. No entanto, o medo permite-nos ter vantagens face às situações, possibilitando que estejamos preparados para o que pode acontecer e prevenidos face ao desconhecido.
No entanto, viver com medo, constante e latente, para situações provocadas por outras pessoas, que não sabemos quando nem quem, como ou porquê, é boicotar a nossa própria vida, as nossas próprias vivências em liberdade de acção e pensamento.
Se nas catástrofes naturais o que acontece é percebermos o perigo e viver com a noção do mesmo, mas sem medo, nas catástrofes provocadas, como não temos noção do perigo, o medo tende a não deixar de existir.
É preciso viver sem medo, é preciso enfrentar cada estímulo adverso e evitar que este nos controle, apenas e só porque não o controlamos.
Não controlar não é sinónimo nem extenso de ser controlado e devemos ter sempre esta noção, de que permitirmo-nos não controlar é viver sem medo e, isso, é viver.
Tiago A. G. Fonseca
Psicólogo Clínico
Psinove – Inovamos a Psicologia
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