O mindfulness é coisa do passado, abra o seu coração para o heartfulness, uma prática que a coach ensina no livro com o mesmo nome, «Heartfulness – Enfrente a vida de coração aberto», publicado em Portugal pela Porto Editora. Por isso, em 2017, não tenha pressa, sorria mais, não julgue, ponha-se no centro e seja mais feliz consigo e com os outros. Aprenda a dizer não, a impor limites e a mostrar a sua vulnerabilidade, «aquela que faz de si humana e verdadeira», diz a coach Mikaela Öven, com quem estivemos à conversa sobre o heartfulness.

O que é o heartfulness?

É uma forma de fugir do termo mindfulness, que está a ser muito explorado comercialmente. Hoje em dia, parece que só fazemos as coisas se tivermos algo em troca. Vou ao ginásio porque vou receber alguma coisa, vou meditar porque me vou sentir mais focada e por aí fora… O que acontece é que, caso não obtenha resultados rapidamente, desiste-se.

O heartfulness visa transformar o mindfulness numa prática do coração, sem se pensar no que se vai ganhar. O heartfulness é adaptar conhecimentos milenares da forma como nos fizer mais sentido sem seguirmos um programa fixo e termos abertura para iniciarmos uma viagem ao nosso interior sem expetativas, só pela prática em si.

Podemos dizer que o heartfulness ajuda cada indivíduo a colocar-se no centro e a cuidar de si próprio?

Exatamente. O livro é uma viagem para dentro e, às vezes, essa é a nossa viagem mais longa. Curiosamente, quase todos a tememos. Por isso, temos de a fazer de uma forma gentil e cuidadosa e com muita autocompaixão.

Mas de forma gentil para os outros ou para connosco?

Se estivermos a ser gentis connosco, isso acaba por se refletir na nossa vida em geral.

No livro, fala muito de coração e mente, para si são uma só coisa?

Um não funciona sem o outro, mas daria muito mais primazia ao coração do que é normal na nossa sociedade, embora também precisemos da mente. Temos é de ter um distanciamento maior em relação aos pensamentos e aos julgamentos habituais que fazemos, daí dizer que devemos ouvir muito mais o coração.

Deixar que as emoções falem mais alto?

Também. O coração sussurra e a mente grita, logo para ouvirmos o primeiro temos de fazer mais pausas na vida, mas não o fazemos. Deixámos de fazer as pausas que antes fazíamos. Agora, estamos sempre a receber informação.

O excesso de informação eliminou essas pausas?

Exato. O que é que fazíamos antes quando estávamos numa fila nas finanças ou num supermercado ou à espera de um autocarro? Contemplávamos e não fazíamos nada. Agora, pegamos no telefone e não desligamos. Corremos atrás de informação que, talvez, nem nos sirva para nada.

No livro, também difere intenção de um simples objetivo. Qual é a grande diferença?

Um objetivo tem de ter sempre um início e um fim e tem de ser mensurável, enquanto a intenção tem muito a ver com o caminho que quero seguir e dentro dessa intenção posso ter vários objetivos. No fundo, a intenção é superior ao objetivo, este depende daquela.

E se tivermos a intenção e não a concretizamos?

A intenção não pode não ser concretizada porque é o caminho que escolhemos fazer.

Veja na página seguinte: O imperativo de nos aceitarmos enquanto seres imperfeitos que somos

Para se conseguir ser heartful é necessário ter uma autoestima à prova de fogo?

Uma das doenças da nossa sociedade é a falta de autoestima e de amor-próprio. E a autoestima está no centro da mandala da vida rodeada pelas intenções, mente, vulnerabilidade, autocompaixão, autocuidado e limites pessoais. Muitas vezes, esquecemo-nos destes últimos quando começamos nestas práticas mais esotéricas ou espirituais. Começamos a falar de aceitação e omitimos os nossos limites e é necessário saber comunicá-los.

Mas autocompaixão e autoestima são duas coisas distintas?

Através da prática da autocompaixão, podemos aumentar a autoestima. Esta é como se fosse o núcleo, aquilo que somos e sentimos. Já a autocompaixão é uma ferramenta é algo que eu posso fazer para tornar a minha autoestima mais saudável.

Autocompaixão não tem, então, nada a ver com termos pena de nós próprios?

Não de maneira nenhuma. É mais fácil ter compaixão pelos outros do que autocompaixão.

E qual é a importância da vulnerabilidade?

Independentemente do que fazemos e do que nos acontece na vida, a vulnerabilidade conecta-nos com outras pessoas, não precisamos de fazer de conta que somos perfeitos.

Porque a perfeição não existe?

Sim e devemos perceber que somos perfeitos na nossa imperfeição, tal como toda a gente, e que isso faz de nós humanos e verdadeiros.

Dizer não é sinal dessa tal imperfeição, mas é difícil dizê-lo. Como o fazer sem remorsos?

Em primeiro lugar, temos de conhecer os nossos limites, pois são estes que nos fazem dizer não. Depois, temos de procurar dentro de nós porque é tão difícil dizer não. Frequentemente, é porque temos medo de sermos punidos e de não sermos amados, mas podemos dizer não sem julgar ou culpar outro de nada.

Um não ao outro é um sim a nós próprios. Não tenho nenhuma fórmula mágica para ensinar a dizer não, mas é importante treinar o nosso músculo do não para o dizermos quando faz realmente sentido e praticar isso em muitas áreas da nossa vida.

Que conselhos dá aos nossos leitores para serem mais heartful?

Primeiro, fazer agora aquilo que estão sempre a planear para depois. Segundo, assegurar que faz mais pausas na sua vida. Terceiro, estarem dispostos a experimentar e a fazer diferente.

Texto: Rita Caetano