Improvável. É mesmo a palavra ideal para caracterizar a amizade entre um tetraplégico rico e um ex-presidiário que gosta de viver de subsídios do Estado. Se não conhece o filme, essa é a premissa de «Amigos Improváveis», de 2011, uma das comédias dramáticas que mais sucesso teve nos últimos anos. Sobretudo, porque é baseada numa história verídica a que também ajudaram as brilhantes prestações dos atores que interpretam os papéis principais, François Cluzet como o tetraplégico rico Philippe e Omar Sy, o ex-presidiário.

Contado assim até parece mentira, mas o cinema tem o poder de nos transportar para um mundo que não é o nosso, de nos colocar na pele de vítimas e de vilões. Por isso, se ainda não viu este filme, que representa perfeitamente o poder e impacto que a empatia tem na nossa vida, recomendamos que o veja… logo a seguir a ler este artigo! Entretanto, aproveite para saber como aumentar os seus níveis de empatia.

Conviver em sociedade

Alguma vez imaginou como se sentiria se estivesse na pele de outra pessoa, a sentir o que ela sente, a pensar o que ela pensa? Isso é mais do que compreensão. É empatia! «A empatia é um conceito frequentemente tido como sinónimo de simpatia, o que não é verdade», explica Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica na Oficina de Psicologia.

«Empatia é a capacidade de percecionar o mundo como outra pessoa, de partilhar e compreender os sentimentos, necessidades e preocupações de outro como se estivesse na mesma situação», acrescenta ainda. A empatia tem duas dimensões. A cognitiva e a emocional.

Teresa Limpo, investigadora no Laboratório de Fala na Universidade do Porto, descreve que, enquanto a componente cognitiva «envolve a capacidade de percebermos o que a outra pessoa está a sentir», a componente emocional já requer que o indivíduo consiga «sentir o que o outro está a sentir». Por isso mesmo, esta competência é essencial para os indivíduos se relacionarem entre si e se integrarem na sociedade.

Relações mais satisfatórias

A empatia traz inúmeros benefícios para a nossa vida, nos mais variados domínios. Mas, especialmente, na esfera pessoal. De acordo com Filipa Jardim da Silva, a empatia promove relações pessoais pautadas «por maior tolerância e aceitação». E Teresa Limpo oferece dois exemplos de como ter níveis elevados de empatia pode ser vantajoso para a nossa família.

«Se o meu filho caiu, é importante que eu entenda o que está a sentir para poder confortá-lo», afirma. «Nos relacionamentos entre casais, é importantíssimo colocarmo-nos nos pés do outro, termos a perspetiva do outro para resolver conflitos», acrescenta ainda.

Veja na página seguinte: As vantagens da empatia a nível profissional

Vantagens a nível profissional

Ter empatia no local de trabalho também é importante. Teresa Limpo diz que «os bons líderes demonstram que é importante termos inteligência emocional e uma componente da inteligência emocional é a empatia». É igualmente importante saber lidar com os nossos colegas. Para isso devemos conseguir interpretar corretamente as emoções de quem trabalha connosco, de modo a evitarmos ofender ou magoar alguém.

Mark Rosenberg, psicoterapeuta norte-americano e autor do livro «Comunicação não violenta», provou que a resolução de um conflito é 50% mais rápida se ambas as partes concordarem em repetir o que o outro lado disse, antes de começarem a refutar. Veja também a galeria de imagens que lhe indica oito hábitos (alguns deles inesperados) que o vão tornar mais produtivo.

Elas são mais empáticas

Há um género que não precisa de se esforçar tanto para ser mais empático. Teresa Limpo declara que «as mulheres apresentam níveis de empatia superiores aos homens». A especialista em neuropsicologia aponta duas explicações possíveis para esta tendência. Uma cultural, outra biológica.

Por um lado, «espera-se que as mulheres tenham um comportamento mais empático» (vulnerabilidade social). Por outro, «alguns estudos mostram diferenças de ativação neuronal e também há quem sugira que níveis elevados de testosterona estão associados a níveis baixos de empatia».

Neurociência social

A boa notícia é que o ser humano está naturalmente codificado para ser empático. «O nosso circuito cerebral faz-nos criar empatia e liga-nos ao próximo, automaticamente», frisou Daniel Goleman, psicólogo norte-americano e autor dos livros «Emotional Intelligence e Social Intelligence», numa TED Talk, em 2007. A neurociência social que, resumidamente, analisa a atividade cerebral de duas pessoas que interagem entre si, concluiu que todos temos neurónios-espelho.

Estes são os responsáveis por sermos capazes de sentir o mesmo que outra pessoa (desde emoções a sensações) e de imitar os seus gestos e movimentos. Filipa Jardim da Silva sugere que a empatia pode ser a «causa do comportamento apelidado de altruísta, uma vez que predispõe o indivíduo a descentrar-se e a considerar o outro na sua tomada de decisões».

A revolução necessária

Apesar de a empatia ser uma capacidade inata, não significa que a devamos tomar como garantida. Porém, parece ser esse o caso. Roman Krznaric, filósofo australiano e autor do livro «Empathy: Why It Matters, And How To Get It», alerta para a realidade que, do seu ponto de vista, vivemos atualmente. «Uma overdose de cultura de mercado livre e autoajuda simplista levaram-nos a acreditar que a melhor maneira de termos uma vida boa e atingirmos a felicidade é seguindo os nossos limitados interesses e desejos pessoais», refere.

Consequentemente, nas últimas décadas os níveis de empatia entraram em declínio, assegura Krznaric. O psicólogo norte-americano Daniel Goleman concorda com a visão do filósofo australiano, e acrescenta que «se estivermos preocupados, como estamos frequentemente durante o dia, não damos realmente conta dos outros», afirma.

«E esta diferença entre o foco em si próprio e no outro pode ser muito subtil», acrescenta também. Neste sentido, Roman Krznaric defende uma mudança de paradigma. «Acredito que a empatia pode criar uma revolução de relacionamentos humanos», confidencia o especialista.

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O que fazer para praticar a empatia

No fundo, todos nascemos com a matéria-prima, precisamos é de trabalhá-la. E, para alterarmos o cenário acima descrito por Roman Krznaric e Daniel Goleman, a empatia deve ser estimulada desde  o berço. «As crianças devem ser orientadas para entender o outro, incentivadas a exporem os seus sentimentos, e os pais devem fazer um esforço para perceberem os seus filhos», recomenda Teresa Limpo, investigadora no Laboratório de Fala na Universidade do Porto.

Só assim, reproduzindo comportamentos empáticos, serão adultos com níveis altos de empatia. Mas Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica na Oficina de Psicologia, garante que estamos no bom caminho. «A maior sensibilização para o desenvolvimento da inteligência emocional, ainda em contexto escolar, tem permitido o reconhecimento da empatia como uma competência fundamental para o bem-estar psicológico», diz.

Texto: Filipa Basílio da Silva