Todas as emoções negativas que tentamos evitar regressam a nós em dose reforçada. A desilusão deve ser vivida no momento em que surge, deve ser entendida e, de seguida, largada. Uma deceção que não é ultrapassada transforma-se em ressentimento e dor permanentes e obriga-nos a vivermos prisioneiros de quem nos desapontou, impedindo-nos de encontrar alternativas para lidar com as situações futuras.

Em muitos casos, impedem-nos mesmo de vermos aquilo que nos acontece como uma oportunidade de melhoria e de construção pessoal, de um eu mais consciente das suas capacidades e das suas possibilidades infinitas de ser feliz. O tempo para a desilusão é o tempo que cada pessoa precisa para trabalhar em si o que a originou e para se apaziguar com os resultados da ação dos outros ou das circunstâncias.

Partilhe as suas frustrações

Os sentimentos de desilusão devem ser partilhados. Não fazê-lo adensa a situação e coloca-nos no território dos devias, através de pensamentos e afirmações como "Eu devia era ter feito isto ou aquilo", ao invés de outras declarações como "Eu posso" e "Eu consigo". Esconder o desapontamento é remoê-lo para dentro, tentar encontrar justificações e, atrás destas, os culpados.

É focarmo-nos no problema e não nas soluções. Devemos partilhar a desilusão usando estratégias de comunicação assertivas ao invés de formas de comunicação acusadoras e agressivas, manipuladoras ou sarcásticas. Devemos dizer com honestidade frases como "Sinto-me desapontado contigo. Perante o que disseste ou fizeste, eu concluí que… e, afinal acabei por perceber que não é assim que tu sentes/vês as coisas e/ou a situação".

De seguida, devemos dar ao outro a oportunidade de reformular a sua posição, perguntando-lhe diretamente "É assim?". "Não esconda o que sente", aconselha ainda Teresa Marta, mental coach e fundadora da Academia da Coragem. "Aceite a sua dor, pois, perante uma desilusão, ela é natural. O que não deve é ficar agarrada a ela transportando-a consigo para situações futuras", diz.

Como ultrapassar uma deceção

Tenha espírito crítico e use o distanciamento, colocando as coisas em perspetiva. Pergunte por exemplo «Que importância isto terá daqui a um mês ou um ano?», uma pergunta essencial para relatizar o dia a dia. Pergunte-se ainda «Qual a capacidade do que aconteceu arruinar a minha vida? É assim tão grave que me faça perder a esperança de conseguir dar a volta por cima?», sugere Teresa Marta.

"Devo subjugar-me e render-me a esta pessoa/situação ao ponto de não me apetecer acordar? Merece a pena?", acrescenta ainda a especialista. Escolher um amigo pouco emotivo e mais racional com quem falar acerca do motivo da desilusão é outra das estratégias que Teresa Marta preconiza.

"Goste mais de si e não se permita sofrer por muito tempo", sugere. Um pensamento materializado em frases e afirmações como "O sofrimento é inútil, sobretudo por quem não merece ou por situações que não podemos mudar", sublinha. Para além disso, saia e conviva. Todo o tempo que passar sozinha será para remexer mais um bocadinho na situação e sentir-se mais miserável.

Também não se culpe. "Pior que ser desiludido pelos outros e pelas situações é acharmos que a culpa é nossa. O mais provável é que não haja muito que pudesse ter feito para alterar as circunstâncias. Aceite isso e siga em frente", diz. Respeite também o tempo dos processos. Claro que uma desilusão grave não se ultrapassa de imediato. Mas após perceber porque aconteceu, deve deixá-la ir e seguir em frente.

Nós e os outros

Há três coisas acerca dos outros que tem de saber já para melhor gerir as suas expetativas:

1. Os outros nem sempre cumprem aquilo que prometem.

2. Os outros veem o mundo através do seu sistema de crenças, que pode ser diferente do nosso.

3. Em grande parte das vezes, os outros não dão às coisas a mesma importância que nós.

Quando somos uma desilusão

Por vezes, também sucede. Para o evitar, cumpra sempre o que promete, seja honesto nas suas relações e tente colocar-se no lugar do outro. Se, mesmo assim, desiludir alguém, são oito os comportamentos que, segundo Teresa Marta, consultora de bem-estar, pode adotar na tentativa de remediar a situação.

1. Fale com abertura e honestidade acerca do que sente e explique que não foi intencional.

2. Peça que a ajudem a clarificar como desejariam que fosse a situação ideal. Aceite-se e aceite o que aconteceu.

3. Não obrigue a pessoa a ter os mesmos ritmos que os seus. Talvez ela precise de mais tempo para integrar a desilusão. Não pressione respostas nem exija que as coisas melhorem de um dia para o outro.

4. Perceba exatamente quais os limites da outra pessoa e não os force. Se entender que o que o outro precisa para ser feliz está em desacordo com aquilo que precisa, fale sobre isso com abertura e, se necessário, afaste-se.

5. Perdoe-se e elimine a culpa. Todos nós erramos. A questão não está no erro; está na incapacidade para o aceitar e para o transformar.

6. Esteja aberto a novas oportunidades de entendimento. Talvez o outro tenha de facto algo importante para lhe ensinar, talvez a desilusão tenha sido necessária para iniciar algo melhor.

7. Aceite os seus erros. Se nunca cair, nunca aprenderá a levantar-se.

8. Reconheça o seu valor pessoal e não faça da desilusão algo impossível de ultrapassar.

Texto: Vanda Oliveira com Teresa Marta (mental coach e fundadora da Academia da Coragem)