Há quem (ainda) tenha a ideia de que no estrangeiro é que se encontra a cura para (quase) todas as doenças. Mas será mesmo assim? Que tratamentos existem no estrangeiro para tratar a psoríase? Será que vale a pena fazer a viagem? E, em Portugal, que soluções existem e qual a sua eficácia? Com a bagagem cheia de perguntas, partimos para a conversa com o dermatologista Fernando Guerra, que nos deu a sua opinião especializada sobre as vantagens e desvantagens de tratar a psoríase em Portugal ou num país estrangeiro.
Os famosos peixes da Turquia
É conhecido em todo o mundo o tratamento para a psoríase, uma doença crónica da pele, realizado nas Termas de Kandal, na Turquia, com recurso a pequenos peixes (garra-rufa) que comem as escamas da pele. Também o Mar Morto foi procurado durante anos, por muitas pessoas, com o mesmo objetivo. Trata-se de «um mar elevado, o que significa que tem menos filtragem de atmosfera, havendo por isso mais raios UVB, maior densidade de sal e reflexo», conta Fernando Guerra, dermatologista.
Já em Cuba, são famosos os tratamentos feitos à base de melagenina, um estrato hidroalcoólico de placenta humana, seguido da aplicação de infravermelhos. «Começaram por ser usados em casos de vitiligo e depois estenderam-se ao tratamento de eczemas e psoríase», esclarece o especialista. Em Portugal, o enxofre das águas sulfurosas das termas promove a melhoria de algumas doenças de pele, entre elas a psoríase.
Vale a pena procurar uma solução no estrangeiro?
Na opinião do dermatologista, apesar da muita publicidade, o tratamento realizado na Turquia não é benéfico. «Ao arrancar as escamas, a pele é agredida, podendo vir a formar-se nessa zona uma nova lesão», adverte. «Há descamação mas, por baixo, ficam as lesões. Por isso, não cura a doença», avisa ainda.
Quanto aos tratamentos realizados em Cuba, «são raras as situações em que dão resultado», alerta. «Se as pessoas quiserem voltar a comprar a substância são obrigadas a regressar a Cuba. Do Mar Morto fala-se pouco atualmente devido aos frequentes conflitos, mas as suas propriedades ajudam a melhorar a psoríase», acredita o dermatologista.
Listas de espera
Segundo João Carlos Cunha, ex-presidente da PSO Portugal, Associação Portuguesa da Psoríase, «os tratamentos disponíveis, na esmagadora maioria dos hospitais, passam pelos biológicos e realizados com raios UVA». Sobre os tratamentos biológicos, João Carlos Cunha refere que «dada a sua relativa inovação e consequente falta de experiência de alguns clínicos, há alguns casos em que dermatologistas não os incluem no leque de tratamentos disponíveis».
Apesar de não possuir dados sobre o tempo de espera para os tratamentos desta patologia nos hospitais públicos na altura em que foi entrevistado, João Carlos Cunha não deixa de comentar. «Pelos relatos que temos, sabemos que o tempo de espera para as consultas de dermatologia, na esmagadora maioria dos hospitais, não ultrapassa os 30 dias. É de assinalar o facto de alguns hospitais já terem, dentro da especialidade de dermatologia, uma consulta específica da psoríase», refere ainda.
Veja na página seguinte: 3 estratégias anti-psoríase
3 estratégias anti-psoríase:
- Sol
É um dos grandes aliados no tratamento porque os ultravioletas, na sua maioria, melhoram a psoríase.
- Fototerapia artificial (não solário)
Tratamento realizado no inverno que consiste na aplicação de raios ultravioletas sob controlo médico, «sejam eles A, com associação de psoralenos (drogas que, quando tomadas, absorvem os raios UVA e ajudam a fixá-los na pele) sejam eles B, numa onda estreita apenas de 311 ou 312 nanómetros (o intervalo dos UVB é de 290 a 320)», refere Fernando Guerra. Cada sessão destes tratamentos custa, em média, entre 20 e 30 euros.
- Tratamentos biológicos
Segundo Fernando Guerra, «interrompem a cascata de acontecimentos que levam à psoríase, através de injeções semanais ou perfusão (gota a gota) mensal, dependendo do medicamento em causa, durante um determinado período de tempo». «Como efeito, limpam a psoríase durante alguns meses», refere o especialista.
Texto: Mariana Correia de Barros com Fernando Guerra (médico dermatologista) e João Carlos Cunha (ex-presidente da PSO Portugal, Associação Portuguesa da Psoríase)
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