Mais do que uma questão de estética, uma barriga inchada é sinónimo de desconforto.
E, ao contrário do que talvez possa pensar, não é provocada pela retenção de líquidos. Neste caso, são o excesso de peso, a acumulação de gases e problemas digestivos que influenciam o mal-estar abdominal podendo, em certos casos, denunciar a presença de doenças. Aprenda a identificá-las, a preveni-las e a combatê-las.
A boa notícia é que, quando surge de forma esporádica, é uma condição tratável.
Obstipação
Muitas vezes apelidada de forma popular como prisão de ventre. Consiste na dificuldade em evacuar regularmente ou pela diminuição do volume e peso das fezes, resultando no aumento da produção de gases e no mau funcionamento do trânsito intestinal. As causas variam de acordo com o sexo, estilo de vida, profissão e hábitos alimentares, podendo ser agravada pela gravidez, ciclo menstrual, stresse e dieta pobre em fibra.
Pode resultar do facto de ignorar repetidamente a vontade de ir à casa de banho. Para prevenir e contrariar este problema, deve consumir alimentos ricos em fibra, como pão integral, frutos secos e vegetais de folha verde. Deve ainda beber seis a oito copos de água por dia e praticar 30 minutos de exercício físico diário, evitando fazer abdominais, que aumentam a pressão na barriga.
Usar laxantes e outros métodos que facilitem a dejeção sem aconselhamento médico é totalmente desaconselhado. Vá ao médico se houver agravamento e persistência dos sintomas, como por exemplo se for menos de três vezes por semana à casa de banho, se tiver dor abdominal intensa e persistente ou sangue nas fezes.
Refluxo gastroesofágico
Ocorre quando os conteúdos do estômago (comida e ácido clorídrico) fluem na direção contrária à da digestão (de baixo para cima), podendo ou não chegar à boca sob a forma de vómito ou regurgitação. Ocorre com maior frequência após as refeições. A barriga inchada é um sintoma pouco frequente.
Aquilo que predomina é a pirose ou azia, sensação de queimadura retroesternal, desconforto torácico, dor ou dificuldade em deglutir os alimentos e, nos casos mais graves, tosse, rouquidão e falta de ar. Após as refeições, evite atividades que aumentem a pressão abdominal. Evite alimentos ácidos, fritos ou ricos em gordura.
Não fume e não consuma bebidas alcoólicas, café e refrigerantes. Vá ao médico se os episódios de refluxo surgirem mais do que duas vezes por semana, alterando a sua qualidade de vida e não apresentarem melhorias com a toma de antiácidos. Pode estar em causa a Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE) que, na maioria dos casos, é controlável com terapêutica médica.
Doença celíaca
Doença autoimune, de causa desconhecida, caracterizada por uma intolerância ao glúten. Este, quando ingerido, provoca lesões no intestino delgado, impedindo a absorção dos nutrientes para a corrente sanguínea. Podem existir manifestações ao nível do sistema digestivo ou de outros órgãos e sistemas.
Os mais comuns são dor, alteração do trânsito intestinal, diarreia, anemia e fadiga. A adoção permanente de uma alimentação sem glúten é a única terapêutica eficaz, já que os sintomas podem surgir mesmo com a ingestão de quantidades mínimas desta proteína presente no trigo, na cevada e no centeio.
Todos os alimentos em que o rótulo anuncia a presença de glúten estão proibidos. A lista inclui farinhas e amidos, pão, massa, cereais e seus derivados, chocolate em pó, fruta em calda, iogurtes com cereais. Vá ao médico e procure ajuda especializada caso identifique os sintomas acima indicados, procure o seu médico de família.
Gases intestinais
Muitos alimentos contêm substâncias que não são digeridas nem absorvidas e atingem o intestino grosso, formando gases. São produzidos após a metabolização dos hidratos de carbono, gorduras e proteínas e eliminados pelo ânus, causando flatulência.
Dor abdominal e sensação de enfartamento são outros sintomas, para além de barriga inchada, que podem manifestar-se. O stresse e a ansiedade podem agravar os sintomas. A sua alimentação é determinante no alívio ou persistência dos sintomas. Identifique os alimentos que potenciam o desconforto abdominal, as digestões difíceis e a sensação de enfartamento e elimine-os ou reduza o seu consumo.
Os seus piores inimigos são feijão, grão, repolho, couve-de-bruxelas, brócolos, espargos, ervilhas, fruta, produtos dietéticos sem açúcar, cereais, leite e derivados, refrigerantes e pastilhas elásticas. Vá ao médico se sentir dor abdominal ou dificuldade em ir à casa de banho persistente e associada à alteração dos seus hábitos intestinais.
Síndrome do intestino irritável
No passado conhecida como colite nervosa, é uma doença multifactorial de natureza funcional e que se deve ao facto de o intestino reagir de forma mais brusca a estímulos habituais, como a alimentação e o stresse. Em resultado, promove o atraso ou aceleração do movimento intestinal e alterações na frequência, forma ou consistência das fezes e alteração nas sensações provenientes do tubo digestivo.
Motiva sintomas digestivos crónicos ou recorrentes (dor abdominal, obstipação, diarreia, gases). Para a combater e para se defender, controle o stresse e a ansiedade. Durma também pelo menos sete horas por noite e pratique exercício físico regular. Evite alimentos que estimulem o intestino, como café, chá, refrigerantes e leite.
Faça refeições ligeiras, que privilegiem alimentos ricos em fibra. Vá ao médico se os sintomas se manifestarem, pelo menos, três dias por mês durante três meses. Se tiver falta de apetite, perda de peso e agravamento progressivo dos sintomas, procure também uma opinião médica.
Intolerância à lactose
O leite dilata a barriga? A intolerância ao açúcar do leite (lactose) ocorre quando o organismo não produz a enzima lactase em quantidade suficiente. Para além de barriga inchada, este problema envolve desconforto abdominal, dor, diarreia, náuseas, flatulência e inchaço abdominal.
Se sofre de deste problema (diagnosticável através de um teste respiratório), não deve eliminar totalmente os produtos lácteos da sua alimentação. Para não ter de abdicar dos benefícios do cálcio, opte por lacticínios sem lactose.
Tenha em conta que bolos, cereais, chocolate, gelados, salsichas e batatas fritas também contêm lactose. Aconselhe-se com o seu médico Sobre a toma de suplementos enzimáticos de lactase. Estes, quando ingeridos em simultâneo com os produtos lácteos, facilitam a digestão do açúcar do leite.
Sinais de alarme
Vá ao médico no caso da manifestação dos sintomas descritos abaixo:
- Dor abdominal, mantida ou com agravamento progressivo
- Perda de peso brusca
- Desejo urgente de ir à casa de banho
- Diarreia crónica
- Obstipação de agravamento progressivo
- Sangue nas fezes
- Náuseas, vómitos e intolerância alimentar
Nos casos mais graves, a barriga inchada associada a estes sintomas pode indicar a presença de doenças como a colite ulcerosa, cancro do cólon ou doença celíaca.
Texto: Nelma Viana com Jorge Canena (médico gastrenterologista e professor da Faculdade de Ciência Médicas de Lisboa)
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