A prevalência da síndrome metabólica (SM ) está a aumentar em toda a Europa, em grande parte, devido à obesidade que se relaciona directamente com a perda de estilos de vida saudáveis. Portugal não só não é excepção como regista um aumento acima da média.
A elevada prevalência na população portuguesa da SM, uma condição associada à hipertensão arterial, à diabetes e à obesidade, justifica a preocupação e o empenho de todos os profissionais de saúde e da sociedade em geral no combate a estas «epidemias» modernas.
«Qualquer estratégia de intervenção deverá ter uma componente preventiva e uma componente de detecção e tratamento dos indivíduos em risco», sublinha Luís Raposo, coordenador do estudo PORMETS (Portuguese Metabolic Syndrome Study) do Grupo de Estudo da Insulino-Resistência (GEIR ).
O que é a SM?
É difícil definir a SM, uma vez que esta condição está muito ligada aos critérios de diagnóstico. «É um conjunto de alterações metabólicas relacionadas com a obesidade central, a hipertensão arterial, o colesterol, entre outros», esclarece José Camolas, nutricionista no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Normalmente, a maioria das alterações metabólicas não têm sintomatologia associada. «A SM existe quando as mesmas afectam um indivíduo e aumentam o risco de desenvolver patologia cardiovascular ou diabetes», indica José Camolas.
Quem afecta?
O exemplo paradigmático de um paciente com SM é um homem de meia-idade que de manhã sai de casa sem tomar um pequeno-almoço saudável, durante o dia trabalha intensivamente (com stress), sem fazer intervalos para pequenas refeições a meio da manhã ou da tarde (come no máximo duas ou três refeições por dia), almoça rapidamente uma refeição rápida, chega tarde a casa, janta uma refeição pesada, senta-se no sofá a ver televisão e adormece rapidamente, passando a maior parte do dia sentado, sem fazer exercício físico.
A SM é particularmente comum nas pessoas com apneia do sono e em fumadores. Pode ainda ser causada por certos medicamentos, como por exemplo, antidepressivos.
A população mais idosa apresenta um maior risco de SM devido sobretudo ao «excesso de peso e à vida sedentária, assim como a presença de valores tensionais elevados e de glicemia em jejum elevada», esclarece Luís Raposo. No nosso país, a SM é mais comum antes dos 50 anos de idade nos homens e, depois desta idade, nas mulheres.
Quais as causas?
Sendo a SM uma condição que envolve diversas alterações metabólicas, as suas causas estão directamente relacionadas com essas mesmas alterações.
Segundo Luís Raposo, «a elevação da glicose no sangue (glicemia), os valores elevados da pressão arterial, os triglicéridos altos, o HDL (colesterol bom) baixo e a obesidade (em particular, a obesidade abdominal) são os factores de risco mais valorizados na descrição desta síndrome».
E na sua origem estão, basicamente, estilos de vida pouco saudáveis. Entre eles José Camolas destaca, por exemplo, a ingestão excessiva de gorduras. «A gordura alimentar pode ter efeitos potencialmente prejudicais no contexto da SM, nomeadamente as gorduras saturadas e as gorduras trans. A gordura trans aumenta mais o colesterol total e baixa o HDL».
Como se diagnostica?
Para se diagnosticar a SM, deverá fazer uma avaliação da pressão arterial, determinar o perímetro da cintura e realizar análises sanguíneas (à glicose, ao HDL e aos triglicéridos).
«A avaliação regular da pressão arterial e a vigilância do peso corporal, assim como a realização de análises sanguíneas periódicas poderão ser úteis no diagnóstico precoce da SM», indica o especialista.
Basta uma fita métrica, uma medição da pressão arterial e uma análise ao sangue em jejum para quantificar as gorduras e o açúcar. O paciente com SM tem, muitas vezes, obesidade abdominal, ou seja, um corpo em forma de maçã, porque a barriga é volumosa e as pernas são magras.
A SM diagnostica-se na presença de, pelo menos, três dos seguintes cinco critérios:
1. Perímetro abdominal maior que 102 cm nos homens, ou maior que 88 cm nas mulheres (obesidade abdominal).
2. Pressão arterial sistólica igual ou superior a 130 ou pressão arterial diastólica igual ou superior a 85 ou necessidade de tomar medicamentos para controlar a pressão arterial elevada.
3. Nível de triglicéridos (um tipo de gordura) no sangue igual ou superior a 150 mg/dl.
4. Colesterol HDL (o chamado bom colesterol) inferior a 40 mg/dl nos homens ou inferior a 50 mg/dl nas mulheres.
5. Concentração sanguínea de glicose em jejum igual ou superior a 110 mg/dl (excesso de açúcar no sangue).
Como prevenir e tratar
Comece por modificar os estilos de vida, o que implica aumentar a actividade física, controlar o de peso e adoptar uma dieta mais saudável.
- Adopte um modelo de dieta Mediterrânica, isto é, uma alimentação rica em ácidos gordos ómega-3 (peixe) e alimentos ricos em fibras, tais como os cereais integrais, os legumes e hortícolas e os frutos.
- Caminhe moderadamente (comece com 3 km em 30 minutos). Use as escadas em vez do elevador e desloque-se a pé para o trabalho.
- Vigie as crianças. «Os nossos hábitos alimentares começam a ser formados desde muito cedo. As futuras mães devem ter em atenção o que comem durante a gravidez, pois tal atitude vai condicionar o peso com que o bebé nasce. Depois, o aleitamento materno parece ser essencial nos primeiros seis meses de vida», explica João Camolas.
E há que ter também cuidado na diversificação alimentar do bebé: deve começar-se primeiro pela sopa (sem sal) e não com a papa que é mais calórica.
- Reduza o consumo de gorduras saturadas, nomeadamente de enchidos e charcutarias, carnes gordas, lacticínios gordos, fritos e molhos.
- Inclua a sopa. É um excelente alimento para começar a refeição, desde que não seja muito salgada.
Texto: Cláudia Pinto com Luís Raposo (coordenador do grupo de estudo da Insulina Resistência da SPEDM) e José Camolas (nutricionista no Hospital de Santa Maria)
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