O vírus da imunodeficiência humana (VIH) tornou-se, mundialmente, a primeira causa de doença e de morte entre as mulheres em idade fértil.

Apesar dos indivíduos do sexo feminino serem um dos grupos mais vulneráveis para o VIH, existem poucos recursos disponíveis para dar resposta aos desafios específicos que elas enfrentam. Vários recursos estão agora disponíveis para informar e apoiar, através de apoio entre pares, as mulheres com VIH.

SHE, as siglas de Strong, HIV Positive, Empowered Women. Foi este o nome atribuído ao primeiro programa europeu educacional para doentes que responde aos desafios crescentes enfrentados pelas mulheres com VIH, lançado na sexta conferência da Sociedade Internacional de SIDA (IAS 2011), este ano subordinada à patogénese, ao tratamento e à prevenção do VIH, que decorreu em Roma, em Itália.

O programa, apoiado pela  Bristol-Myers Squibb, foi desenvolvido por um conselho consultivo independente de mulheres afetadas pessoalmente pelo VIH e por profissionais de saúde de seis países europeus. O objectivo do programa é o de apoiar as mulheres portadoras de VIH por forma a melhorar a respetiva qualidade de vida, em particular através de um diálogo positivo e efetivo com os profissionais de saúde, ajudando-as a superar os desafios que podem enfrentar, tais como a divulgação da sua condição e a maximização do proveito que podem ter ao nível dos serviços de saúde.

O programa SHE baseia-se num modelo de apoio entre pares. A investigação demonstra que a informação facultada por pares é encarada como particularmente credível, fidedigna e influenciadora. Os pares, que são também formadores, constituem modelos inspiradores para outras mulheres com VIH, beneficiam de igual forma do processo.

O rosto feminino do VIH

Na Europa, tem vindo a aumentar o número de
mulheres com VIH. Em 2008, na Europa, pelo menos 35% dos novos casos
diagnosticados com VIH, eram mulheres.

Apesar da melhoria no tratamento a
longo-prazo e no prognóstico, o vírus permanece complexo, impondo
desafios únicos às mulheres.

Contudo, os serviços disponíveis
raramente respondem às suas necessidades específicas.

Muitas mulheres
deparam-se com uma lacuna entre o diagnóstico e um sistema de saúde
informado e efetivo. O SHE está concebido para colmatar esta disparidade
e fazer a ponte entre os médicos e as mulheres com VIH, através do site
o site www.shetoshe.org e da disponibilização de recursos, incluindo um
conjunto de ferramentas a ser utilizado no apoio entre pares.

«Como
mulher a viver com VIH, sei que necessitamos de mais do que apenas
cuidados médicos para melhorar a qualidade das nossas vidas», refere
Silvia Petretti, copresidente do conselho consultivo do SHE e uma das
responsáveis pela PositivelyUK. «Enfrentamos diariamente estigmas e
desafios, e o apoio de pares demonstrou  fortalecer-nos, uma vez que só
uma outra mulher a viver com VIH pode compreender verdadeiramente como
esses estigmas afetam as nossas vidas diárias», sublinha.

«À medida que o número de mulheres com VIH na Europa continua a
aumentar, esperamos que o SHE possa ajudar mais mulheres a sentirem-se
encorajadas para lidar e gerir a doença e contribua para eliminar a
lacuna informativa atualmente existente nos recursos disponíveis para
elas», admite. O programa SHE também pretende facilitar a comunicação
entre as mulheres com VIH e os profissionais de saúde que as tratam,
encorajando estes profissionais a facilitar o apoio entre pares nas suas
clínicas.

«Como médica, testemunhei as vantagens que o apoio de
pares pode dar às mulheres, incluindo o aumento de confiança,
tornando-se mais informadas e melhorando a autoestima», sublinha a
copresidente e Prof. Jane Anderson, do Homerton University Hospital, no
Reino Unido. Os benefícios do apoio dos pares também se refletem nos
profissionais de saúde.

O apoio entre pares pode ajudar as
clínicas a uma poupança financeira de recursos e a libertar-nos para
poder acompanhar outros doentes. «Esperamos que futuramente a comunidade
médica reconheça um maior nível de confiança da parte dos doentes, no
momento de falar com eles», refere a mesma responsável.

Capacitar através de competências e da autoconfiança

O conjunto de ferramentas do SHE é um recurso prático e informativo, com
nove secções, que fornecem informação sobre temas e questões cruciais,
tais como o diagnóstico, a divulgação da condição, sexo e
relacionamentos, viver bem com o VIH, retirar o máximo proveito do
tratamento, interacções com profissionais de saúde e questões
relacionadas com direitos humanos. O toolkit vai ser utilizado em
centros comunitários, hospitais e clínicas, enquanto o site SHE vai
expandir a presença online do programa e maximizar o alcance dos
materiais disponibilizados no toolkit.

Uma secção no toolkit está direcionada para profissionais de saúde e
debate o valor do programa SHE e os benefícios em utilizar um modelo de
apoio entre pares em contexto clínico. Em paralelo ao programa educativo
SHE, existe um conselho científico, composto por profissionais de saúde
de toda a Europa, empenhado no desenvolvimento de melhores práticas de
gestão e tratamento de mulheres com VIH.

Adicionalmente, o programa SHE visa ainda envolver os decisores
políticos a avaliar as questões essenciais com que as mulhers que vivem
com VIH se deparam, aumentando assim a consciência e a compreensão da
doença por toda a Europa. Após o seu lançamento no IAS, o programa será
lançado a um nível local na Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido,
Polónia, Portugal e França.