Neste momento, em Portugal, existem muitos projectos implementados em escolas, ao nível da educação alimentar, actividade física, saúde oral, educação sexual, saúde ambiental, ensino especial e segurança rodoviária. E se todos os pais se preocupam com a saúde dos seus filhos, as suas inquietações aumentam quando pensam o que comem e que actividades realizam os mais pequenos durante o dia que passam na escola…

É normal que qualquer pai pretenda conhecer o menu das refeições escolares do seu filho. Afinal, enquanto agente de formação, a escola tem um papel determinante nos exemplos que fornece às crianças que passam muitas horas por dia nesse mesmo local e onde definem muitas das suas actividades diárias.
Segundo Ana Paula Alves, mestre em nutrição clínica e assessora de nutrição dos Agrupamentos de Centros de Saúde do Grande Porto III de Valongo, “na maioria das escolas, actualmente, as refeições são fornecidas por empresas de restauração colectiva que têm obrigatoriamente um nutricionista no controlo e planeamento das ementas”, o que só por si é um factor de tranquilidade para pais e encarregados de educação. No entanto, nem tudo são boas notícias e existem factores limitantes, como sejam “o custo por refeição imposto pelas Câmaras Municipais, as instalações e equipamentos disponíveis nas cozinhas que se encontram muitas vezes desadequadas”.

A pensar nestas e noutras questões foi criada a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Escolar (SPESE) há um ano. Nasceu de um grupo de nutricionistas que sempre fez trabalhos na área da Saúde Escolar e que se reunia uma vez por mês para divulgar projectos e discutir ideias. Foi deste grupo que surgiram os primeiros dois Congressos de Saúde Escolar, realizados em 2008 e 2011, respectivamente, no Fórum de Ermesinde. A SPESE conta com uma equipa multidisciplinar formada por nutricionistas, psicólogos, médicos de saúde pública, fisiologistas do desporto e professores de ensino especial.

Programa ACORDA

É um projecto de intervenção no âmbito comunitário para prevenção e tratamento de crianças e adolescentes com excesso de peso e obesidade. “Tem como objectivo ajudar a criar um ambiente activo para os jovens, que favoreça um estilo de vida mais saudável. Pretendemos assegurar que as crianças sejam submetidas a um aumento da actividade física habitual; desenvolver estratégias para manter uma frequência e participação elevadas e facilitar as actividades quotidianas”, salienta Ana Paula Alves.

O programa baseia-se em actividades físicas que permitam às crianças, com um vasto leque de actividades recreativas e de desenvolvimento de habilidades motoras, aprender experiências que melhorem a sua capacidade física e confiança com o meio desportivo. “Este projecto está disponível, sem encargos, não só para as crianças e adolescentes obesos mas também para os seus pais”, refere a especialista em nutrição clínica. No início e no final de cada ano lectivo, os participantes realizam avaliações que incluem análises de sangue, tensão arterial, composição corporal, níveis de actividade física e ingestão calórica, sem quaisquer encargos adicionais.

Para além de várias aulas temática que se vão realizando ao longo do ano, no mês de Junho, os alunos participam num dia de actividades ao ar livre, com piquenique no parque da cidade do Porto e uma aula de Surf na Escola de Surf do Norte em Matosinhos. 

As sessões irão decorrer em dois locais: na Escola Secundária de Valongo, às 2ªs e 5ªs feiras, entre as 18.30h e as 19.30h, e na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto às 2ªs e 4ªs feiras, entre as 17.30h e as 18.30h.

Obesidade e Síndrome metabólica

“A síndrome metabólica pode ser definida como um aglomerado de anormalidades cardiometabólicas associadas a um elevado risco de mortalidade por doença cardiovascular e desenvolvimento da diabetes mellitus tipo 2”, designa Ceomara Pina, mestranda em nutrição clínica.

A escola desempenha um papel crucial na prevenção e no tratamento da síndrome metabólica infantil, uma vez que é considerado um ambiente privilegiado de educação para a saúde. “Isto porque influenciam um largo número de crianças ao mesmo tempo, atingem as crianças em períodos de vida fundamentais para a aprendizagem de hábitos saudáveis e disseminam o efeito até às famílias através das crianças. Além disso, as crianças passam muito do seu tempo na escola e muitas chegam a fazer duas ou mais refeições na escola, e, por isso, a escola é considerada um aliado de peso na promoção de um estilo de vida saudável que tende a perdurar até a fase adulta”, defende Ceomara Pina. A escola tem o “poder” de promover e aumentar a prática de actividade física e de fornecer uma alimentação com características nutricionais adequadas (controlando as máquinas de vending e as refeições escolares). “Sabe-se que a escola é um importante local para implementar estratégias de prevenção e redução da obesidade infantil”, acrescenta Ceomara Pina.

Tendo em conta que a obesidade é considerada a força por detrás da síndrome metabólica, o seu tratamento é crucial para o combate deste aglomerado de factores de risco cardiovasculares em idade pediátrica. “Temos de ter a noção que a obesidade não pode ser combatida apenas no consultório ou na escola, ela precisa ser combatida em todo o lado, e a família, o governo, os media e a indústria também precisam ser envolvidos nesta luta”, defende a mestranda em nutrição clínica.

A identificação precoce da síndrome metabólica em crianças com obesidade é de extrema importância, “para que as complicações de saúde, como a insulino-resistência, a hipertensão arterial e a intolerância à glicose não permaneçam ocultas. Intervenções em crianças e adolescentes são necessárias e urgentes, tendo em conta a situação actual da prevalência de obesidade infantil”.

Síndrome metabólica em Portugal e na Europa

Em termos de prevalências, existe um estudo publicado em 2008, “com uma amostra de crianças de Portugal, Estónia e Dinamarca que encontrou uma prevalência de 0,2% e 1,2%, em crianças (da população geral) com 10 e 15 anos respectivamente”, explica Ceomara Pina.

Em 2010, foram publicados dois estudos com prevalências de síndrome metabólica em crianças e adolescentes portugueses com excesso de peso e obesidade. “O primeiro em adolescentes dos 10 aos 20 anos, reportando uma prevalência de 15,6% e o segundo em crianças dos 7 aos 9 anos, onde foi observada uma prevalência de 15,8%. Tendo em conta estes resultados, Portugal encontra-se dentro do intervalo encontrado na Europa, no que diz respeito às prevalências de síndrome metabólica em crianças e adolescentes com excesso de peso. Quando comparamos os estudos que usaram a mesma definição de síndrome metabólica aplicada nos estudos portugueses, verificamos que a prevalência em Portugal é semelhante à da vizinha Espanha e inferior à encontrada em países como a Itália e a Alemanha”, conclui a mestranda da nutrição clínica.

Para saber mais, contacte a SPESE

Rua José Joaquim Ribeiro Teles, n.º 323, escritório F
Ermesinde 4445-485 Porto
Site. www.spese.pt
E-mail. geral@spese.pt
GSM. 960 462 398

Texto: Cláudia Pinto

A responsabilidade editorial e científica desta informação é do jornal