E quando uma gravidez não é planeada? E quando a mães não se encontram psicologicamente preparadas para a gravidez? Em parceria com o ConsultaClick.com, a Psicóloga Sofia Soares Pereira explica-nos melhor como encarar este assunto
Na realidade nem todas as mulheres que ficam grávidas planeiam ser mães. Nem todos os filhos foram ou são desejados. Nem todas as mulheres grávidas se sentem belas e felizes com a sua gravidez. Para ir mais além, nem todas as mulheres que planeiam uma gravidez se sentem, de facto, grávidas psicologicamente. Avançando mais um pouco, nem todas as mulheres que ficam grávidas psicologicamente passam os 9 meses como se fossem os melhores meses das suas vidas.
O planeamento de uma gravidez é, de facto, bastante importante para que o casal consiga ir aos poucos interiorizando e amadurecendo o papel que os espera. Muitas vezes este planeamento psicológico da gravidez é inexistente, quer por ocorrência de uma gravidez inesperada, quer pela forma, por vezes leviana, como a decisão sobre a parentalidade ocorre.
Ainda que, atualmente, se fale mais sobre responsabilidades e competências parentais e sobre planeamento da gravidez, é possível fazer mais e melhor. Há muitas mulheres grávidas, que mesmo acompanhadas pelos seus companheiros e pela família, se sentem muito sozinhas e perdidas.
Um dos grandes desafios da maternidade e da paternidade que a maioria das pessoas nem se dá conta dada a sua forma espontânea de surgir, refere-se ao papel de mãe ou de pai após ter sido filha ou filho. O transporte inconsciente que é feito da antiga relação que os pais tiveram enquanto filhos (no que possa ter acontecido de bom ou de mau) para a futura relação pais – bebé é projetado instintivamente para esta nova relação quer por perpetuação de alguns comportamentos quer por oposição total de outros.
Perpetuação de comportamentos que ocorreram no passado e que são alocados na nova relação pais-bebé, havendo assim uma espécie de continuidade inter-geracional. Oposição de comportamentos que os futuros pais consideram (consciente ou inconscientemente) inadequados e por oposição poderá haver um excesso do comportamento no sentido oposto.
Todos estes “fantasmas” associados à parentalidade são (ou podem ser) abordados no acompanhamento psicoterapêutico ao futuro casal garantindo assim um suporte psicológico muito importante nesta fase mais sensível da vida do casal.
Preparar psicologicamente a chegada de um bebé é um processo raro que só se torna visível mais tarde. A futura mãe sabe que está grávida, mas não se sente grávida. Ora, saber e sentir são coisas muito distintas. Os primeiros sinais começam logo no pós-parto. Ao pós-parto associa-se a conhecida depressão pós-parto. Este conceito até é conhecido, o que é desconhecido, ou melhor, encobrido é que a depressão pós-parto afeta a maioria das mulheres sem que estas se dêem conta.
As situações inerente ao parto; a ansiedade de conhecer e de ter o bebé; o cansaço e a “desordem” hormonal na mulher; os olhares ternurentos do companheiro, da família e dos amigos orientados para o bebé (e raras as vezes para a mãe); o choro do bebé; o amamentar; o não saber o que fazer quando o bebé não dorme; entre tantas outras situações… Se o panorama em si já tem as suas particularidades, se associarmos a inexistência de um planeamento psicológico da gravidez, o casal sente-se perdido neste turbilhão de emoções.
É importante que o casal consiga pensar em conjunto uma possível gravidez, reflectir sobre estas questões, falar abertamente sobre as suas dúvidas, receios e medos que na boa verdade todos têm, mas uns encobrem-nas mais que outros. Por estes motivos é que um casal que queira ter filhos, devem sempre que possível, planear a gravidez psicologicamente e depois avançar para a concepção. A maternidade exige do casal disponibilidade e resistência psicológica uma vez que a chegada de um bebé altera o que até essa altura estava instituído no dia-a-dia do casal.
Desta forma, o planeamento psicológico da gravidez não deve ocorrer apenas na mulher, mas no casal. É por este motivo que às vezes se diz que não é apenas a mulher que engravida, mas sim o casal.
Cuide de si, valorize a sua Saúde Mental!
Texto: Sofia Soares Pereira, psicóloga ConsultaClick.Com
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