As parasitoses intestinais constituem um importante problema de saúde pública à escala mundial na população pediátrica, com maior prevalência nos países subdesenvolvidos com condições higiénico-sanitárias precárias.

O elevado número de viajantes para destinos tropicais, assim como, as elevadas taxas de imigração de países subdesenvolvidos constituem um fator predisponente de parasitoses, o que reforça a importância do seu estudo e diagnóstico.

Em Portugal os estudos epidemiológicos das parasitoses intestinais são escassos, no entanto, nas últimas décadas assistimos a uma redução gradual na sua prevalência. O Enterobius vermicularis constituiu a infestação por helmintas mais comum em Portugal e nos países desenvolvidos (ex. EUA).

O homem é o único reservatório natural do Enterobius vermicularis. 

O Enterobius vermicularis, vulgarmente designado por “Oxiúros” é um parasita caracterizado pela sua forma cilíndrica, cor branca e cujo tamanho pode variar de 2.5 a 12 milímetros. 

Sendo mais frequente nas crianças em idade pré-escolar e escolar, dos 5 aos 10 anos, e pouco comum abaixo dos 2 anos de idade.

Ciclo de vida e transmissão

O ciclo de vida deste parasita inicia quando a fêmea deposita os ovos, durante a noite, nas pregas perianais. Os ovos são o meio transmissor da infestação por via fecal-oral (através das mãos, alimentos, ou superfícies contaminadas). Após a ingestão os ovos eclodem no intestino delgado, e as larvas tornam-se parasitas adultos, residindo essencialmente no ceco ou no reto do trato gastrointestinal. A fêmea grávida migra, então, para a pele perianal reiniciando o ciclo. 

A via de transmissão desta parasitose é fecal-oral, através da ingestão de ovos existentes em alimentos ou superfícies contaminadas, ou através da autoinfeção (pela ingestão de ovos presentes nas mãos após contacto com os ovos presentes na região perianal).

A maioria das infeções parasitárias intestinais nas crianças evoluem de forma assintomática ou com sintomas gastrointestinais inespecíficos. Contudo, os casos clínicos graves podem cursar com alterações estato-ponderais e alterações de desenvolvimento cognitivo com potenciais repercussões na idade jovem, pelo que o seu diagnóstico laboratorial é fundamental. 

Sinais e sintomas associados

Os sintomas mais comuns são prurido (comichão) perianal e vulvar, mais frequente à noite, causado pela reação inflamatória associada à presença dos parasitas adultos e ovos depositados na pele da região perianal. Esta condição pode conduzir a dificuldades em dormir.

Outros sintomas menos comuns são dores abdominais, náuseas e vómitos. 

A presença deste parasita na região vaginal pode conduzir a vulvovaginite o que predispõem a infeções urinarias. 

Diagnóstico laboratorial

Suspeitar no caso de crianças em idade escolar com prurido anal.

O diagnóstico laboratorial da enterobiose envolve a execução de diferentes técnicas laboratoriais:

  • Teste de Graham (teste da fita adesiva): aplicar a fita adesiva transparente contra a região perianal ou ânus, de seguida colar a fita numa lâmina de vidro (contactar o laboratório previamente), de forma a ser observada ao microscópio para deteção dos ovos ou parasitas adultos.

Este teste deve ser feito à noite, 2 a 3 horas após a criança adormecer ou de manhã antes do banho de higiene diária.

O ideal são 3 recolhas em dias consecutivos com fita adesiva transparente. Pode ser necessário repetir o teste, após três dias, para aumentar a sensibilidade de diagnóstico. 

  • Avaliação de amostras subungueais para deteção de ovos.

A prevenção da transmissão desta parasitose, para além da medicação, é feita através de uma boa higiene pessoal com lavagem frequente das mãos e roupa individual. Deverá também ser lavada toda a roupa de cama.

Um artigo de Germano de Sousa, Médico Especialista em Patologia Clínica.