Pedir a uma mulher que sofre de cólicas menstruais, fluxos abundantes ou sintomatologia gastro-intestinal associada à sua menstruação, que a receba de braços abertos como uma dádiva d’O Feminino parece despropositado e difícil.
Porém, no extremo oposto, do demasiado fácil, encontramos as soluções imediatas de controlo de sintomas oferecidas pela contracepção hormonal.
Hoje é comum encontrar mulheres que iniciaram a toma de contracetivos hormonais pouco depois de terem menstruado pela primeira vez (quiçá ainda em fase anovulatória) e que assim permanecem durante dez, quinze ou vinte anos.
O que estas mulheres não sabem, e por vezes nem imaginam, é que o ciclo menstrual encerra em si um sistema de biofeedback que nos informa, a cada mês, do tipo de cuidado que necessitamos ter connosco.
E ainda que não nos trouxesse mais nada, a sua natureza cíclica vem lembrar-nos que tudo na vida é isso mesmo, um ciclo: que tudo tem um tempo próprio, um compasso particular – e isso já valeria só por si, num mundo onde o fast-living tomou conta do quotidiano.
Cada uma de nós tem o seu ritmo interno, particular, pessoal. Ao identificá-lo e ao sintonizarmo-nos com ele, podemos dar-nos mais e melhor qualidade de vida, passando a ser autoridade em causa própria: agentes ativos de mudança tomando responsabilidade sobre cada escolha, cada ação e aferindo, avaliando e monitorizando o seu impacto nas nossas vidas, nas suas diversas vertentes.
Ganhar consciência da expressão física e psicológica da dança das hormonas no nosso corpo, permite-nos cooperar com o que internamente vai acontecendo; Identificar “norma e exceção” dá-nos espaço para corrigir desequilíbrios nutricionais, detectar outros de origem hormonal, identificar necessidades emocionais que precisam ser endereçadas e tantas outras pequenas-grandes coisas que podem mudar a nossa vida.
A maioria das mulheres portuguesas sabe quando menstruou a última vez ou quando vai voltar menstruar mas se tiver de se situar em termos de fase de ciclo apresenta dificuldades. Quando o ciclo é apenas algo difuso, um intervalo de tempo entre menstruações ou um conceito sem significado, perdemos a possibilidade de utilizar os recursos que cada uma das quatro fases nos traz: a menstruação, a pré-ovulatória, a ovulação e a pré-menstrual. Cada uma delas com uma assinatura bioquímica e hormonal própria e com impacto distinto também a nível cognitivo, comportamental e físico.
Ganhar consciência do ciclo menstrual é uma primeira viagem ao centro de nós próprias e que nos pode ensinar:
1. a tomar melhor conta de nós identificando necessidades físicas e emocionais através da duração dos ciclos e/ou do fluxo menstrual.
2. que a fertilidade não tem botão ON/OFF conhecer o nosso ciclo é também compreender a nossa fertilidade e a sua expressão física (as alterações no colo do útero, na temperatura, no muco vaginal) e que todas as decisões que tomamos, relativamente ao nosso corpo e à nossa saúde, impactam nos óvulos que trazemos connosco desde o nosso nascimento e que vamos utilizar durante os nossos anos férteis.
3. a ser criativas a encontrar uma expressão pessoal e individual na forma como nos exprimimos e comunicamos com o Outro, utilizando o processo de auto-regeneração para alavancar sonhos, projetos e recursos internos.
4. que a energia sexual tem diferentes expressões durante o ciclo menstrual pois resulta de uma complexa interação entre hormonas, fatores internos e externos, fazendo com que o desejo e o prazer encontrem formas distintas de se manifestar – e que ao reconhecê-las podemos viver a nossa sexualidade de uma forma mais plena.
5. a identificar as áreas que precisam ser trabalhadas, em cada fase na nossa vida porque a mal-amada tensão pré-menstrual traz ao de cima os assuntos que precisam cuidado e atenção: precisamos parar para analisar o que ela nos diz sobre a nossa vida atual e fazer as devidas correções.
6. a dizer “Não”, aceitar que existem situações onde um “não” aos outros significa um “sim” a nós mesmas e que, só por si, esse é um ato de respeito por todos.
7. que todas as estórias de Mulheres são uma mesma História uma vez adoptada uma política de gentileza para connosco, poderemos mais facilmente (re)ver-nos nos olhos e na história da Outra e assim distribuir e retribuir gentileza gerando um ciclo de amor universal
8. a viver o Sagrado em nós a menstruação vivida em pleno traduz-se num amor próprio profundo, na criação de um tempo-templo interno de união corpo-mente e no resgate do nosso centro e da nossa essência: como um doce regresso a casa.
Uma ferramenta de evolução pessoal, um coach interno, uma ligação ancestral à expressão máxima da Natureza. Tudo aí mesmo, dentro de si.
Patrícia Lemos
Hipnoterapeuta e Educadora Menstrual e para a Fertilidade
www.patricia-lemos.com
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