A oclusão dentária não é mais que a forma como os seus dentes se relacionam entre si. Para se obter uma oclusão ideal, é necessário que se estabeleça uma correta relação entre os maxilares e ainda um posicionamento dentário que permita a manutenção de todas as funções orais, como a mastigação, a fonação, a deglutição e a estética.

A má-oclusão dentária pode levar à alteração de uma ou todas estas funções, bem como em alguns casos, à disfunção têmporo-mandibular.

Disfunção têmporo-mandibular, no sentido amplo, é uma afeção resultante do funcionamento anormal da musculatura da mastigação, da articulação têmporo-mandibular (ATM), estruturas associadas ou ambas na região buco-facial ou cervical. Pode provocar dores de cabeça ou pescoço, ruídos articulares (estalidos), zumbidos ou plenitude no ouvido, travamento ao abrir ou fechar a boca, limitação de abertura bucal, desgaste nos dentes e dificuldades na mastigação. Pode modificar características psicossomáticas do indivíduo reduzindo a sua qualidade de vida. No âmbito das patologias relacionadas com a oclusão destaca-se o bruxismo.

O que é o bruxismo?

É um hábito parafuncional, inconsciente e sem objetivo fisiológico para o sistema mastigatório. Existem dois tipos de bruxismo, o diurno e o noturno. O diurno está associado a hábitos repetitivos como roer as unhas, lápis, mascar pastilha elástica, ranger os dentes, má postura e todos os outros fenómenos que ocorrem quando o indivíduo se encontra acordado. O bruxismo nocturno trata-se de um distúrbio do sono em que se verifica não só o ranger dos dentes como também microdespertares, aumentos da frequência respiratória, cardíaca e movimentos corporais.

Qual a percentagem da população afetada?

Os estudos indicam que cerca de 15 a 90% da população já teve episódios de bruxismo. Trata-se de uma patologia muito associada ao stresse, pelo que uma grande parte da população é afetada. No entanto, apenas 5 a 20% têm consciência dessa parafunção.

Acontece só em adultos ou também nas crianças?

Quando somos crianças, rangemos os dentes dentro de padrões que vão ser essenciais à sua normal exfoliação e também para o seu posicionamento nos maxilares. Assim, nesta situação é normal que aconteça, não devendo os pais se preocupar com o ruído, especialmente durante a noite. Quando se trata de adultos deverá ser visto como uma patologia, para que se possa actuar o quanto antes.

Quais os sinais e os sintomas?

Em regra, o bruxismo é diagnosticado numa fase tardia, já que é um hábito inconsciente. Normalmente, o próprio paciente apercebe-se que os seus dentes estão a ficar mais curtos (devido ao desgaste) ou alguém constata o range dos dentes. O médico dentista tem um papel fundamental no processo, já que pode verificar a existência de bruxismo através de facetas de desgaste, sintomas como a tensão muscular ou dores de cabeça do tipo enxaqueca, resultantes da tensão existente.

Qual a causa do bruxismo?

Durante muitos anos, pensou-se que seria apenas um problema resultante de uma desarmonia dentária, onde a natureza tentaria obter um equilíbrio oclusal.

Estudos mais recentes apontam para um problema de causa central, do sistema nervoso central, onde a componente do stresse e da ansiedade têm um papel preponderante, descarregando todo o seu potencial de força nos músculos da mastigação. Há ainda a salientar que o sedentarismo da sociedade atual.

Este contribui para esta situação de stresse, bem como hábitos de ingestão de cafeína e álcool. Os rangidos não se verificam em contínuo, sendo que o ranger dos dentes apresenta um carácter ondulante, com picos de rangidos e fases mais silenciosas.

Rangemos os dentes sempre da mesma maneira?

Não. Na idade adulta podemos ter dois tipos de movimentos, um tipo excêntrico e outro tipo cêntrico (clentching). No primeiro, a componente de ranger é horizontal, verificando-se gradualmente facetas de desgaste. No segundo há um apertamento vertical, associado a tensão estática muscular, verificando-se não tanto nos dentes anteriores, mas essencialmente nos dentes posteriores que começam a exibir desgastes exagerados para a normal função de mastigação. É frequente em qualquer um dos casos verificar-se a hipertrofia dos músculos, devido à sua atividade permanente.

Qual o tratamento?

Há que tornar o bruxismo diurno um problema consciente, pois através de chamadas de atenção é possível educar o cérebro com uma série de manobras que proporcionam o afastamento dentário evitando o seu desgaste. Além disso, é necessário perceber que é um tratamento multidisciplinar onde o desporto, a postura, terapias de relaxamento e os bons hábitos de vida são fundamentais, já que a componente do stresse é uma das chaves desta patologia.

Durante muitos anos, pensou-se que seria apenas um problema dentário e, como tal, o tratamento, historicamente, era realizado visando o equilíbrio oclusal. Atualmente, a confeção de aparelhos de proteção podem evitar o desgaste do esmalte, o que contribui para a longevidade dos dentes. É também importante a educação dos músculos da mastigação, para que não exerçam estes movimentos não funcionais. É também de evitar a ingestão de cafeína e álcool, que por norma exaltam as personalidades mais ansiosas.

O que são os aparelhos de proteção?

São placas de acrílico, onde se dá ao paciente uma relação inter-maxilar ideal através de um ajuste personalizado do aparelho, cujo principal objetivo é evitar o contacto entre os dentes, permitindo que contactem com acrílico. Sendo o acrílico mais macio que o esmalte, o desgaste acaba por ser no primeiro, protegendo assim os dentes do paciente. Estes aparelhos usam-se durante a noite e ao fim de uma semana começa a ser visível o desgaste do aparelho, tendo o paciente consciência de que realmente aperta ou range os dentes!

O que fazer para prevenir o bruxismo?

Não existe uma prevenção propriamente dita, já que não existem testes para predisposição ao bruxismo. No entanto, o desporto, a boa postura, terapias de relaxamento e os bons hábitos de vida são fundamentais, já que a componente do stresse é uma das chaves desta patologia. Tratando-se de uma patologia multi-factorial, todos os pormenores deverão ser tidos em conta.

Quando os dentes estão muitos degradados, o que é que se pode fazer?

Nestas situações, torna-se necessário reabilitar os dentes desgastados, recorrendo a prótese fixa ou mesmo restaurações diretas. O objetivo será o de restabelecer a estrutura dentária perdida com o desgaste e, desta forma, o equilíbrio, a função e a estética.

Texto: Instituto de Implantologia