Mais de 70% das mortes em Portugal, em 2011, foram causadas por doenças crónicas. Em cinco anos, o panorama não se alterou radicalmente. As doenças cardiovasculares, as patologias do sistema respiratório, os cancros e as diabetes surgem no topo da lista da mortalidade nacional dos dias que correm. Mas estes não são os únicos números que preocupam os profissionais do setor:
- 5,4 milhões de portugueses têm uma ou mais doenças crónicas.
- 14% da população tem diabetes. É o número mais elevado da Europa.
- 10% de quebra na taxa de natalidade é o valor registado nos últimos dois anos.
- 15% é a prevalência do consumo de antidepressivos em Portugal, o dobro da UE .
- 10% dos custos em saúde estão ligados à obesidade.
- 37,9% das crianças entre os 6 e os 8 anos tem excesso de peso e 15,3% entre os 6 e os 8 anos é obesa.
- 25% a 40% dos doentes admitidos em hospitais morrem no prazo de um ano.
- 70% do financiamento do ministério da saúde corresponde a impostos.
- 550 euros por ano é quanto pagam, de forma direta, anualmente, os portugueses em despesas de saúde.
- 140 milhões de euros podem ser poupados por ano se se reduzir para metade as atuais taxas de infeções hospitalares.
- 45 milhões de euros poderiam ser poupados por ano, ao fim de cinco anos, se se evitar que 50.000 pessoas desenvolvam a diabetes.
O que deve mudar
Estes são alguns dos passos que podem ajudar a transformar positivamente a qualidade da saúde de cada um e de todos nós:
- Educação para a saúde
Deverá ser criado um novo programa do Governo para a educação e literacia da saúde que nos ensine a mantermo-nos saudáveis e que nos permita participar na tomada de decisões, enquanto doentes, defendem muitos profissionais do setor.
- Dados pessoais
Avançar para a implementação de um registo de saúde eletrónico que nos dê acesso a toda a informação sobre a nossa saúde é outra das ideias que muitos preconizam.
- Acesso a informação credível
Deverá haver uma fonte única de informação, acreditada e acessível a todos os cidadãos, que contenha informações sobre saúde, prevenção de doenças, serviços prestados e respetiva qualidade, defendem os autores do projeto «Health in Portugal: a Challenge for the Future?» que, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, mobilizou um conjunto excecional de personalidades nacionais e estrangeiras
- Representantes dos cidadãos
O Ministério da Saúde deverá nomear não-profissionais para representar a perspetiva dos cidadãos e dos doentes perante os órgãos de gestão das instituições de saúde. Esta tem sido outra das ideias veiculadas pelo movimento.
Veja na página seguinte: O trabalho com a sociedade civil que deve ser feito
- Trabalho conjunto da sociedade civil
As autarquias, as organizações de saúde, as organizações do mercado e os ministérios adequados devem trabalhar em conjunto para encontrar melhores formas de promover, apoiar e envolver no sistema de saúde e de prestações de cuidados as organizações de voluntariado e as redes informais de cuidadores.
- Melhoria contínua da qualidade
Todos, incluindo os cidadãos, devem assegurar que a melhoria da qualidade é adotada em todo o sistema de saúde, de modo a promover e garantir que os progressos científicos e tecnológicos são integrados e implementados. Para alcançar este objetivo, recomenda-se a criação de um organismo de peritagem, defendem os membros do projeto «Health in Portugal: a Challenge for the Future?».
- Colaboração do SNS com a investigação e a indústria
Os dirigentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), da comunidade científica e da indústria devem colaborar para a criação de centros nacionais que, trabalhando em conjunto com os cidadãos, promovam o desenvolvimento de novas práticas, tecnologias e serviços, defendem muitos profissionais do setor.
- Novos modelos para os cuidados de saúde
Devem ser criados serviços de cuidados integrados, especialmente na gestão de doenças crónicas, na disponibilização de mais cuidados domiciliários e de proximidade. Os integrantes do projeto «Health in Portugal: a Challenge for the Future?» insistem ainda na criação de redes de especialidades associadas a centros de referência, cobrindo todas as zonas do país através da tecnologia e de protocolos partilhados.
- Acordo público-privado
Deve ser estabelecido um acordo para a contratação de serviços privados pelo SNS, salvaguardando o interesse público e trazendo novos recursos e potenciais inovações, defendem os especialistas.
- Formação profissional
Os ministérios da educação e da saúde deverão estabelecer um projeto global para a revisão da formação profissional, assegurando que inclui as novas necessidades de parceria com os doentes, de melhoria da qualidade e de reforço da saúde pública. Esta é outra das ideias defendidas por este movimento.
- Promoção do estatuto do enfermeiro
Através da nomeação de um diretor-geral de enfermagem, do reforço do papel destes profissionais nas organizações, do aumento do seu número. Deve também haver um enfermeiro de família, assim como alargar o seu papel a outras áreas, sugere o relatório do projeto «Health in Portugal: a Challenge for the Future?».
- Melhorar a gestão financeira
Adotar uma melhor governação, disponibilizar amplamente a informação de dados estatísticos e reforçar a responsabilização são outras das ideias defendidas.
Veja na página seguinte: Os novos organismos que muitos especialistas gostam de ver a funcionar
Novos organismos
A criação de novas organizações de supervisão e acompanhamento também são defendidas pelos subscritores do documento «Um Futuro Para a Saúde – Todos temos um papel a desempenhar»:
- Conselho Nacional de Saúde
Irá tutelar o pacto para a saúde e definir a visão para o futuro, ter uma perspetiva de conjunto do sistema e funcionar como consultor. Deve representar todos os cidadãos e ser politicamente independente.
- SNS-Evidência
Organismo que conjuga as atuais normas de orientação clínica com novos processos para avaliação de novas tecnologias e terapias.
Texto: Catarina Caldeira Baguinho e Nazaré Tocha
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