Não se atrasa mas não se importa de esperar. Entende a informação que lhe é dada e aplica-a, cumpre a terapêutica e esclarece as suas dúvidas com o médico antes de procurar outras alternativas, marca consultas numa atitude preventiva, é bem formado e tem expectativas realistas.
Além disso, confia no trabalho do profissional de saúde, é cooperante e sabe que, do outro lado, tudo foi feito para que se sinta bem.
Assim é o paciente ideal, segundo os médicos que aceitaram, também, partilhar os (nossos) maus hábitos que mais os incomodam. O motivo é forte. Dentro e fora do consultório, há atitudes e opções dos doentes que podem interferir na qualidade do seu trabalho.
Miguel Trincheiras, dermatologista
- Ignorar a importância da proteção solar
«Em certos casos, por mais que explique aos pacientes que é essencial que se protejam do sol, alguns não querem saber e assumem expor-se de forma desregrada, apesar da minha orientação», refere o dermatologista.
- Recorrer a mezinhas caseiras
«Há pessoas que, por exemplo, se apresentam com queimaduras e problemas de pele agravados porque, em vez de seguirem a medicação que prescrevi, optaram por mezinhas caseiras que prejudicam um problema já existente», explica o especialista.
- Consultar outras pessoas antes de o contactar
«Quanto há, por exemplo, uma reação a determinada medicação prescrita por mim, é importante que me contactem, mas há pessoas que optam antes por falar logo com outro médico ou dão ouvidos a quem não tem formação na área», adianta Miguel Trincheiras.
- Trocar a medicação
«Acontece prescrevermos determinada medicação que é, depois, alterada na farmácia. Este tipo de situação não é aceitável. O farmacêutico não tem formação para o fazer», alerta o especialista.
- Querer abordar numa só consulta muitos problemas
«Há pessoas que na consulta se queixam deinúmeros problemas, trazem listas de queixas sem priorizar ou, então, quando já terminámos de passar a receita, pedem já agora só mais uma coisa», salienta Miguel Trincheiras.
- Recapitular tudo o que foi dito
«Depois de explicar detalhadamente uma ou duas vezes como cumprir a medicação e, apesar de estar tudo escrito, há pessoas que pedem para repetir tudo. É cansativo», queixa-se o especialista em dermatologia.
Manuel Carrageta, cardiologista
- Não se decidir a deixar de fumar
«O caso do doente que fuma e que não quer deixar de o fazer, mesmo perante uma doença grave afetada pelo tabaco, é um dos mais complicados», refere Manuel Carrageta.
«Tenho de ser persistente, realçando, por exemplo, que a sua pele está mais envelhecida devido ao tabaco», acrescenta o cardiologista.
- Não ter a capacidade de síntese
«Disponibilizo o meu contacto aos doentes», começa por dizer.
«Porém, há pessoas que me telefonam, quando estou a dar consultas, e não conseguem ser concisas, acabando por prejudicar a pessoa que estou a atender», explica Manuel Carrageta.
- Substituir a medicação por produtos duvidosos
«Há pacientes que dão demasiada importância a soluções milagrosas que não estão comprovadas e chegam a parar a medicação, sem me consultarem, para as tomarem», alerta o especialista.
Pedro Lobo do Vale, médico de clínica geral
- Não seguir as indicações
«A situação mais caricata ocorre quando os pacientes querem perder peso e, depois de eu fazer uma série de recomendações sobre alimentação e exercício, dizem que não as vão seguir porque, por exemplo, gostam de comer. Perco o meu tempo, o paciente gasta dinheiro e não há qualquer objetivo», adianta o médico de clínica geral.
- Interpretar as situações com exagero
«Fico incomodado com pacientes hipocondríacos que se queixam de tudo. Interpretam com exagero um simples sinal, como herpes, quando sabemos que o organismo não é perfeito e está exposto a fatores que podem gerar essas reações», assume Pedro Lobo do Vale.
- Ser indiciplinado na tomada medicação
«Não seguir as minhas indicações por desleixo ou apenas porque se concordam com o plano terapêutico prescrito não é correto», refere o especialista.
Graça Oliveira, pediatra
- Não cuidar da higiene pessoal
«Agora já não é frequente, mas ocorreu observar crianças com problemas de higiene (ou mesmo os próprios pais). É algo que incomoda e interfere no nosso trabalho», admite a pediatra.
- Questionar o aleitamento materno
«Alguns pais exigem dar leite artificial e biberão, apesar de esclarecer e sublinhar a importância da amamentação», explica Graça Oliveira.
- Recusar a vacinação
«Casos de mães que não querem vacinar as crianças perturbam-me. Apesar de explicarmos que é um perigo para os filhos, para as outras crianças e para a saúde pública, há quem até assine um documento em que afirma que, apesar de estar esclarecido, não o vai fazer», exemplifica a especialista.
Luísa Magalhães Ramos, médica especialista em cirurgia plástica
- Criar expetativas irrealistas
«Alguns pacientes vêm à consulta com fotografi as de figuras públicas e querem ficar iguais. Criam expectativas que podem causar desilusões e que minam, à partida, a qualidade do meu trabalho», conta Luísa Magalhães Ramos.
- Recear o botox
«Há pacientes que rejeitam logo essa alternativa porque acham que dá um aspeto horrível. Não é verdade. O botox, desde que bem aplicado, tem resultados muito bons», elucida a médica especialista em cirurgia plástica.
- Não seguir as indicações no pós-operatório
«Pode interferir na recuperação. Por exemplo, se uma mulher que tenha feito uma mamoplastia, na consulta do
pós-operatório, se apresentar com uma das cicatrizes em boas condições e a outra não (geralmente a do lado direito), percebo logo que não seguiu as minhas indicações», acrescenta a especialista.
O que não deve fazer no consultório do dentista
As atitudes dos pacientes que afetam o trabalho dos especialistas:
- Reconstrutiva total
«Ir muitas vezes à casa de banho, usar o telemóvel ou querer parar para falar ao longo da consulta são hábitos que dificultam o
tratamento», explica o médico dentista Miguel Stanley. «Quando o paciente traz familiares para a sala, o que permitimos de bom grado, e essas pessoas são muito opinativas e desconfiadas, é algo que nos aborrece», acrescenta. «Pacientes que exageram no nível de desconforto que sentem é outra situação complicada», conclui.
- Dentisteria estética
«Os pacientes demasiado descontraídos estão constantemente a mexer no telefone, a enviar sms durante o tratamento, pedem para interromper para atender o telemóvel e mexem-se de minuto a minuto. Por outro lado, os demasiado nervosos estão constantemente a questionar o que se está a fazer, estão ansiosos e essa ansiedade passa para nós», explica a médica dentista Inês Miguel.
- Reabilitação oral integral e cirurgia oral
«Todos conhecemos famosas mezinhas que, muitas vezes, não trazem qualquer benefício e são até contraproducentes. A formação de um bom médico dentista demora anos, com uma forte componente em química e farmacologia, pelo que o doente deve seguir as nossas indicações. O desrespeito por essas indicações poderá trazer efeitos adversos e comprometer o resultado dos tratamentos, especialmente em termos de pós-operatórios cirúrgicos», explica o médico dentista Ricardo Alho.
As perguntas de que os médicos não gostam
- «Qual o meu tipo de pele?»
«Não é possível, nesse instante, saber a resposta. A pessoa pode ter o rosto lavado e a pele parecer seca quando até é oleosa. Saber o tipo de pele resulta da experiência da pessoa no seu dia a dia», conta o dermatologista Miguel Trincheiras.
- «O sabão azul e branco não tem o mesmo efeito?»
«É um dos produtos mais agressivos para a pele», alerta Miguel Trincheiras.
- «Vou ficar curado?»
«A Medicina não é uma ciência exata, os pacientes não são iguais, as doenças não são iguais», justifica o médico de clínica geral Pedro Lobo do Vale.
- «A cirurgia vai ter um resultado natural?»
«Esse é o meu objetivo e o meu trabalho, mas as pessoas têm sempre receio», esclarece a médica especialista em cirurgia plástica Luísa Magalhães Ramos.
Texto: Fabiana Bravo com Graça Oliveira (pediatra), Inês Miguel (médica dentista), Luísa Magalhães Ramos (médica especialista em cirurgia plástica), Manuel Carrageta (cardiologista), Miguel Stanley (médico dentista), Miguel Trincheiras (dermatologista), Pedro Lobo do Vale (médico de clínica geral) e Ricardo Alho (médico dentista)
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