Ele nasce e é o centro das atenções! Os gestos, os sons, as expressões, enfim... tudo nele é novidade. «Será que nos reconhece?», «conseguirá ouvir-nos?» ou «gostará deste sabor?», são algumas das dúvidas dos recém-papás quando confrontados com o ilustre «desconhecido».

É curioso (e fundamental) saber, por exemplo, que o bebé consegue reconhecer a mãe mais rapidamente pelo cheiro e pela voz do que pela imagem. Estes e outros «mistérios» são desvendados, a seguir, com a ajuda de Laurentina Cavadas, pediatra, que lhe conta tudo sobre o desenvolvimento dos sentidos do seu filho, para que cresça feliz e saudável.

De olhos bem abertos

Os recém-nascidos conseguem ver, reagir a mudanças de iluminação e fixar pontos de contraste, apesar de manterem muitas vezes os olhos fechados. De acordo com Laurentina Cavadas, «uma das respostas mais precoces aos estímulos visuais é o reconhecimento da face materna, especialmente durante a amamentação».

A partir do primeiro mês, o bebé consegue fixar objectos a uma distância curta, mas o rosto humano é a sua imagem favorita. «Ele nasce com visão periférica (capacidade de ver para os lados) e, gradualmente, adquire a capacidade de focar um ponto próximo dentro do seu campo visual, gostando de olhar para objectos a cerca de vinte, trinta centímetros de distância», diz a pediatra que acrescenta ainda o facto de, aos dois meses, o bebé ter «uma maior coordenação visual, o que lhe dá também a percepção da profundidade que necessita para seguir os objectos».

Segundo Laurentina Cavadas, «por volta dos três meses, desenvolve a visão à distância e adquire o controlo da mão e do braço, essencial para conseguir tocar nos objectos. A prática deste movimento ajuda-o a desenvolver a coordenação entre as mãos e aquilo que os seus olhos observam».

Estimular a visão

À medida que a visão se desenvolve, o bebé tem tendência para procurar diferentes objectos que estimulem a sua observação e quanto maior for o contraste maior será a captação da sua atenção.

«Com um mês prefere imagens simples ou axadrezadas, já com três meses estará mais interessado em padrões circulares ou espirais», refere Laurentina Cavadas. Aos quatro meses a criança desenvolve a visão das cores e já consegue, por exemplo, olhar fixamente para a televisão.

Visto que tem um maior alcance visual, segundo a pediatra os pais podem ajudar o bebé a praticar esta habilidade movendo «a cabeça lentamente de um lado para o outro à frente dele e movimentando um objecto grande e de cor viva. Outra forma de estimular a visão do bebé é colocar um objecto móvel pendurado no berço ou à sua frente quando está sentado».

A partir dos cinco meses, a criança adora ver-se ao espelho e cansa-se rapidamente de fixar os mesmos objectos. «Para manter o interesse visual do bebé os pais devem ir apresentando novos objectos», aconselha a pediatra que esclarece ainda que o desenvolvimento da visão vai progredindo de forma gradual e constante até atingir a maturação por volta dos três, quatro anos.

A mão que embala

A especialista aponta que «provavelmente o tacto é o sentido mais importante do recém-nascido, sendo fundamental para a comunicação e experiência humanas. Este sentido inicia-se cedo na vida intra-uterina e está completamente funcional ao nascer».

Depois de ter estado durante meses protegido no útero, ao nascer, o bebé fica exposto a uma série de sensações novas. Laurentina Cavadas revela que ele «gosta de sentir uma manta suave e o calor dos braços da mãe quando está ao colo porque lhe dá prazer e, ao mesmo tempo, segurança e conforto.»

O simples gesto de embalar o bebé no colo ajuda a promover um crescimento e desenvolvimento saudáveis. «O bebé é muito sensível à maneira como é manuseado. Com uma peça suave de flanela ou cetim sentir-se-á afagado e acarinhado e tenderá a afastar-se das texturas rugosas ou ásperas», sugere a pediatra.

Segurar o bebé ao colo, embalá-lo ou abraçá-lo fará com que fique mais tranquilo se estiver a chorar ou mais desperto se estiver quase adormecido. «Muito antes de compreender o que lhe é dito, o bebé perceberá o humor e os sentimentos pela maneira como lhe tocam», declara a especialista. 

Ouvidos à escuta

A audição é um sentido apuradíssimo. Há teses que defendem que, ao nascer, o bebé reconhece a voz dos pais. Laurentina Cavadas revela que, «com um mês, o recém-nascido já consegue identificar a voz da mãe, e ouvi-la fá-lo sentir-se seguro, confortável e entretido».

Nesta fase, é muito sensível aos ruídos. Pode assustar-se com sons fortes e desatar a chorar, orientando habitualmente a cabeça e os olhos na direcção de um som próximo mais suave que seja do seu agrado.

Aos dois meses repete alguns sons vocais, especialmente se os pais falarem com ele usando palavras e frases simples e aos quatro meses já balbucia entretendo-se a produzir sons novos.

«A participação dos pais no desenvolvimento da linguagem da criança torna-se mais importante depois dos seis, sete meses, quando o bebé começa a imitar activamente os sons e as palavras. A partir dessa fase devem começar a ensinar palavras simples como “bebé”, “mamã” ou “papá”», aconselha a pediatra.

Fala, fala, fala...

Um bebé de um ano já se manifesta por gestos, apontando para o objecto alvo. Laurentina Cavadas explica que «esta comunicação não verbal é uma atitude temporária, enquanto ele não aprende a traduzir as suas mensagens por palavras».

A pediatra sugere que, nesta fase, os pais atribuam um nome a cada brinquedo e objecto, chamando-os sempre da mesma maneira. Os livros ilustrados podem ser ferramentas extremamente úteis neste processo, porque reforçam a compreensão do bebé.

Quanto à idade em que começam a pronunciar correctamente as palavras, a especialista diz que é muito variável: «Algumas crianças contam com um vocabulário de duas ou três palavras no primeiro aniversário, contudo é mais provável que nesta idade, a linguagem seja ainda pouco clara e desenvolvida.»

Com dois anos parece que o bebé já percebe tudo o que lhe é dito. A pediatra revela que «este salto no desenvolvimento deverá alterar a forma como os pais conversam com a criança. Devem falar lentamente com ele e de forma clara, usando palavras simples e frases curtas. Geralmente, o primeiro vocabulário inclui os nomes dos familiares, dos objectos favoritos e das várias partes do corpo».

Doces sabores

Os gostos alimentares têm uma origem muito precoce na vida da criança. Várias experiências concluíram que, ainda no útero, o feto aprecia o gosto doce do líquido amniótico. «As estruturas para o paladar estão já formadas por volta da décima quarta semana de gestação. Por essa razão, acredita-se que o sentido do paladar se inicia nessa fase», explica Laurentina Cavadas.

Convém lembrar que há bebés que rejeitam temporariamente o leite materno, o que se pode dever ao facto de a mãe ter ingerido alimentos muito temperados ou com sabores intensos como cebola, alho ou especiarias. «O recém-nascido tem um paladar muito apurado e preferências bem definidas. Assim, usando em conjunto o olfacto e o paladar, é capaz de distinguir o leite materno logo nos primeiros dias de vida.

O bebé nasce com o gosto pelas coisas doces, preferindo a água açucarada à simples e franze o nariz aos sabores ácidos e amargos», descreve a pediatra. Da mesma maneira que o bebé prefere determinados padrões de cores e sons, também é particularmente sensível a certos paladares e odores.

Cheira bem!

Também o olfacto se desenvolve muito antes de o bebé nascer. «O nariz cresce entre a décima primeira e décima quinta semanas de gestação.

Muitos compostos químicos atravessam a placenta e juntam-se ao líquido amniótico, oferecendo ao feto diversos sabores e odores. Este líquido banha as cavidades oral, nasal e faríngea, permitindo um acesso directo a receptores de sistemas quimiosensíveis do feto. Por exemplo, a deglutição é maior com sabores doces e menor com sabores amargos ou ácidos», explica a pediatra.

O cheiro do leite, baunilha ou açúcar são apreciados pelo bebé, o que faz com que inspire profundamente quando os sente. Já odores como o do álcool ou vinagre obrigam-no a virar a cara e a torcer o nariz porque não lhe agradam de todo.

«No final da primeira semana, e se estiver a ser alimentado ao peito, o lactente procurará sem dificuldade o odor da sua mãe, porque consegue identificá-lo pelo cheiro do leite», revela Laurentina Cavadas.

Formas de expressão

Conheça os marcos auditivos e da linguagem, nas diferentes fases  de desenvolvimento

Aos três meses

- Sorri ao ouvir a voz da mãe.
- Começa a balbuciar.
- Imita alguns sons.
- Vira a cabeça na direcção dos sons.

Aos sete meses

- Segue os sons próximos.

- Vocaliza sons monossílabos e dissílabos.

- Responde ao nome.

- Dá gargalhadas.

Com um ano

- Reage quando o chamam pelo nome.

- Responde a pedidos simples como «dá cá» e «adeus».

- Vocaliza diversas entoações.

- Usa exclamações como «oh-oh!» ou «ah-ah!».

Com dois anos

- Aponta para o objecto quando se diz o nome.

- Reconhece e diz o nome dos familiares, objectos e partes do corpo.
- Pronuncia palavras simples e frases curtas.

- Executa tarefas simples.

Texto: Sónia Gomes Costa com Laurentina Cavadas (pediatra)