Em Portugal, os estudos mais recentes remetem para uma prevalência de 1,55 casos por 1 000 nados-vivos. A paralisia cerebral ocorre geralmente devido a lesões no cérebro em desenvolvimento, antes, durante ou logo após o nascimento. Algumas das principais causas incluem complicações durante a gravidez (como infeções ou exposição a substâncias tóxicas), dificuldades no parto (como falta de oxigénio), ou ainda prematuridade, baixo peso ao nascer ou infeções neonatais.

O tratamento pode incluir terapia física e ocupacional, cirurgia ortopédica, terapia medicamentosa ou injeções de toxina botulínica, entre outros. Ainda assim, de um modo geral, as terapias atualmente disponíveis não têm permitido alcançar os resultados desejados. Neste contexto, células estaminais de diferentes fontes, mas particularmente do sangue do cordão umbilical, têm vindo a ser testadas para o tratamento de crianças com paralisia cerebral, com múltiplos estudos a indicarem que o sangue do cordão umbilical pode melhorar a função motora destas crianças.

Foi recentemente publicado um artigo de revisão, na prestigiada revista científica Pediatrics, que demonstra que a terapia com células do sangue do cordão umbilical melhora as capacidades motoras de crianças com paralisia cerebral. Este artigo é o resultado de uma colaboração internacional que realizou uma meta-análise de 11 estudos que incluíram mais de 400 crianças com paralisia cerebral.

Sangue do cordão umbilical melhora capacidades motoras de crianças com paralisia cerebral

Os resultados desta análise mostram que o tratamento com sangue do cordão umbilical é seguro e que crianças tratadas com sangue do cordão umbilical conseguem maiores ganhos nas capacidades motoras comparativamente às crianças não tratadas com recurso a esta terapia celular. A análise revelou ainda que as melhorias nas pontuações da função motora atingem o pico entre seis e 12 meses após a terapia, e que existe uma relação dose-resposta com doses mais elevadas de células associadas a maiores melhorias nas capacidades motoras. Além disso, o tratamento com sangue do cordão umbilical foi mais eficaz para crianças com menos de cinco anos e com paralisia cerebral mais ligeira no início do tratamento.

A hipótese proposta para o mecanismo através do qual o sangue do cordão umbilical conduz a estas melhorias em crianças com paralisia cerebral baseia-se na redução da neuroinflamação e na estimulação da reparação cerebral através de efeitos parácrinos desencadeados pelas células infundidas, levando a um aumento da conectividade cerebral.

Dado que a paralisia cerebral pode ser diagnosticada com precisão aos cinco – seis meses de idade, o diagnóstico precoce abre portas para que os tratamentos se iniciem o mais cedo possível. Conhecendo os benefícios do sangue do cordão umbilical, as famílias poderão vir a beneficiar desta terapia durante o período de neuroplasticidade cerebral ideal. Além disso, o tratamento precoce pode facilitar a obtenção de doses celulares mais elevadas, e permitir a opção de múltiplas administrações antes das crianças crescerem para além da janela de eficácia terapêutica. Segundo os autores deste artigo, o sangue do cordão umbilical em conjunto com a reabilitação intensiva pode aumentar a neuroplasticidade e permitir atingir melhores resultados.

Carla Cardoso - Diretora Investigação & Desenvolvimento Crioestaminal

Referências

Finch-Edmondson M, et al., Cord Blood Treatment for Children With Cerebral Palsy: Individual Participant Data Meta-Analysis. Pediatrics, 2025 May 1;155(5):e2024068999. doi: 10.1542/peds.2024-068999.
Cord Blood Proven Effective for Cerebral Palsy (acedido a 29/05/2025)
Sobre a Paralisia Cerebral (acedido a 29/05/2025)
6.º Relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral (acedido a 29/05/2025)

Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.