Por detrás de um médico brilhante está uma grande médica. A coluna que Lisa Sanders, uma reputada especialista em medicina interna, assinava no The New York Times serviu de inspiração a "House", uma das mais populares séries de televisão das últimas décadas. Em entrevista à Prevenir, a professora catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, nos EUA, explica o que faz de um doente um bom doente.
Qual é a importância, para o diagnóstico, da história narrada pelo paciente quando vai ao médico? Muitos não contam tudo ou só realçam o que lhes convém...
A história do paciente é a ferramenta de diagnóstico mais importante que nós temos. A pesquisa mostrou que mais de 80% dos diagnósticos são feitos com base na história do paciente. Não existe nenhum teste que tenha esse grau de eficácia.
Qual é, então, a importância da história do paciente, do exame físico e dos testes clínicos para o diagnóstico?
Segundo estudos que foram sendo feitos, em 80% dos casos, o diagnostico surge após o médico ouvir a história do paciente. O exame físico fornece informação-chave que conduz ao diagnóstico em dez por cento dos casos. Os testes dão a resposta nos restantes 10% dos casos. Portanto, o exame físico é tão importante quanto os mais avançados testes para encontrar o diagnóstico certo.
Dr. House, o médico da série, costumava dizer que "toda a gente mente", referindo-se aos seus pacientes. O que pensa desta opinião?
É claro que os pacientes mentem a "House". Ele é um idiota. Goza com as pessoas e com o seu sofrimento. Qualquer ser humano sensato mentiria a "House". É por isso que ele tem os seus ajudantes, os outros médicos. Porque é essencial que alguém desenvolva uma relação de confiança com o paciente.
Qual a importância desta empatia?
O paciente tem de confiar no médico e tem de perceber o quão importante é a informação que este lhe pede, especialmente quando as perguntas são inconvenientes, como "Você consome drogas?", "Você engana a sua mulher?"... O doente não dá este tipo de informação a não ser que compreenda que serão tomadas decisões importantes com base nisso.
Como pode o paciente ajudar o médico a encontrar o diagnóstico certo?
O paciente tem de encontrar uma forma de conseguir contar a sua história. Os médicos não são muito bons ouvintes. Aliás, como a maioria dos humanos. Em média, um médico permite que o paciente fale durante 20 segundos antes de o interromper para colocar as suas perguntas. 20 segundos. É de loucos! Devíamos estar calados, ouvir e aprender mais.
Que outras medidas podem os pacientes tomar?
Devem conhecer o seu próprio historial médico. É comum perguntar aos pacientes que tipo de doenças têm ou, até, que medicamentos tomam e ouvi-los dizer que não sabem. Eles têm de saber.
Muitos pacientes também recorrem à internet para se autodiagnosticarem. O que acha desta atitude?
Quando temos um sintoma, é normal querermos procurar informação acerca do que se está a passar connosco. Antes da Internet voltava-mo-nos para os amigos, para a família, ou para os colegas de trabalho. Todas elas podem ser muito boas fontes de informação.
Texto: Vanda Oliveira
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