Quando observamos a fotografia duma paisagem com Sol, o nosso corpo reage como se estivéssemos lá. Somos invadidos por uma sensação de bem-estar, sentimos um calor agradável que nos envolve, respiramos fundo e por breves momentos estivemos ao Sol. A nossa memória levou-nos de volta aos nossos momentos de descanso.
A luz solar não tem volume, é composta por fotões (que são energia pura) e propaga-se com comprimentos de onda biologicamente vantajosos. A nossa pele tem a capacidade de absorver esta energia e geri-la em nosso benefício. Os efeitos biológicos da luz são determinados por 3 fatores:
- A profundidade da penetração (tem que passar as células córneas para chegar às células vivas)
- A absorção (a energia dos fotões deve ser absorvida pelas células para ter um fator biológico)
- A dose (é necessária uma quantidade mínima de energia para interferir no normal funcionamento celular)
Estes efeitos variam com a alteração da intensidade e a qualidade dos raios solares, que são determinados pela altitude, hora solar e latitude. Quando a luz solar incide na pele várias ações e mecanismos são despoletados:
Estes mecanismos de defesa só estão concluídos por volta dos 7 anos de idade. É, por isso, imperiosa a máxima proteção das crianças. O bronzeado surge quando a nossa pele deteta que a exposição à luz solar é excessiva para a manutenção, da saúde do corpo. Protege-nos dos efeitos nocivos dos UVA / UVB.
Estes produzem radicais livres que destruem o ADN provocando heliodermias, fotocarcinogeneses e imunossupressão pelo ataque direto às células de Langerhans.
O mecanismo de termorregulação é a nossa defesa contra os IV e a luz visível, uma vez que os seus efeitos são essencialmente caloríficos - podem provocar insolação.
Favoráveis
Fotossíntese
Síntese de vitamina D
Calor
Fototerapia
Bem-estar
Aumento dos anticorpos
Nefastos
Insolação
Cancro
Envelhecimento cutâneo
Reações alérgicas
Modificações imunológicas
Reações oculares
A nossa pele tem uma capacidade finita de recuperação total em relação aos danos causados pela exposição excessiva ao sol. A esta capacidade dá-se o nome de "Capital Solar".
Cada indivíduo nasce com o seu capital solar que irá gastando ao longo da vida. Calcula-se que um terço seja gasto até aos 20 anos. Quando este capital solar se esgota surgem, entre outras alterações, tumores benignos e/ou malignos, heliodermias, hiperpigmentação e fotossensibilidade.
A defesa contra os raios solares situa-se a 3 níveis na epiderme, sendo o papel dos cabelos preponderante:
1. A película hidrolipídica de superfície
O seu efeito fotoprotector é muito fraco. Está essencialmente ligado a uma molécula contida no suor, o ácido urucrânico, que desempenha o papel de filtro por absorção seletiva dos UVB. A concentração desta substância na camada córnea aumentará com a sudação.
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2. Barreira córnea
A camada córnea tem um papel fundamental, efetuando a difracção ou absorvendo uma grande parte dos raios que atingem a pele. Aquando das exposições solares ela aumenta de espessura (existe uma hiperqueratinização), pela aceleração das mitoses ao nível da camada germinativa o que acrescenta uma proteção suplementar.
3. Barreira melânica
A pigmentação melânica é o dispositivo mais importante e eficaz contra os raios solares. A melanina desempenha o papel de filtro químico, absorvendo e refletindo em mais de 90% os UV que ultrapassam a camada córnea.
Naturalmente presente nos indivíduos de pele escura, ela necessita, nos caucasianos, da irradiação pelos raios UV para aumentar. E o fenómeno de bronzeamento devido à estimulação de todos os estádios da melanogenese.
Entretanto, a natureza da melanina difere de acordo com a programação genética de cada indivíduo. A melanina dos morenos (eumelanina) assegura muito melhor o seu papel que a melanina dos ruivos (feomelanina). A melanogenese é um processo que sucede continuamente e dá toda a gama de tons da pele que existem.
Nas zonas normalmente expostas os melanócitos têm uma frequência de produção de melanina superior em relação às zonas cobertas e é possível notar a diferença a olho nu. Os melanócitos sintetizam a melanina e transferem-na através dos seus longos processos dendriticos para os recém-nascidos queratinócitos.
Deste modo, as células germinativas da epiderme são equipadas com um escudo de pigmento contra os efeitos danosos dos UV sobre o seu ADN. Os cabelos asseguram a proteção do couro cabeludo contra os UV e da caixa craniana contra os efeitos caloríficos dos IV.
O espectro solar compreende em parte, o Ultra-Violeta C (UVC), Ultra-Violeta B (UVB), Ultra-Violeta A (UBA), Espectro Visível e Infra-Vermelhos (IV).
Cada uma destas frações do espectro solar tem determinadas características e desencadeiam reações específicas.
UVC
São bactericidas, germicidas e esterilizadores. Felizmente são filtrados pela camada de Ozono. Quando atingem os olhos provocam conjuntivite actínica.
UVB
São as mais superficiais, agressivas e irritantes das radiações solares. Penetram até à derme papilar e são responsáveis pelo aumento da melanogenese dando origem ao fim de 48 horas, à pigmentação tardia que durará enquanto o indivíduo se expuser.
Estimulam a tirosinase, enzima responsável pela formação da melanina. A melanina quando se forma é clara e chama-se pré-melanina, necessita de ser oxidada para escurecer. São responsáveis pela síntese da vitamina D.
Em excesso os UVB provocam alterações no ADN, eritema que pode chegar a uma queimadura de 2º grau, fotofobia e podem provocar a esfoliação da camada córnea.
UVA
Têm uma maior penetração, chegando à derme reticular e a sua ação biológica benéfica é menor. Quando incide na pele dá-se o Fenómeno de Meirowski, que consiste na oxidação das prémelaninas existentes e surge uma pigmentação direta e imediata sem eritema mas de pouca duração.
Em demasia provocam alterações vasculares, celulares e nas fibras de colagénio. Consequentemente dão-se reacções fotossensibilizantes, pele desidratada, seca, com pouca elasticidade e mais espessa. Surgem rugas, hiperpigmentação, neoplasias e cataratas.
Espectro Visível
O seu efeito calorífico chega até à hipoderme.
Infra-vermelhos
Atingem a hipoderme e elevam a temperatura podendo provocar queimaduras. Potenciam os efeitos do UVA e aceleram as reações químicas.
Como vimos anteriormente a luz solar tem todos os seus componentes numa determinada proporção que nos é biologicamente favorável para os quais temos métodos de defesa que nos protegem dos excessos.
Nos solários tal não acontece. Os UVA encontram-se numa percentagem muito superior aos outros constituintes da luz solar e o nosso organismo não recebe os sinais de alarme que fazem despoletar os mecanismos de defesa.
Saiba tudo sobre o Dia do Euromelanoma 2012 na próxima página
A campanha Euromelanoma é uma iniciativa europeia para a prevenção do cancro cutâneo que tem como objetivo dar informação a todos sobre prevenção da doença, diagnóstico precoce e tratamento.
Iniciou-se na Bélgica em 1999, envolveu vários países incluindo Portugal desde 2000 e, em 2012, vai decorrer em mais de 30 países dispersos por toda a Europa.
Em Portugal, o Euromelanoma é organizado pela APCC, e participa também a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), com o apoio da Direção-Geral da Saúde.
No dia 9 de maio irão ser disponibilizados rastreios gratuitos ao cancro de pele, particularmente àqueles que se incluam nos grupos com maior fator de risco. Serão cerca de 30 os Serviços de Dermatologia que disponibilizarão o rastreio em todo o país.
Estima-se que em Portugal, em 2012, venham a surgir ainda mais de 10.000 novos casos de cancros da pele, a maioria serão carcinomas basocelular e espinocelular, mas estima-se também que surgirão cerca de 1.000 novos casos de melanoma.
O diagnóstico e o tratamento precoce dos cancros da pele, sobretudo do melanoma, são fundamentais para diminuir a morbilidade e mortalidade por cancro da pele.
Cabe à sociedade civil, no seu todo, contrariar esta realidade, numa luta que se desenrola em várias frentes: prevenção primária e secundária, conhecimento alargado da sintomatologia e sinais de alarme e estratégias de combate à doença.
- Congresso de Fotoeducação: Sol e Pele: saber conviver: 4 e 5 de maio em Lisboa e 18 e 19 de maio no Porto. Este ano é o 10º ano consecutivo destas reuniões que estimam envolver mais de 1.600 profissionais de educação e saúde. Este encontro contará com a presença, em Lisboa, da Prof. Véronique del Marmol, Presidente Europeia do Euromelanoma, e no Porto da Prof Jana Hercogova, Presidente da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia.
- Caminhada pelo Chapéu, a 2 de junho, em S. João da Madeira.
- Caminhada à Beira-mar a 14 de julho, em Vilamoura, dando início às ações de sensibilização nas praias e múltiplas autarquias portuguesas.
- Apresentação de novos sites de informação.
- No que diz respeito às crianças, maximize as medidas de prevenção (utilização regular de um protetor solar com um fator de proteção elevado (50+), t-shirt e chapéu).
- Procure a sombra e não se exponha ao sol nas horas de maior calor (entre as 11h e as 17h).
- Proteja a sua pele e os seus olhos (use e abuse do chapéu, t-shirt, óculos de sol).
- Habitue gradualmente a sua pele ao sol. Evite as queimaduras solares!
- Aplique protetor solar com um fator de proteção elevado a cada 2 horas.
- Evite os solários.
- Se, após a exposição solar, a sua pele ficar vermelha, significa que ficou efetivamente com uma queimadura solar.
- Quando há presença de bolhas ou dor durante pelo menos dois dias, a queimadura solar é considerada grave.
Para mais informações sobre os diferentes tipos de sinais ou manchas cutâneas, o que significam e como podem ser tratados, pode ainda consultar os sites: www.apcancrocutaneo.pt ou www.euromelanoma.org/portugal
Fotografia: Uriage
Agradecimentos: Ana Luísa Gonçalves, Massagista de Reabilitação/Esteticista formadora; Carolina Nunes da Ponte; Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo; Direção-Geral da Saúde; Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia
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