A leishmaniose, também conhecida como leishmaníase, é considerada uma doença própria de regiões tropicais e temperadas, ocorrendo maioritariamente em África, na América Central, na América do Sul, na Ásia Central, no Médio Oriente e no sul da Europa. Em Portugal, registou-se, nos últimos anos, a dada altura, um aumento do número de cães infetados. Na região de Lisboa, estima-se que um em cada seis cães tenha leishmaniose.

«A época de maior risco de infeção coincide com os meses mais quentes do ano, visto o inseto transmissor só ter atividade nesse período», explicou à revista Prevenir Lenea Campino, na condição de diretora da Unidade de Leishmanioses do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT). A transmissão desta doença aos humanos, uma zoonose, embora pouco frequente, afeta sobretudo pessoas debilitadas ou em condições precárias.

Segundo dados da Direção-Geral de Saúde, entre 2000 e 2006, foram notificados 73 casos de leishmaniose humana. «Pode transmitir-se ao homem, mas nunca através de um cão infetado. É sempre necessário o inseto para que a transmissão seja bem sucedida. Mas em Portugal (...) nos humanos é rara e normalmente restrita a pessoas com sistema imunitário debilitado», sublinha, num artigo online, a veterinária Célia Palma.

Derivada do parasita L. infantum, tem grande incidência em território nacional, especialmente nas regiões de Lisboa, do Alentejo e do Algarve. Tal como Espanha, França e Itália, Portugal integra a lista dos países mais afetados da Europa, com cerca de 2,5 milhões de cães infetados, segundo dados internacionais divulgados nos primeiros meses de 2017. LetiFend, uma nova vacina espanhola, chega ao mercado ibérico em janeiro de 2018.

Esta está, todavia, longe de ser a única zoonose a poder interferir com a saúde dos humanos. Veja também a galeria de imagens com as doenças infecciosas e parasitárias dos animais que podem ser transmissíveis aos seres humanos.

O que é a leishmaniose?

Trata-se de uma doença parasitária grave causada por um parasita microscópico denominado Leishmania, que é transmitido ao cão pela picada de um flebótomo, um inseto semelhante ao mosquito, mas muito mais pequeno. Para além do cão, outros mamíferos, incluindo animais selvagens e, ainda que menos frequentemente o homem, também podem ser infetados.

Como se manifesta?

No cão, esta doença tem um percurso crónico e debilitante. O primeiro sinal clínico mais comum é a perda de pelo e a seborreia (caspa), sobretudo em redor dos olhos, nariz, boca e orelhas. À medida que a doença progride, o cão perde peso, desenvolve feridas persistentes na pele, principalmente nas áreas que contactam com o chão quando o cão está sentado ou deitado.

Nota-se também um crescimento exagerado das unhas. Numa fase mais avançada, começam a observar-se sinais relacionados com problemas renais e hepáticos. Se a doença não for tratada e vigiada, leva à morte do animal.

Como tratar?

A leismaniose canina não tem cura definitiva, mas pode ser minorada se a doença não tiver atingido um elevado grau de desenvolvimento. Geralmente, o tratamento consegue a remissão dos sinais clínicos. No entanto, o animal continua portador do parasita, podendo vir a ter recaídas passados meses ou anos.

O tratamento será tanto mais fácil e de menor duração quanto mais cedo for diagnosticada a doença e iniciada a terapêutica. Consequentemente, o diagnóstico precoce é de extrema importância.

Como prevenir?

Durante muito tempo, não existiu nenhuma vacina contra a leismaniose canina. Nessa altura, a melhor forma de prevenção era através da utilização de produtos com efeito repelente sobre o inseto transmissor da leishmaniose. Entre os produtos disponíveis, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda as coleiras impregnadas de deltametrina, que demonstraram prevenir 95% das picadas dos flebótomos durante mais de seis meses.

Uma doença fatal para os cães que também pode infetar os humanos
Uma doença fatal para os cães que também pode infetar os humanos

Para além disso, é recomendável evitar passear perto de zonas sujas ou com matéria orgânica em decomposição, locais propícios ao desenvolvimento dos flebótomos. 2018 marca, contudo, uma nova etapa na fase da prevenção. A nova vacina, espanhola, LetiFend, anunciada nas últimas semanas de 2017, chega ao mercado em 2018. Desenvolvida pela farmacêutica LETI e pela multinacional MSD Animal Health, será comercializada em França, Itália, Grécia e Reino Unido.

Qual é o risco do meu cão apanhar leishmaniose?

Se não receber qualquer proteção, o risco pode ultrapassar os 20%, embora hajam especialistas que arrisquem os 50%. O risco é maior se o cão permanecer em regiões onde a prevalência da infeção é elevada e/ou se permanecer fora de casa ao entardecer e à noite, período de maior actividade dos flebótomos.

O que devo fazer se suspeitar que o meu cão tem leishmaniose?

Deve levá-lo a um centro de atendimento veterinário o mais cedo possível. Aí será devidamente examinado, através da realização de um exame clínico específico, para fazer o despiste da doença. Este despiste deverá ser feito, independente da suspeita de doença, uma vez por ano, fora da época de transmissão.

Qual a probabilidade de uma pessoa ser infetada?

Embora a leishmaniose afete sobretudo cães, também pode transmitir-se ao homem. Contudo, a probabilidade de uma pessoa saudável vir a desenvolver sinais de leishmaniose é muito reduzida, como se tem visto em território nacional. Nos humanos, a resposta imunitária contra o parasita Leishmania é muito mais eficaz do que no cão, sendo capaz de impedir a expressão da doença na grande maioria dos casos.

E, mesmo no caso de desenvolvimento de sintomas, o tratamento, numa pessoa sem qualquer outro comprometimento, é eficaz. Os indivíduos que correm maior risco são as crianças, os idosos e as pessoas debilitadas, com menos defesas imunitárias. «A forma de transmissão mais comum ao homem é através da picada de um flebótomo infetado, não havendo risco de transmissão por contacto direto homem/cão», esclarece Lenea Campino.

Texto: Fernanda Soares e Luis Batista Gonçalves com revisão científica de Lenea Campino (professora doutora dirigente da Unidade de Leishmanioses do IHMT - Instituto de Higiene e Medicina Tropical)