Em média, passamos, pelo menos, entre duas a quatro horas por dia, curvados sobre o telemóvel a ler e-mails, enviar mensagens ou a consultar a internet e a atualizar as redes sociais. Um hábito tão comum que nem imaginaríamos que poderia ter riscos para a saúde. O ato de baixar a cabeça para consultar o ecrã de um smartphone pode ter, no entanto, consequências nocivas na cervical humana.
Uma pesquisa elaborada por Kenneth Hansraj, chefe do departamento de cirurgia da coluna do New York Spine Surgery & Rehabilitation Medicine, nos EUA, não deixa margem para dúvidas, se é que ainda as houvesse. O estudo internacional desenvolvido em 2015, um dos primeiros, concluiu que, à medida que inclinamos a cabeça (que num adulto pesa, em média, entre quatro quilos e meio e cinco quilos e meio) para a frente e para baixo, o peso exercido na cervical aumenta gradualmente. Sobe para cerca de 12 quilos num ângulo de 15 graus e atinge os 18 quilos num ângulo de 30 graus.
De forma surpreendente, aumenta para os 22 quilos num ângulo de 45 graus. Se o ângulo for de 60 graus, o peso exercido sobre o pescoço será de 27 quilos, o equivalente ao peso de uma criança de oito anos. Impressionado? Em meados de 2019, cientistas australianos alertaram que a posição da cabeça está a alterar o esqueleto dos jovens adultos, falando mesmo no desenvolvimento de um novo osso no crânio.
As consequências de uma utilização excessiva
A pressão que esta postura errada exerce sobre a cervical e que, anualmente, representa cerca de 700 a 1.400 horas, pode levar, segundo o estudo desenvolvido pelo especialista do New York Spine Surgery & Rehabilitation Medicine, a que os tecidos fiquem doridos e inflamados, provoca tensão muscular e pode mesmo alterar a curvatura natural do pescoço. O primeiro sinal de alerta são as dores nas costas e no pescoço.
Kenneth Hansraj acredita, todavia, que as consequências podem ser mais vastas, gerando "desgaste prematuro da cervical, aparecimento de hérnias discais e necessidade de intervenção cirúrgica". Outras possíveis consequências incluem "a redução da capacidade pulmonar até cerca de 30%, dores de cabeça, depressão e doença cardíaca", referiu o investigador ao jornal norte-americano The Washington Post.
O grupo de maior risco
Em declarações ao jornal norte-americano, Kenneth Hansraj refere que este problema é especialmente preocupante nos jovens, que acabam por ser mais afetados. Estes são capazes "de passar mais 5000 horas por ano nesta posição" do que a restante população, "o que significa que, dentro em breve, poderemos começar a assistir a pessoas cada vez mais novas a precisarem de tratamentos para a coluna".
O que fazer para não prejudicar a sua coluna
Estratégias do investigador para continuar a usufruir do seu smartphone sem prejudicar a saúde:
- Mantenha uma boa postura
Consiste em manter os ombros para trás, alinhados com as orelhas.
- Mova apenas os olhos
Olhe para o telemóvel fazendo descer o olhar se necessário, mantendo a postura certa, sem inclinar o pescoço.
- Exercite o pescoço
Mova a cabeça para a direita e para a esquerda várias vezes e utilize as mãos para oferecer resistência e empurre a cabeça para a frente e para trás. Existe ainda um outro exercício que pode repetir. Coloque-se na ombreira de uma porta com os braços esticados e empurre o peito para a frente, para fortalecer os músculos da boa postura.
Texto: Catarina Madeira
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