Comer, dormir, fazer desporto. Não é novidade que as suas rotinas influenciam a sua saúde, mas já reparou que ela pode ser afetada por hábitos e problemas de terceiros?

Por exemplo, se não fuma, o facto de viver ou passar várias horas do seu dia com um fumador aumenta o seu risco de doenças cardíacas coronárias em 25 a 30 por cento, refere a Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

«Dos cerca de sete mil constituintes identificados no fumo secundário do cigarro, pelo menos 250 são lesivos e cerca de 69 causam cancro», justifica Susana Simões, pneumologista responsável pela consulta de cessação tabágica do Hospital Pulido Valente, que reitera que «até pequenas exposições passivas ao fumo do cigarro podem ser lesivas». No entanto, este está longe de ser o único caso em que influências alheias afetam a sua saúde. Apresentamos-lhe quatro problemas e formas de os superar.

Ressonar

Segundo a neurologista Teresa Paiva, cerca de 41 por cento dos adultos ressonam, o que não diminui a seriedade do problema. «Ressonar indica que a respiração se faz com dificuldade e tem riscos», justifica a especialista. Além dos riscos para quem ressona (hipertensão arterial, apneias, lesões no palato mole, pior desempenho escolar), podem surgir conflitos entre o casal e «quem dorme ao lado de um ressonador tem um risco aumentado de insónia». Existe ainda outro problema de sono comum no casal, os filhos. Os pais cujos filhos acordam por sistema durante a noite podem sofrer de privação de sono, irritabilidade, dificuldade de concentração ou sonolência.

Evite o contágio

- Ajude o seu parceiro a adotar medidas para não ressonar: comer pouco ao jantar, evitar o consumo de álcool e sedativos à noite e emagrecer.
- Na cama, incentive-o a dormir de lado com a cabeceira mais alta.
- Recorra a tampões auditivos ou, em último caso, mude de cama ou de quarto.
- Se o seu filho a solicita durante a noite divida essa missão com o seu companheiro.
- Deite-o sempre à mesma hora, num ambiente calmo e não o deixe dormir na sua cama.

Excesso de peso

«Há um efeito contágio na obesidade que é difícil de contrariar e começa no seio familiar», alerta Teresa Branco. A fisiologista do controlo de peso refere-se ao estilo de vida da grávida, mas não só. «Quando os pais se alimentam mal e não fazem exercício influenciam os filhos nesse sentido. E as crianças que passam muito tempo com os avós tendem a ter uma alimentação mais rica em açúcares», explica. O mesmo ocorre no casal e «há estudos que comprovam que as pessoas com excesso de peso tendem a ter amigos com o mesmo problema».

Evite o contágio

- Organize uma agenda com as horas a que irá fazer exercício e controle as faltas.
- Prefira restaurantes onde possa optar por refeições saudáveis e mostre-se satisfeita com a escolha.
- Comente com o seu parceiro e amigos como se sente bem ao fazer exercício. «O seu bem-estar e boa forma são o melhor incentivo», sublinha Teresa Branco.
- Elogie-os sempre que tiverem um comportamento saudável. «Diga-lhes que têm jeito para fazer atividade física e que a roupa lhes fica muito bem», sugere.

Stress

Nervosismo, irritabilidade, perda de concentração, aversão ao
ambiente ou a colegas de trabalho, desmotivação, perturbações
digestivas. Perante sinais de stress, importa perceber se há motivos
reais para se sentir assim, indica o psicólogo Vítor Rodrigues.

«Estamos em fase decontágio se não encontrarmos motivos de fundo para o
stress, a não ser os que nos são passados pelos outros». Se costuma
ouvir «desabafos» de amigos ou familiares ansiosos,
lembre-se que
«algumas pessoas usam as suas tristezas para obter atenção e, nesse
caso, dá-la pode reforçar o problema», afirma.

Evite o contágio

- Ao ouvir alguém stressado, conserve uma atitude irradiante, um
espírito positivo e ajude a pessoa a focar-se na busca construtiva de
soluções.
- Se trabalha com pessoas stressadas, conserve uma noção
clara acerca da sua dignidade, das suas prioridades e do que a motiva a
trabalhar.
- Ao explicar à pessoa que a sua atitude a perturba evite
uma linguagem avaliativa e dê-lhe hipótese de mudar. «Algo como ao
gritares pelo telefone estás a fazer-me sentir mal, podes dizer-me o que
se passa? Posso ajudar?», sugere Vítor Rodrigues.

Depressão

Típicos da depressão, o pessimismo e a visão negativa do mundo
transmitem-se facilmente e «as pessoas que têm familiares próximos
deprimidos podem desenvolver sentimentos análogos, por se sentirem
impotentes para ajudar, culpadas por não saberem fazer melhor ou serem
alvo de irritabilidade», explica Vítor Rodrigues.

Evite o contágio

- Aceite que lhe cabe apenas fazer o
que sabe e pode, mesmo que isso não conduza aos resultados que
desejaria, e que deve respeitar o livre arbítrio da outra pessoa, para o
bem e para o mal dela.
- Sugira experiências positivas, manifeste
carinho, encoraje a pessoa a sair consigo, a apreciar o momento presente
e a recordar momentos agradáveis.
- Escute ativamente e evite
comentários racionais como «há pessoas piores do que tu» ou «tens uma
vida tão boa», que culpabilizam a pessoa, e «pancadinhas nas costas»,
que o inferiorizam.

Texto: Rita Miguel com Susana Simões (pneumologista), Teresa Branco
(fisiologista do controlo de peso), Teresa Paiva (neurologista) e Vítor
Rodrigues (psicólogo clínico)