A coluna vertebral é composta por 33 pequenos ossos ou vértebras que, em conjunto com discos, ligamentos e músculos sustentam o corpo, permitindo o movimento e protegendo a medula. Se não for cuidada convenientemente pode dar origem a vários problemas. Aprenda a estimar a sua coluna.

As dores nas costas afectam tanto homens como mulheres e, normalmente, manifestam-se entre os 25 e os 60 anos. Em Portugal, é a segunda causa das visitas ao médico. Mas, afinal, porque é que temos dores nas costas?

«Uma das causas, chamada doença degenerativa, traduz-se na alteração da estrutura normal dos discos e das articulações com a idade, o esforço (carga) ou movimentos incorrectos», explica Tavares de Matos, ortopedista no Hospital São Francisco de Xavier. De acordo com o especia­lista, «os discos sofrem um processo de desidratação e alteração dos seus constituintes, levando à diminuição da flexibilidade e, eventualmente, à sua rotura, formando a hérnia (como se fosse um “pneu furado”)».

Por sua vez, «as vértebras aproximam-se, conduzindo ao estreitamento dos orifícios de saída das raízes nervosas na coluna e, consequentemente, a lesões neurológicas. Estas podem traduzir-se em parestesias (dormência, formiguei­ros, etc.), falta de força ou alteração dos reflexos enervados pela raiz comprimi­da», conclui Tavares de Matos. Para além das lesões do disco, também as alterações das articulações entre vértebras, os ligamentos e os músculos adjacentes à coluna podem tornar-se dolorosos.

«A dor lombar afecta oito em cada 10 pessoas ao longo da vida, denomina-se lombalgia e resulta, em parte, do sobre-esforço suportado por esta região em posição erecta, afectando por isso apenas a espécie humana. É uma dor que piora com o transporte de carga e/ou quando nos colo­camos numa posição flectida», acrescenta o ortopedista.

Como se diagnosticam?

Para confirmar o diagnóstico destas doenças, o médico realiza um exame físico completo à coluna vertebral e aos membros superiores e inferiores do paciente, onde examina a flexibilidade, o nível de movimento e sinais de lesão dos nervos.

Principais doenças da coluna

Existem várias doenças da coluna e todas elas constituem situações
incapacitantes no quotidiano de quem as possui.

São de destacar as
lesões traumáticas (fracturas da coluna, por exemplo), a escoliose, a
hérnia discal, a doença discal degenerativa, a espondilartrose, entre
outras.

Escoliose

O que é?

A escoliose é uma deformidade em que existe uma curvatura lateral da coluna no plano frontal.

Quais as causas?

Depende do tipo de escoliose. Segun­do Tavares de Matos, há dois
grandes grupos: «escoliose estrutural (implica alterações da estrutura
das vértebras) e não estrutural (não cursa com alterações na anatomia
das vértebras e, assim, não progride durante a fase de crescimento)».

Nas escolioses estruturais, de acordo com o ortopedista, «o tipo
mais comum é o de causa desconhe­cida (idiopática), que se manifesta a
partir da infância; podem ser ainda escolioses de causa congénita, por
doen­ças neuromusculares, tumores ou doenças infecciosas». Relativamente
às escolioses não estruturais, Tavares de Matos aponta como exemplo «a
escoliose por comprimen­to desigual dos membros inferiores e a
postural».

Quais os sinais e sintomas?

Os seus principais sinais são: ombros a alturas diferentes, uma das
ancas mais levantada, cintura desigual, inclinação do corpo para um dos
lados e proeminência da grelha costal (bossa torácica) ao flectir a
coluna para a frente.

Tratamento

Quando necessário, a única maneira de a corrigir é através de
cirurgia, «libertando a coluna, fixando-a numa posição mais anatómica e
fundindo-a com enxerto ósseo», adian­ta o especialista.

Hérnia discal

O que é?

Com os movimentos do tronco, a pressão nos discos da coluna torna-se irregular. A repetição destes movimentos, sobretudo se forem bruscos e mal executados, pode causar lesões no disco.

Se ocorrerem várias destas lesões podem surgir rupturas na parte externa do disco e o interior do disco intervertebral pode sair por essas fendas, produzindo uma hérnia discal.

Factores de risco

Idade, actividades repetitivas e traumatismos na coluna.

Quais os sintomas?

Os seus principais sintomas são: dor lombar, sensação de formigueiro (dormência) ou falta de força num membro su­perior ou inferior, correspondendo ao território da raiz afectada pela hérnia.

Tratamento

«Em mais de 90% dos casos não requer cirurgia», assegura Tavares de Matos. «Caso o tratamento conservador não resulte e/ou se agra­vem os sintomas, recorre-se à cirurgia, que pode ser efectuada de várias formas, dependendo muito de caso para caso. Pode proceder-se à exérese (extracção) desta, à substituição do disco, à aplicação de sistemas interes­pinhosos, etc», comenta o ortopedista.

Doença discal degenerativa

O que é?

É uma alteração da estrutura do disco intervertebral que pode dar
origem a um colapso discal, provocada pelo processo natural de
envelhecimento.

Quais as causas?

Pode resultar do processo natural de envelhecimento ou de um
traumatismo na coluna. Devido à perda progressiva de água, os discos
intervertebrais deixam de actuar como amortecedores, fazendo com que as
vér­tebras se aproximem umas das outras.

Quais os sintomas?

Dor nas costas e/ ou nos membros e, às vezes, dificuldade em andar.

Tratamento

A maioria dos doen­tes responde bem aos tratamentos não cirúrgicos
(fisioterapia e exercícios para o fortalecimento dos músculos,
anti-inflamatórios e evitar activida­des agressivas repetitivas). Se
estas abordagens não resultarem, pode ser necessário recorrer à
cirurgia.

A importância do tratamento cirúrgico

Para muitas pessoas, os tratamentos não invasivos (medicação,
fisioterapia ou mudanças de estilo de vida) são suficientes para tratar
com sucesso os problemas da coluna. No entanto, para outros casos, a
cirurgia pode ser a melhor opção para tratar a dor, aliviar a compressão
nervosa ou corrigir a deformidade. Existem dois tipos de cirurgia:

  • Cirurgia convencional macroscópica

    Este tipo de intervenção utiliza incisões grandes na pele e músculos com alguma desvantagem no efei­to estético e dores pós-operatórias. Pode implicar maiores períodos de interna­mento hospitalar e de recuperação. Contudo, este método tem de ser utilizado em várias doenças vertebro-medulares para o seu correcto tratamento.

  • Cirurgia minimamente invasiva da coluna

    O recente desenvolvimento de procedimentos que minimizam os efeitos
    da cirurgia convencional, através de métodos chamados minimamente
    invasivos, promove uma evolução menos dolorosa e mais rápida. Estas
    cirurgias permitem aos cirurgiões tratar com sucesso algumas patologias
    como a hérnia discal, com repercussões mínimas na vida dos pacientes.

Espondilartrose (espondilose)

O que é?

Da mesma forma que as várias articulações do corpo (ombro, ancas,
joelhos, etc.) sofrem de proces­sos de desgaste conhecidos por artroses,
também as articulações entre as vértebras passam pelo mesmo.

Quais as causas?

«Obesidade, factores genéticos e hereditários, ocupação (vibração
provocada em trabalhadores que usam martelos pneumáticos ou sobrecarga
provocada pelo transporte de pesos), doenças endócrinas (diabetes
mellitus, acromegalia e outras) e doenças metabólicas (doença de Paget,
gota, etc.)», são alguns dos factores apresentados por Tavares de Matos.

Quais os sintomas?

Crises dolorosas muito intensas, normalmente associadas a fenómenos inflamatórios.

Tratamento

É variável e depende da causa, idade do paciente, actividade,
esperança de vida, qualidade do su­porte ósseo, níveis atingidos, etc. O
tratamento sintomá­tico pode ser feito com analgésicos,
anti-inflamatórios, fisioterapia (recuperação funcional e meios físicos
anti-inflamatórios).

Pode recorrer-se também a tratamentos dirigidos à patologia de base,
ou tratamentos cirúrgicos como a substituição artroplástica do disco, a
fusão de vértebras adjacentes (fusão inter-somática), a aplicação de
sistemas dinâmicos de estabilização, a infiltrações com corticóides e/ou
analgésicos.

«Fundamentalmente, o que se deve fazer é seguir o princípio “a
função faz o órgão” e, assim, manter as várias unidades estruturais que
formam a coluna o mais activas possível», conclui o médico ortopedista.

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Texto: Madalena Alçada Baptista com Tavares de Matos (ortopedista no Hospital São Francisco de Xavier)

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