É um dos males dos tempos modernos. Em todo o mundo, são milhões os que sofrem de estados depressivos que, em muitos casos, além de sofrimento, também geram pensamentos suicidas. Nos últimos anos, têm surgido novos tratamentos e novos fármacos, mas as dúvidas continuam a ser muitas. Apesar de haver mais informação disponível, existem interrogações que continuam a gerar confusões, como é o caso destas cinco.
1. O que é a depressão unipolar?
Estudos científicos, nacionais e internacionais, desenvolvidos ao longo das últimas décadas, comprovaram que certos indivíduos correm um risco maior de virem a sofrer de depressão nalgum momento da vida porque têm uma predisposição genética que os condiciona nesse sentido. Ainda assim, Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, deixa claro que esse não é um fator determinante, como defendem outros especialistas.
"Tornamo-nos mais vulneráveis à depressão quando tendemos a ter atitudes desadaptativas perante acontecimentos negativos, geralmente relacionadas com a noção distorcida de que a nossa felicidade e autoestima dependem da perfeição ou da aprovação dos outros", refere. A depressão unipolar é a doença neuropsiquiátrica com a maior prevalência na população mundial, cerca de 11,8%. Carla de Oliveira nomeia dois motivos que explicam esse fenómeno. "O facilitismo de diagnósticos por parte da medicina" e o facto de os indivíduos estarem sujeitos a maiores pressões e fontes de stresse.
"Por vezes, uma tristeza saudável reativa às diversas situações da vida é confundida com uma perturbação de humor de caráter patológico", explana Carla de Oliveira. Do seu ponto de vista, também há uma "exigência das pessoas em querer eliminar rapidamente qualquer emoção desagradável, fruto do imediatismo do mundo moderno". Para saber mais sobre a doença, veja também os porquês da depressão e leia ainda a depressão no masculino.
2. Os antidepressivos de hoje são mais seguros?
São mais seguros mas convém nunca abusar deles. "Há da parte da medicina uma grande prontidão para receitar ansiolíticos, sedativos ou hipnóticos", critica Carla de Oliveira, psicóloga e psicoterapeuta. São medicamentos que atuam "no equilíbrio dos neurotransmissores do cérebro [entre os mais comuns a serotonina e a dopamina], afetando o humor e as respostas emocionais", explica ainda a especialista.
À semelhança de muitos médicos, Carla de Oliveira recomenda que as pessoas se informem convenientemente sobre os efeitos secundários dos antidepressivos habitualmente prescritos, um erro que muitos portugueses, consumidores ávidos deste tipo de fármacos, continua a cometer. Já Filipa Jardim da Silva frisa que estes "são relativamente seguros quando comparados com gerações anteriores de antidepressivos".
3. A estimulação cerebral profunda é uma terapêutica com resultados comprovados?
Um estudo internacional, levado a cabo por uma equipa de investigadores da Icahn School of Medicine, um estabelecimento de ensino afeto ao Mount Sinai Health System, em Nova Iorque, nos EUA, garante que sim. Divulgada pelo The American Journal of Psychiatry, uma publicação especializada, nos primeiros dias de outubro de 2019, a investigação concluiu que os pacientes que foram submetidos a este tratamento registaram melhorias.
Testada numa amostra de pacientes com depressão crónica que não tinham respondido positivamente a outras formas de tratamento mais clássicas, a estimulação cerebral profunda resultou. As 28 pessoas que foram tratadas com implantes de estimulação da atividade cerebral viram a doença regredir e os resultados manterem-se por um período de tempo maior. São muitos os especialistas defendem a sua generalização.
4. Há forma das grávidas evitarem uma depressão perinatal?
Em Portugal, ainda que algumas o desvalorizem, cerca de 10% das mulheres grávidas sofre de depressão. Esta é uma "condição subdiagnosticada e pouco valorizada que pode determinar a saúde futura do bebé e da mãe", refere Ana Peixinho. Segundo a coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia do Hospital dos Lusíadas Lisboa, a depressão perinatal pode "alterar as respostas fisiológicas e comportamentais da mãe".
Para além disso, aumenta o risco de desenvolver uma depressão crónica no pós-parto, como muitas vezes sucede. Existem atualmente tratamentos preventivos que evitam uma depressão perinatal mas nem todos se adequam a todas as mulheres. "Uma paciente grávida terá que ter muito cuidado com o tratamento escolhido para evitar que prejudique o feto", conclui Carla de Oliveira, psicóloga e psicoterapeuta portuguesa.
5. Usar ferramentas digitais para um autodiagnóstico é aconselhável?
São muitos os especialistas, nacionais e internacionais, que defendem o recurso a ferramentas digitais para um autodiagnóstico do estado de alma. Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, sugere, a título de exemplo, o programa Snapshot da Oficina da Psicologia, indicado para as pessoas poderem apurar o seu nível de bem-estar e satisfação pessoal na vida. Um recurso gratuito que permite fazer uma avaliação individual.
Simples e intuitivo, pode ser utilizado, a título preventivo, para despistar "a presença das 14 perturbações psicológicas mais frequentes, incluindo a depressão", sublinha a especialista, mas também para "calcular o nível de stresse e estimar o seu impacto na saúde", esclarece. Para além disso, numa fase posterior, "permite avaliar o seu potencial de reação e recuperação", acrescenta ainda Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica.
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