Actualmente, a palavra colesterol tem uma conotação negativa e é associada rapidamente às doenças cardiovasculares, um facto mais do que comprovado quando os níveis do colesterol são elevados.

No entanto, o que muitas pessoas ignoram é que ele é essencial para que o organismo leve a cabo diversas funções vitais, como a produção de hormonas, vitamina D e de ácidos biliares.

O organismo produz o colesterol necessário a essas mesmas funções, mas também o obtemos através da alimentação e é, por esse motivo, que muitas pessoas têm hipercolesterolemia, embora noutras isso se fique a dever a uma tendência genética que não deve ser ignorada.

O bom e o mau

O colesterol está presente em todo o organismo e ao que circula no sangue dá-se o nome de colesterol total que se pode dividir em bom ou mau, e é do equilíbrio destes dois que depende a sua saúde.

O bom colesterol, também conhecido por HDL (lípidos de alta densidade), é responsável pelo transporte do colesterol das células do organismo para o fígado; enquanto o mau colesterol, ou LDL (lípidos de baixa densidade) adere às paredes dos vasos e dificulta o fluxo do sangue.

Portanto, quando há um nível excessivo de LDL e pouca quantidade de HDL, o primeiro entope as artérias e dá origem à aterosclerose que poderá provocar enfartes do miocárdio e AVC. Doenças estas que são, de acordo com o Conselho Europeu de Informação sobre a Alimentação, a principal causa de morte no velho continente.

Sem sintomas

Lembre-se que a hipercolesterolemia não apresenta sintomas físicos e o diagnóstico só se faz a partir de análises ao sangue que determinem os níveis de colesterol e também de triglicéridos, outra gordura proveniente dos alimentos, mas também produzida pelo fígado.

O excesso de triglicéridos chama-se hipertrigliceredemia e pode também estar associado ao excesso de mau colesterol, elevando, sabe-se agora, ainda mais o risco cardiovascular.

Para controlar os níveis de colesterol é obrigatório alterar a alimentação e, em muitos casos, essa atitude é suficiente para baixar os níveis, noutros terá de ser complementada com medicação. Veja o que deve comer e o que deve evitar:

- Alimentos prejudiciais
«Todos os alimentos ricos em gorduras saturadas e trans fazem aumentar o colesterol», explica Florbela Mendes, nutricionista. «Essas gorduras encontram-se sobretudo em manteigas, queijos gordos, natas e leite gordo, salgadinhos, bolos em geral (mesmo os secos), carnes vermelhas gordas e todos os alimentos fritos», exemplifica.

Florbela Mendes diz ainda que o ovo não é tão prejudicial como se pensa, «já que apenas a gema contém colesterol e até é um bom substituto para a carne porque é rico em proteína e tem pouca gordura saturada associada». Assim, segundo a nutricionista, «pode ser ingerido até três vezes por semana, como fonte proteica da refeição, isto é, em substituição da carne».

- Alimentos benéficos
«São todos aqueles que têm capacidade para fazer com que o colesterol seja eliminado pelas fezes, como os alimentos ricos em fibra. Por exemplo, a fruta, os flocos de aveia, o pão escuro, vegetais em geral e as leguminosas (que são também ricas em proteínas e pobres em gordura)», explica Florbela Mendes.

A nutricionista recomenda ainda o uso de azeite na confecção dos alimentos em detrimento de outras gorduras, «mas com moderação, ou seja, sem “forrar” o fundo do tacho nos cozinhados». E como tempero no prato, «o ideal é adicionar apenas um fio de azeite (uma colher de sopa deve ser a referência média)». Deve-se também comer mais peixe que carne.

«Os peixes ricos em ácidos gordos polinsaturados ajudam a reduzir o colesterol, por esse motivo, devem ser ingeridos duas a três vezes por semana», refere. Para além disso, «os frutos oleaginosos, conhecidos como frutos secos (nozes, amêndoas, amendoins, etc.) são igualmente benéficos, dada a qualidade da sua gordura (insaturada). No entanto devem ser comidos moderadamente», acrescenta.

- Alimentos funcionais
De acordo com Florbela Mendes, estes alimentos enriquecidos com esteróis vegetais ajudam a diminuir o colesterol, mas só se a pessoa tiver outros cuidados alimentares. «Quem opta pelos alimentos funcionais, mas continua a consumir demasiada gordura, não terá grandes benefícios. São benéficos quando inseridos numa alimentação equilibrada», explica a nutricionista.

Os exames que o detectam

- É imprescindível fazer análises ao sangue que determinem o perfil lipídico (colesterol e triglicéridos) anualmente.

- É melhor não fazer análises depois de uma época de excessos, como o Natal e a Páscoa.

- As pessoas que têm antecedentes de enfartes, que estão na menopausa e quem segue uma dieta rica em gorduras, tem de ter especial atenção.

- Preocupe-se se o seu mau colesterol superar os 130 mg/dl; se o bom for inferior a 40 mg/dl (nas mulheres) ou 50 mg/dl (nas homens) e se os triglicéridos estiverem acima dos 150 mg/dl.

Mitos ou verdades?

A ciência tem-se dedicado à descoberta das melhores formas para
controlar o mau colesterol, ou não fosse esta uma preocupação médica de
primeira ordem devido aos graves efeitos que tem para a saúde.

Daí que não seja de estranhar que quase diariamente surjam novos
estudos nesta área. Conheça agora os últimos avanços médicos, comentados
pelas nutricionistas Florbela Mendes e Fernanda Fogaça.

Os triglicéridos não devem ser medidos em jejum

Fazer análises ao sangue em jejum, como é hábito, talvez não seja a melhor forma de vigiar o estado da sua saúde cardiovascular. Dois estudos publicados na revista JAMA sugerem que medir os triglicéridos sem estar em jejum pode ser mais eficaz.

Ambas as investigações afirmam que apresentar níveis altos de triglicéridos umas horas depois de ter comido é um factor de risco cardiovascular e está associado a uma maior probabilidade de padecer de problemas de coração.

Segundo Florbela Mendes, «a maioria das análises clínicas são feitas em jejum (recomenda-se um jejum de 12 horas) para resultados mais reais. No entanto, apesar da medição de triglicéridos no sangue poder ser efectuada em jejum, a medição do mesmo em período pós-pandrial (após a refeição) pode conduzir a informação que, à partida, não estaria disponível apenas com a medição isolada dos triglicéridos em jejum.

De facto, os níveis de triglicéridos em jejum e pós-prandial apresentam valores preditivos similares para o desenvolvimento da doença coronária. Portanto, podem ser medidos em ambas as situações».

O descafeinado aumenta o colesterol

Segundo um estudo da Associação Americana do Coração, o café descafeinado poderá causar um aumento de LDL e elevar os níveis da apolipoproteina B (Apo B), associada à síndrome metabólica. No estudo, o grupo que tomou descafeinado tevem uma subida dos seus ácidos gordos.

De acordo com Florbela Mendes, é prematuro tirar conclusões de um estudo isolado. «Não se devem tirar conclusões baseadas apenas em um estudo».

A cerveja baixa os triglicéridos

De acordo com investigadores da Universidade de Valência (Espanha), que elaboraram um estudo sobre a cerveja, o lúpulo, um dos ingredientes da cerveja, evita a oxidação das células e, para além disso, diminui os níveis de colesterol total e triglicéridos.

Os autores verificaram uma diminuição das proteínas de LDL em 8%, o que poderia indicar que esta bebida protege estas proteínas da oxidação. O consumo de quantidades moderadas de cerveja sem álcool diminuiria, assim, o dano oxidativo e aumentaria a defesa dos radicais livres.

«As bebidas alcoólicas são uma das principais responsáveis pelo aumento dos níveis de triglicéridos no sangue, por isso, o seu consumo deve ser moderado», refere Florbela Mendes. «A cerveja, por ter um reduzido valor alcoólico, quando comparada com certas bebidas destiladas, pode ter um efeito menos marcante», acrescenta.

Cinco vegetais que defendem as artérias

Um estudo recente demonstrou que incluir na dieta cinco vegetais (brócolos, feijão verde, milho, ervilhas e cenouras) reduz o endurecimento das artérias 38 por cento mais do que uma dieta pobre em legumes. Demonstra-se assim o papel que as verduras desempenham na hora de prevenir a arterosclerose, os ataques de coração e a formação de coágulos.

«O consumo de todos os vegetais e leguminosas é fundamental para a saúde, pela sua riqueza em vitaminas antioxidantes, acrescido pelo facto de serem ricos em fibra e ajudarem a reduzir a absorção do colesterol», comenta Florbela Mendes.

Tangerina combate o colesterol infantil

Um estudo elaborado pelo departamento de Pediatria, Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de Valência, que acaba de ser publicado no Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutritrion, assegura que o consumo regular de tangerina pode diminuir o risco cardiovascular na população infantil e prevenir o excesso de colesterol.

De acordo com Florbela Mendes, «a fruta em geral é aconselhável a quem quer baixar os níveis de colesterol, pois é rica em fibras insolúveis (pectina), para além de conter vitaminas antioxidantes que protegem as artérias dos processos oxidativos. A maçã e a laranja, ricas em pectina, são um bom exemplo disso».

A toranja prejudica o tratamento do colesterol

Alguns estudos mostram que a toranja pode interferir nos efeitos dos medicamentos com simvastatina, usados para combater o colesterol elevado.

«A absorção das estatinas pelo trato gastrointestinal recebe a influência da ingestão de alimentos. A sua absorção intestinal aumenta cerca de duas vezes quando administrada com alimentos, e a sua eficácia é prejudicada em cerca de 1/3 quando tomada com refeições ricas em gordura», explica Fernanda Fogaça.

«As estatinas são absorvidas no intestino e extraídas do sangue na primeira passagem pelo fígado. Nas células hepáticas, são metabolizadas pelo citocromo P450 (3A4) e transformadas em metabólitos activos e inactivos. Estudos demonstraram que o sumo de toranja inibe o citocromo P450 3A4, pelo que a sua ingestão deverá ser evitada durante o tratamento com simvastatina», acrescenta.

Cuidado com as gorduras trans

As gorduras trans (gorduras vegetais hidrogenadas, ou seja, transformadas pelo homem) são as mais prejudiciais entre as insaturadas, sendo mesmo «mais nefastas para o organismo que as saturadas», alerta a nutricionista Florbela Mendes.

O problema é que, segundo a especialista, «são das mais utilizadas na indústria alimentar, porque dão sabor e prolongam o prazo de validade dos alimentos», podendo passar despercebidas, nos rótulos, sob a designação gorduras vegetais hidrogenadas. Encontram-se sobretudo em aperitivos, comida pré-cozinhada, bolos de pastelaria e secos, entre outros. Esteja atento!

Texto: Rita Caetano com Florbela Mendes (nutricionista)