Sem qualquer queixa ou sinal de doença, foram os antecedentes familiares e a noção de que tinha outros fatores de risco associados à osteoporose que levaram Maria José Gandra a submeter-se a uma densitometria óssea aos 45 anos, antes do que é usual para a maioria das mulheres. Médica anestesista aposentada, hoje à beira dos 65 anos, relembra os porquês dessa opção. «Fui fumadora durante 20 anos, tive uma menopausa precoce e uma vida muito sedentária», desabafa.
«Chegava a trabalhar 70 horas por semana e não tinha tempo para fazer exercício», conta ainda. Após a confirmação de que tinha a massa óssea fragilizada, Maria José Gandra temeu as complicações que a osteoporose acarreta. «A fratura do colo do fémur é a que mais me assusta, pois tem uma taxa de mortalidade superior à do cancro da mama: morrem cinco vezes mais mulheres devido a este tipo de fratura do que com cancro da mama», sublinha.
O facto de ser uma doença silenciosa, que «apenas provoca dores na coluna já numa fase avançada», obriga Maria José Gandra a ter cuidados redobrados para prevenir quedas e fraturas espontâneas. «O simples ato de pegar numa criança ao colo coloca em risco os ossos longos do braço ou do punho, bem como os das vértebras. São fraturas igualmente assustadoras e silenciosas», alerta.
Em casa, em 2012, a preocupação estende-se à sua mãe, de 84 anos, afetada por osteoporose acentuada. «Neste momento, tem apenas 25% de massa óssea e está muito deformada. Perdeu cerca de 20 centímetros de altura e tem muitas dores nas costas. Alerto-a frequentemente para os riscos de sofrer uma fratura e nunca a deixo sair de casa sem bengala», revelava na altura, em entrevista.
A necessidade de reinventar o estilo de vida
«Quando era jovem», recorda, «não se falava muito nesta doença». «Eu bebia leite, mas creio que, por exemplo, nem existiam iogurtes. Não sei se na juventude consegui, através da alimentação, fortalecer os meus ossos», questiona. Nos últimos anos, tem sido precisamente a alimentação o seu trunfo para se defender da osteoporose, pondo em prática uma dieta saudável associada a exercício físico regular.
As caminhadas de três horas por semana e a alimentação rica em cálcio são já a sua rotinas. «Obrigo-me a deixar o carro longe para andar mais, continuo a aumentar a ingestão de cálcio através do consumo de leite, iogurtes, queijo, sumo de laranja e sopa de legumes», revela. Para além destes alimentos, Maria José Gandra destaca ainda outras fontes de álcio, como o «salmão, as cavalas e as sardinhas de conserva que ingerimos com a espinha, rica neste mineral».
Aos seus hábitos diários passou a adicionar também cuidados redobrados. «Quando vou ao supermercado tento carregar pouco peso, o que me obriga a lá ir mais frequentemente. Nunca uso saltos altos, utilizo sapatos confortáveis, com sola de borracha que adere bem ao chão, para evitar quedas», afirma ainda.
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Impedir a deterioração óssea
Evitar a evolução da doença tem sido o principal objetivo de Maria José Gandra que não segue atualmente uma terapêutica farmacológica para debelar esta doença. Para além de cumprir à risca um plano alimentar e de exercício para anter os níveis de osteopenia estagnados, é acompanhada por um médico de medicina interna e faz uma densitometria óssea a cada dois anos para avaliar o estado dos seus ossos. O seu empenho tem dado frutos.
«Na verdade, o patamar da minha doença tem-se mantido. Não evoluiu muito graças aos cuidados que tenho ao nível da alimentação e da atividade física, caso contrário, neste momento, já teria osteoporose», assegura. Maria José Gandra não tem dúvidas que inevitavelmente, com o decorrer dos anos, essa doença atingi-la-á, mas «isso só acontecerá muito mais tarde do que se não tivesse todos estes cuidados. Sabe-se que a partir dos 70 anos a perda de massa óssea é mensal».
Alertar os portugueses
Voluntária na Associação Portuguesa de Osteoporose (APO), no Porto, Maria José Gandra defende que a consciencialização do público para esta doença é essencial para a sua prevenção. «A APO tem feito um trabalho muito importante que é preciso manter», salienta, aplaudindo a «forte adesão que se tem verificado ao longo dos anos» às campanhas desta instituição, nas quais participa, esclarecendo o público para a importância da prevenção, uma vez que ainda há muita gente que continua a descurá-la.
Mas, apesar destas iniciativas, há ainda quem «não tenha consciência da importância do cálcio para a saúde dos ossos e a que alimentos o pode ir buscar. Esta doença começou a ser mais divulgada há alguns anos, mas muitas mulheres continuam a não fazer o rastreio», lamenta. «É importante acabar com os mitos que subsistem em relação ao leite e alertar para o fato de que tanto a obesidade, associada ao sedentarismo, como a magreza favorecerem o desenvolvimento da osteoporose», diz.
«Mais do que tomar suplementos de cálcio, o estilo de vida faz toda a diferença. De nada adianta tomá-los se, por exemplo, depois também se fuma ou se ingerem bebidas alcoólicas em excesso», refere ainda Maria José Gandra.
Os conselhos de Maria José Gandra para quem tem osteoporose:
- Use sapatos cómodos para evitar quedas.
- Evite pegar em pesos porque bastam pequenos gestos para fazer uma fratura na coluna ou no punho.
- Continue a beber leite, andar a pé e ser o mais ativo possível.
- Pratique pilates e fazer exercícios ligeiros para fletir os braços.
- Apanhe sol. A vitamina D, que a exposição solar permite sintetizar, ajuda à fixação de cálcio nos ossos.
- Não fume.
- Evite bebidas alcoólicas.
Texto: Cláudia Vale da Silva com edição de Nazaré Tocha
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