Muitos pais, talvez por falta de informação, não sabem como lidar com a enurese nocturna. Outros sentem vergonha em falar do assunto e muitos são assolados por mitos sem fundamento. Para resolver tais inquietações, o projecto “Pensar é Crescer” tem realizado algumas sessões de sensibilização aos pais e educadores onde podem participar, esclarecer dúvidas e aprender mais sobre esta disfunção. O Jornal do Centro de Saúde acompanhou uma das sessões e recolheu informações úteis para partilhar consigo.
Estivemos no Externato das Pedralvas, na Pontinha, a assistir a uma verdadeira aula com o pediatra Jorge Marcelino. A sessão, com o apoio da Ferring foi muito participada e ajudou os presentes a aprenderem mais sobre este problema que afecta crianças a partir dos cinco anos. A enurese nocturna define-se como a micção involuntária durante a noite, sobretudo a partir desta idade. “Este pode transformar-se num problema, tanto para a criança, como para os pais”, refere Jorge Marcelino, pediatra do Hospital da Luz. Os médicos pediatras são os especialistas mais indicados para diagnosticar a enurese nocturna porque conhecem o historial das crianças e eventualmente podem encaminhá-las para outra especialidade se assim entenderem.
Se a criança entrar para a escola e continuar a fazer chichi na cama, deve encarar-se tal facto como um sintoma de alerta. Por norma, as crianças enuréticas molham a cama mais do que uma vez por noite. A escola assume um papel fundamental na dinâmica do ritual da ida colectiva à casa de banho. Jorge Marcelino confirma que “na grande maioria das vezes, a criança aprende, beneficiando com o sucesso dos amiguinhos e costuma correr tudo bem”, adiantando que “os pais devem cooperar com os educadores e apoiarem a criança em conjunto”. A própria criança costuma dar sinal quando quer “tirar a fralda” e demonstra que “já é capaz de passar para o bacio”. O pediatra Jorge Marcelino sublinha a importância de ser criado um ambiente seguro e tranquilo à criança nesta fase transitória.
Existem ainda outros casos a ter em atenção, como o nascimento de um irmão ou o divórcio conflituoso dos pais que podem provocar “episódios temporários de enurese secundária”. Não ignore os alertas que o seu filho lhe der!
História familiar
Esta disfunção tem uma grande prevalência hereditária. Segundo o site www.chichinacama.pt, “existe um índice de 44% de ocorrência de enurese nocturna se um dos pais for enurético, e de 77% se ambos (pai e mãe) tiverem sido enuréticos”.
“Algumas vezes encontramos um passado familiar de enurese nocturna”. Para Jorge Marcelino, esta constatação é fundamental na forma como os pais irão lidar com este problema. “É muito interessante verificar que, por vezes, existem pais e mães que não resolveram interiormente esta questão. Nestes casos, vão ter alguma dificuldade em lidar com a situação do seu filho. Muitas vezes, eles próprios não perceberam porque é que aquilo lhes aconteceu e quais os mecanismos envolvidos. Pode acontecer desde uma grande compreensão sobre o que está a acontecer ao seu filho ou quase uma necessidade de esconder todo o processo da criança e culpabilizarem-na por esse problema”, diz-nos. É preciso ter a noção de que a criança “não é consciente nem responsável voluntariamente por esta situação”, esclarece o pediatra.
O facto de muitos pais não se fecharem e não falarem sobre este assunto pode também dever-se ao facto “de pensarem erradamente que os médicos não têm soluções para o problema”.
Como tratar?
Cada caso é avaliado individualmente. “Ao fim de seis meses a um ano, 60% das crianças têm sucesso no tratamento através de medicamentos antidiuréticos. Existe também sucesso terapêutico com o recurso ao alarme. A conjugação dos dois confere um controlo de 80 a 85%, quando bem indicado”, assinala Jorge Marcelino.
A conjugação dos dois confere um controlo de 80 a 85%, quando bem indicado”, assinala Jorge Marcelino. Sabe-se que aproximadamente 70% das crianças com enurese nocturna, nunca chega a receber qualquer apoio médico. No entanto, existem medidas simples que ajudam a criança a ultrapassar esta perturbação. Participe activamente nas mesmas e esteja atento aos sinais.
É fácil entender que vale a pena tratar e procurar um centro especializado quando necessário. “Os pais devem ultrapassar esta dificuldade e conseguir encontrar um médico que faça a gestão do problema porque é muito complicado para a família tentar a resolução por si própria”, explica o pediatra.
Conselhos aos pais
Para a enurese nocturna ser ultrapassada, é preciso que a criança esteja motivada a melhorar. Mas não só, pois a colaboração dos pais é de extrema importância. E para ajudar a criança, para além de a levar ao médico, os pais devem:
• Alterar os hábitos prejudiciais, como beber líquidos antes de ir para a cama;
• Lembrar a criança de fazer chichi antes de se deitar;
• Não falar com outras pessoas sobre este assunto quando o filho está presente;
• Não envergonhar ou castigar a criança;
• Incentivar o filho enurético. Este incentivo pode ser feito através de várias brincadeiras. Como por exemplo, um jogo onde a criança, num cartaz com os dias da semana, cola uma cara sorridente quando não faz chichi, ou uma bola amarela quando faz;
• Certificar-se que a criança toma banho de manhã, para evitar o desagradável odor a urina que o "denunciaria" entre os colegas na escola;
• Ajudar a criança a responsabilizar-se pela sua enurese, nomeadamente deixando-o participar na discussão do problema, assim como na tomada de decisões;
• Deixar e incentivar a criança a ajudar na muda da cama e do pijama, pois tal ajudará a criança a ultrapassar o problema e a participar na resolução do seu problema;
• Remover sentimentos de culpa e mostrar à criança que a enurese é uma situação frequente e que atinge outras crianças;
• Fazer com que a criança faça "exercícios" da bexiga, como seja tentando fazer um intervalo cada vez maior entre a vontade e a ida à casa-de-banho; e ainda ensinar o enurético a controlar o jacto urinário, aprendendo a interrompê-lo.
• Evitar a utilização de fraldas, o que provocaria um retrocesso na criança.
Estas e outras informações podem ser consultadas em www.chichinacama.pt
Texto: Cláudia Pinto
A responsabilidade editorial e científica desta informação é do jornal
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