A cada dia que passa surgem novas razões para nos sentirmos mais optimistas em relação ao futuro e, aos poucos, vencer o tabu que ainda paira à volta da palavra cancro.
Os tratamentos são cada vez mais certeiros e os avanços científicos não têm abrandado.
Já é possível usar células do próprio corpo, corrigir o ADN e matar as células malignas com uma precisão eficaz e minuciosa. Para que conheça as mais recentes descobertas médicas na luta contra o cancro, entrevistámos vários especialistas que nos explicam o que está a ser feito na vanguarda da investigação médica.
TERAPIA GENÉTICA
Consiste na correcção de anomalias que podem existir no genoma, ou seja, o nosso material genético. «O genoma tem a informação genética responsável por todas as funções do organismo e todas as nossas características», explica Sérgio Barroso, oncologista.
«Em determinadas circunstâncias alguns desses genes têm anomalias e como consequência surgem determinadas doenças. A terapia genética tenta corrigir a anomalia de forma a que as células possam voltar a funcionar normalmente», continua. Esta correcção é feita através da substituição, em laboratório, da parte alterada por uma parte normal de material genético.
Eficácia
Como as doenças oncológicas resultam de anomalias do ADN, «teoricamente e numa fase mais avançada, poderá servir para todos os tipos de cancro, pois a base de funcionamento é a mesma. Agora é preciso ver na prática o que funciona», afirma Sérgio Barroso.
Disponibilidade
Está na fase inicial de investigação.
«Nos próximos anos teremos seguramente novidades nesta área», declara o especialista.
Veja na página seguinte: O recurso às células estaminais para combater a doença
CÉLULAS ESTAMINAIS
O tratamento consiste na injecção directa das células estaminais no local da lesão, pois «como são células muito indiferenciadas, têm a capacidade de se tornar nas células do novo órgão», explica a oncologista e investigadora Isabel Leal Barbosa.
Actualmente o transplante de medula óssea não é mais do que o transplante de células hematopoéticas, ou seja, células estaminais adultas.
«Temos sempre células estaminais connosco, na medula óssea e em vários órgãos. Aliás, nos últimos anos descobriu-se que as células estaminais estão presentes em mais órgãos e tecidos do que inicialmente se pensava», explica Isabel Leal Barbosa.
Eficácia
Este tratamento já se revelou eficaz no combate a leucemias, linfomas e tumores. Contudo, «os doentes com leucemia não podem receber células estaminais deles próprios, por isso são fundamentais os bancos de dadores», alerta a investigadora.
Disponibilidade
As células estaminais já são utilizadas na clínica diária, mas a taxa de sucesso depende muito do tipo de doença e da idade do paciente. A utilização de células estaminais embrionárias existe há pouco tempo em Portugal, mas já provou resultados positivos «o princípio é exactamente o mesmo, as células estaminais São iguais às adultas, a vantagem é que em caso de necessidade a recolha já está feita» explica Isabel Leal Barbosa.
Veja na página seguinte: O poder dos anticorpos monoclonais
ANTICORPOS MONOCLONAIS
São substâncias químicas que se ligam à célula tumoral ou a uma parte específica dessa célula e que vão conduzir à destruição da célula maligna.
«É como ter um míssil dirigido a um determinado alvo específico, o anticorpo monoclonal é o míssil e a célula maligna, o alvo a destruir» explica Sérgio Barroso. Estes medicamentos são utilizados em conjunto com a quimioterapia.
Eficácia
Já é feita a utilização clínica de vários anticorpos monoclonais, eficazes contra a leucemia,
cancro da mama e do intestino grosso. Também é usado um anticorpo anti-angiogénico
que impede a formação de vasos sanguíneos
nos tumores que, desta forma, ficam sem irrigação e acabam por morrer.
Disponibilidade
Como todos os tipos de cancro
são diferentes e esta é uma substância específica,
por cada novo anticorpo é necessária uma investigação que pode demorar vários anos. «O objectivo é encontrar um anticorpo para as várias doenças oncológicas que aparecem» afirma Sérgio Barroso.
Veja na página seguinte: Os benefícios da radioterapia
RADIOTERAPIA
As técnicas de tratamento de radioterapia evoluíram bastante nos últimos anos.
«Cada vez mais é possível conseguir meios de imobilização precisos e eficazes de maneira a que possamos aumentar a segurança e assim libertar doses mais elevadas para atingir melhores resultados», explica o radioterapeuta Pedro Chinita.
A Radiocirurgia é um dos maiores expoentes de precisão, «Uma técnica minimamente invasiva que liberta uma dose muito elevada, numa só sessão e tão localizada, que tem um impacto mínimo sobre os tecidos normais adjacentes», diz.
Outra grande inovação é a tentativa incorporar o movimento dos órgãos ou da respiração na ocasião da irradiação, «é o chamado Respiratory Gating, em que a máquina acompanha os mais imperceptíveis movimentos, como a respiração, e só dispara, por exemplo, na inspiração», descreve.
Eficácia
A radiocirurgia é indicada em tumores e patologias benignas do cérebro. No cancro do pulmão utiliza-se o Respiratory Gating.
Disponibilidade
Estas técnicas já têm utilização clínica em Portugal.
Texto: Raquel Amaral com Sérgio Barroso (oncologista), Isabel Leal Barbosa (oncologista) e Pedro Chinita (radioterapeuta)
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