A deteção precoce continua a ser um desafio, pois menos de 40% dos doentes apresentam doença localizada no momento do diagnóstico e, atualmente, ainda não existe um rastreio do cancro do pulmão implementado a nível populacional, sendo que a ferramenta para o diagnóstico precoce é procurar a ajuda do médico sempre que surjam sintomas, como por exemplo, sangue na expectoração, tosse persistente, falta de ar, dor ao respirar, perda de apetite ou de peso inexplicado. É importante realçar que estes sintomas surgem em muitas outras doenças que não o cancro e que, por isso mesmo, devem ser avaliados e contextualizados pelo médico.
Na designação de cancro do pulmão, existem dois grandes grupos: o cancro do pulmão de pequenas células (15%) e o cancro do pulmão de não pequenas células -CPNPC (85%). Neste último, incluem-se o carcinoma epidermóide, o adenocarcinoma e o carcinoma de grandes células. Cada um destes tipos de cancro tem características diferentes e os tratamentos eficazes são diferentes de acordo com o tumor, devendo também ser adaptados às particularidades de cada doente. No entanto, embora de forma mais significativa no CPNPC, temos assistido a avanços científicos importantes que permitem uma melhoria franca da sobrevivência e qualidade de vida destes doentes.
O paradigma no tratamento do cancro do pulmão está, assim, em mudança, contribuindo para tal a investigação contínua, o conhecimento das características moleculares do tumor e a interação com o sistema imunitário, que têm permitido o desenvolvimento de novos fármacos.
Destaca-se o desenvolvimento de imunoterapia, que levou à atribuição do prémio da Warren Alpert Foundation, em 2017, a James Allison, Lieping Chen, Gordon Freeman, Tasuku Honjo e Arlene Sharpe, confirmado no ano seguinte pelo prémio Nobel para a Medicina e Fisiologia a Tasuku Honjo e James Allison.
A evolução tem sido enorme ao nível dos tratamentos, quer na doença localizada, quer na doença avançada. Na doença localizada, surgiram novas técnicas de cirurgia, radioterapia e combinações terapêuticas. A título de exemplo, no CPNPC localizado inoperável, o tratamento de imunoterapia após radioterapia e quimioterapia conseguiu diminuir o risco de mortalidade em cerca de 30%, estando também associado a melhoria da qualidade de vida.
Na doença avançada, as terapêuticas alvo, imunoterapia, combinações de imunoterapia e/ou quimioterapia conquistaram mais tempo de vida e melhor controlo dos sintomas.
Em doentes com CPNPC metastizado, o tratamento de imunoterapia de primeira linha, com ou sem associação a quimioterapia, tem demonstrado uma diminuição do risco de morte entre 35% a 44 %.
Já no cancro do pulmão de pequenas células, as combinações de imunoterapia com quimioterapia têm permitido reduzir a mortalidade em 24% a 25%.
Ao mesmo tempo, também se registou uma evolução significativa no desenvolvimento de medicamentos destinados ao controlo de sintomas causados pelo tratamento, como por exemplo, para evitar as náuseas.
A investigação e os ensaios clínicos realizados têm contribuído de uma forma extraordinária para os avanços na abordagem do cancro do pulmão, decisivos para o desenvolvimento de novas terapêuticas.
Os resultados são, sem dúvida, promissores e juntam-se ao compromisso das equipas assistenciais envolvidas na prevenção, no diagnóstico, no tratamento, e apoio ao doente e cuidadores, lutando para a melhoria da qualidade de vida e sobrevivência.
Um artigo de Fernanda Estevinho, médica oncologista no Hospital Pedro Hispano em Matosinhos.
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