Esta patologia afeta, em média, menos de um em cada 100.000 homens. O cancro do pénis é "um tumor maligno, que atinge normalmente a glande peniana e tem uma elevada taxa de agressividade e mortalidade", descreve o urologista Nuno Monteiro Pereira. Trata-se de um tipo de tumor raro, principalmente nos países desenvolvidos, onde o nível de vida e a cultura da saúde favorecem os bons hábitos de higiene, que são essenciais para a prevenção desta doença.
De acordo com a American Cancer Society, uma associação norte-americana que reúne especialistas em medicina, cerca de 95% destes cancros desenvolvem-se a partir de células escamosas, da glande ou do prepúcio, caracterizando-se, segundo o urologista, como uma "ferida persistente que não cicatriza". Esse é, de acordo com Nuno Monteiro Pereira, um dos sintomas que exigem uma observação imediata, apesar de existirem outros a ter em conta.
Sinais de alarme
- Ferida persistente que não cicatriza
- Lesão indolor sob a forma de um nódulo, pequeno e arredondado, ou mancha avermelhada, que aumenta de volume lentamente
- Alteração da espessura da pele do pénis
- Inchaço na extremidade do pénis
- Endurecimento do pénis
- Alteração no odor, em fase avançada
Embora se possa tratar de uma situação benigna, caso detete os sintomas acima descritos, assim como a erosão da epiderme nessa zona corporal, úlcera e/ou ainda dor ou irritação no prepúcio, no pénis ou na glande, é aconselhável que procure um médico urologista, logo que possível, para que o especialista possa fazer um diagnóstico adequado atempadamente. Este gesto pode salvar-lhe a vida, pelo que não deve menosprezar os sinais que o seu organismo lhe vai dando.
As principais causas
Os cientistas acreditam que os tumores no pénis são causados pelas secreções que se acumulam por baixo do prepúcio, provocando uma irritação persistente e o consequente desenvolvimento de infeções que podem favorecer a transformação maligna das células. Assim se explica que os homens circuncidados tenham menos probabilidade de o desenvolver. Segundo a American Cancer Society, em cerca de 50% dos casos observados é detetada uma infeção por HPV.
Este dado leva alguns investigadores a defender a teoria desta infeção, causada pelo o vírus do papiloma humano, poder ser uma das causas deste tipo de tumor. De acordo com o urologista, "essa suspeita ainda não foi cientificamente comprovada". Nos EUA, ao contrário do que sucede com outros tipos de cancro, a mortalidade associada aos do pénis, o do ânus, o do cérebro, o do fígado e o do útero tem vindo a aumentar, tal como sucede com o do fígado nos homens.
Os grupos de maior risco
Os investigadores consideram que esta doença, associada à falta de cuidados de higiene, ocorre em idade avançada, mais a partir dos 70 anos. Nuno Monteiro Pereira refere que "não é frequente" nos jovens. "A falta de higiene ao longo da vida promove as alterações tróficas lentas, que mais tarde podem degenerar num tumor", adverte o especialista, que destaca a importância do rastreio para as pessoas que padecem de fimose, incapacidade de retrair o prepúcio. "Existe um maior risco nesses homens porque essa situação não lhes permite uma boa limpeza nem a deteção de uma possível ferida", alerta o médico.
As melhores formas de prevenção
O fator mais importante para a prevenção desta doença é uma boa higiene genital. A utilização do preservativo diminui, à partida, a infeção das doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente o HPV, embora não proteja totalmente, sendo que este vírus é transmitido não só através do contacto dos fluidos genitais, como pelo contacto da pele. "Outro fator terrível é a vergonha que os doentes sentem ao falar deste assunto", refere Nuno Monteiro Pereira.
Segundo o especialista, os doentes "podem suspeitar de qualquer coisa mas, como se trata do pénis, adiam a ida ao médico, o tumor avança e, a partir de uma certa altura, o tratamento pode já ser tardio", adverte o médico. Deste modo, quanto mais cedo for feito o diagnóstico desta doença, mais hipóteses o doente tem de se curar e de evitar uma intervenção radical que pode mesmo implicar a amputação parcial ou total do pénis, uma das consequências mais graves.
Os tratamentos a que os médicos podem recorrer
A cirurgia é o principal tratamento utilizado para quase todos os tipos de cancros do pénis. É feita através da extração cirúrgica da lesão maligna e dos tecidos circundantes que possam ter sido invadidos. No caso de ser detetado na fase inicial, o tumor pode ser eliminado através de sessões de braquiterapia, um tipo de radioterapia local que utiliza agulhas radioativas que entram em contacto direto com o tumor de modo a não atingir os tecidos vizinhos.
A quimioterapia, outro dos recursos, "só se faz em casos avançados, ou seja, quando o tumor se expande para as zonas envolventes e depois para outras partes do corpo", diz Nuno Monteiro Pereira. A circuncisão pode curar cancros que estão limitados ao prepúcio. A técnica chega a ser usada com a terapia de radiação, que causa inchaço e estreitamento prepucial, havendo possibilidade de originar outros problemas, incluindo infeções e obstruções urinárias.
"Não é necessário estar numa fase muito avançada para se proceder à amputação do pénis", garante o urologista. Por se tratar de um tumor bastante agressivo que se pode espalhar precocemente, Nuno Monteiro Pereira refere que "a amputação pode ser apenas na zona da glande ou de todo o pénis". "Nas situações mais avançadas, há mesmo a possibilidade de se extrair os testículos", acrescenta. "A amputação tem efeitos complicados", refere ainda.
"A perda do pénis parcial ou total é dramática, não só ao nível da autoestima e da autoimagem do homem, como também para a sua função sexual", realça o especialista. "Um homem que perde o seu pénis nunca mais se sentirá o mesmo, particularmente no que se refere à sua masculinidade", refere ainda o urologista. A taxa de sucesso dos tratamentos é muito variável, dependendo do grau em que o cancro for detetado, daí a importância do diagnóstico atempado.
Os cuidados preventivos e a procura de ajuda especializada logo que surjam os primeiro sinais são pois estratégias essenciais. Como refere Nuno Monteiro Pereira, "caso este cancro seja tratado precocemente, a pessoa pode ficar curada". O herpes genital, as verrugas penianas, a sífilis, a sarna, o cancróide e a psoríase são outros dos problemas que podem afetar o pénis masculino. Manter bons hábitos de higiene é uma das formas de os prevenir e/ou atenuar.
Texto: Cláudia Vale da Silva com Nuno Monteiro Pereira (urologista)
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