O cancro colorretal tem-se “transformado”, de doença quase sempre fatal, numa doença crónica que deve permitir ao paciente que foi submetido a tratamento, uma qualidade de vida cada vez melhor.
Para prevenir ou reduzir ao mínimo os efeitos secundários, relacionados com a doença e/ou com a terapêutica, a intervenção da reabilitação deve ser incluída num protocolo multidisciplinar para doentes com cancro colorectal.
Reabilitação pré-operatória - “Prehabilitação”
É um programa reabilitativo para aumentar a capacidade funcional e psíquica do doente face a um acontecimento stressante - a cirurgia.
Pode incluir exercícios respiratórios, treino de tosse, exercícios de relaxamento, exercícios que favoreçam a circulação sanguínea nos membros inferiores, exercícios de fortalecimento e treino de marcha para facilitação da recuperação após a cirurgia.
Reabilitação pós-operatória dos efeitos relacionados com a doença e/ou tratamento
Após a intervenção cirúrgica e /ou quimioterapia e radioterapia várias complicações podem acontecer e a Medicina Física e Reabilitação tem um papel ativo na sua melhoria/resolução.
Podem ocorrer alterações do trânsito intestinal, diminuição da consistência das fezes, aumento da frequência de dejeções, dificuldade em evacuar e, mesmo, incontinência fecal.
Pode também existir disfunção urinária e vesical, como incontinência urinária.
O linfedema, inchaço nos membros inferiores, muitas vezes resulta da terapêutica com radiação.
Opções terapêuticas em reabilitação
Por exemplo, na Unidade de Medicina Física e Reabilitação onde trabalho o tratamento visa melhorar a função intestinal e, consequentemente, a qualidade de vida do paciente.
Para tal, é hoje possível fazer recurso a técnicas que pretendem recuperar a força, o tónus e a endurance da musculatura pélvica e são a 1ª linha de tratamento para recuperação da função anorretal antes de se adotarem medidas mais invasivas.
Biofeedback
É uma terapia que permite aos doentes, atraves de um ecran, monitorizar a atividade da musculatura do pavimento pélvico proporcionando uma maior consciencia e compreensão do movimento - isolando a contracção do pavimento pélvico e do esfincter anal, com o objectivo de aumentar a força e resistencia dos mesmos.
Eletroestimulação
A corrente elétrica recruta, os músculos do pavimento pélvico, os esfincteres e o suporte nervoso. Tem como objetivo: reeducar e fortalecer os musculos do pavimento pélvico, fornecer consciencia proprioceptiva, com foco no esfincter anal externo.
Estimulação percutânea do nervo tibial
É feita a estimulação do nervo tibial posterior ao nível do tornozelo no tratamento da incontinência fecal pós cirurgia. O mecanismo de ação não é preciso, mas pensa-se que poderá atuar estimulando os nervos sagrados que regulam as funções da bexiga e intestino.
Fisioterapia descogestiva complexa
Usada para o tratamento do linfedema.
A terapêutica envolve a realização de fisioterapia descongestiva complexa (drenagem linfática manual, cinesioterapia, técnica de “bandage”, cuidados com a pele e educação) e deve iniciar-se imediatamente após a instalação do linfedema.
Estas técnicas de reabilitação devem ser realizadas por um fisioterapeuta especializado nesta área e podem usar-se individualmente ou em combinação. E, importa alertar, que mesmo no contexto de pandemia que vivemos, estes tratamentos estão disponíveis e são aplicados contemplando procedimentos e circuitos que garantem a segurança dos doentes e profissionais de saúde. Por isso, adiar a sua realização por receio de frequentar unidades de saúde não pode ser um motivo.
É de extrema importância a reeducação do estilo de vida, ingestão de líquido e intervenções alimentares, isoladamente ou em conjunto com as técnicas acima descritas. Com isso é possível melhorar os sintomas causados pelo distúrbio anorectal e fornecer ao doente uma melhor qualidade de vida.
Um artigo da médica Ana Cristina Miranda, fisiatra no Hospital CUF Tejo.
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