Durante uma intervenção cirúrgica, os cirurgiões vivem restrições na manipulação de exames, devido à necessidade de manter a esterilização. Para aceder e manipular os mesmos, têm de utilizar o rato ou o teclado de computador, requerendo novamente um processo de esterilização ou depender da manipulação de terceiros, através das suas instruções.

Todavia, a aplicação informática YScope veio mudar tais procedimentos. Foi lançada pela YDreams, empresa global especialista em interfaces naturais, e pelo Hospital de Santa Maria – Centro Hospitalar Lisboa Norte.

 Por Sofia Filipe

Para o engenheiro Fernando Nabais, investigador e gestor do Projecto YDreams, desenvolver o YScope significou uma oportunidade e um desafio de aplicar a experiência de interação humano-máquina a um contexto muito particular e exigente como é o do bloco operatório. Em entrevista ao HdF explicou em que aspeto esta aplicação vem revolucionar algumas práticas na sala de operações, bem como particularidades e o que é esperado no futuro.

Hospital do Futuro (HdF): O que é que o YScope tem de revolucionário, sobretudo em relação a outras aplicações semelhantes?
Fernando Nabais (FN): A revolução baseia-se no facto de o cirurgião poder agora ter acesso a exames e outras imagens que julgue necessárias, dentro da sala de operações, sem que para isso tenha de comprometer o ambiente esterilizado.

Assim, a YDreams desenvolveu uma aplicação informática para integrar de forma fluida o processo de trabalho de um neurocirurgião dentro da sala de operações. Esta aplicação tem o objectivo de responder às necessidades sentidas por estes profissionais sem que estes tenham de ter contacto físico com qualquer dispositivo.

HdF: Como é feita a interação com esta aplicação informática?
FN: Através de um conjunto de gestos desenhados para acomodar condicionantes ergonómicas, permitindo ao cirurgião executar todo o tipo de operações necessárias à visualização e manipulação de exames durante uma cirurgia, mantendo a esterilização. A interação é feita apenas com uma mão, o que permite também que a outra possa estar ocupada com outra tarefa.

HdF: O que permite realizar o que antes era impossível?
FN:
Até agora os sistemas disponíveis obrigavam sempre à utilização de um teclado ou de um rato para executar este tipo de processos, o que implicava o recurso a outro profissional para executar a função, ou à esterilização consecutiva de cada vez que estes recursos eram usados pelos cirurgiões.

Mesmo os sistemas de manipulação por gestos já usados em contexto experimental obrigavam ao pré-carregamento da informação a usar em contexto cirúrgico, sem possibilidade de carregar novos exames e nova informação em tempo real.

Com o Yscope, via gestos naturais, o cirurgião pode carregar novos exames e seleccionar subconjuntos dos mesmos, em qualquer momento da cirurgia. As imagens seleccionadas podem ser manipuladas através de zoom, rotação, medições, brilho e contraste, entre outras funcionalidades. O YScope integra-se eficientemente na infra-estrutura informática de um hospital e permite ao cirurgião pesquisar o respectivo sistema de PACS e carregar os exames adequados.

HdF: Qual a tecnologia usada?
FN:
A tecnologia envolvida no YScope resulta da utilização de algoritmia de visão computacional, nomeadamente, com recurso a câmaras normalmente referidas como 3D. Estes algoritmos permitem interpretar os gestos do utilizador sem que seja necessário tocar num ecrã. Assim, o médico pode visualizar e manipular exames médicos mantendo o ambiente da sala de operações esterilizado, e não dependendo de outras pessoas.

HdF: Quanto tempo demorou a desenvolver esta aplicação?
FN:
A aplicação demorou aproximadamente um ano a ser desenvolvida, num trabalho conjunto entre a YDreams e o Hospital de Santa Maria.

HdF: Quais as expectativas, uma vez que inicia agora um período experimental?
FN:
O período experimental será dedicado a pequenos testes para ajuste às salas de neurocirurgia do Hospital de Santa Maria. As nossas expectativas são que a aplicação esteja implementada definitivamente o mais rápido possível, para que sirva o propósito para que foi desenvolvida: ajudar os médicos no seu quotidiano na sala de operações.

HdF: Acredita na banalização desta aplicação quer noutras salas, quer noutros hospitais além do Hospital de Santa Maria? Se sim, é possível prever quando?
FN:
Claro que esperamos que muitas instituições se interessem pelo YScope. A extensão a outras áreas do HSM está já a ser analisada. Ao nível internacional, apesar de termos plena consciência do potencial que esta tecnologia tem, não queríamos deixar de a dar a conhecer primeiro no nosso país. A previsão de tempo dependerá, obviamente do interesse.