Andar na rua, comer e dormir bem e não ter medo de mexer nas coisas fazem parte da receita de bem-estar e de protecção dos micróbios prescrita por António Brito Avô, pediatra e o responsável português pelo projecto
europeu e-bug, que visa informar sobre o uso correcto de antibióticos e vacinas.

Nos casos em que surge uma infecção bacteriana, os antibióticos resolvem o problema. Mas só devem usar-se «em caso de infecção grave, por pouco tempo e em dose adequada», insiste e recomenda
o especialista.

Que tipos de antibióticos existem?

Há muitos antibióticos (mais de 150), os mais conhecidos são os derivados da penicilina.
O antibiótico é indispensável para permitir a sobrevivência de milhares de pessoas, nomeadamente
recém-nascidos. Tivemos grandes pragas universais provocadas por bactérias que hoje estão praticamente controladas.

Actualmente, tudo corre bem. Em dez dias curamos uma meningite. Isso só é possível graças aos antibióticos. São uma arma poderosíssima.
Não pode é ser usada indiscriminadamente.

O que explica a falta de eficácia por vezes associada ao antibiótico?

O uso imoderado e às vezes irreflectido. Toda uma geração acreditou que a febre implica logo o recurso a antibiótico. Isso não é verdade. A grande maioria das infecções é provocada por vírus, curando-se em três, quatro dias.

O antibiótico
agride o organismo, mata as bactérias boas que há na oro-faringe da pessoa, mas há umas que ficam. Se formos repetindo o antibiótico, acabamos por seleccionar bactérias resistentes.
Há, hoje em dia, uma grande prevalência dessas bactérias nos infantários e creches.

É possível que uma criança nunca precise de tomar este medicamento?

Estatisticamente não, porque uma criança ao nascer não tem o sistema imunitário equipado
para reagir às infecções. Com a entrada no mundo real contacta com microrganismos que podem provocar infecções.

Felizmente, a grande maioria serão vírus que induzem no organismo uma capacidade de defesa que é memorizada e geralmente a criança é capaz de debelar a infecção sem antibióticos.

Essa é a principal distinção? Os vírus não precisam
de antibióticos e as bactérias sim?

Em princípio sim, porque as bactérias são microrganismos que têm alguns antigénios
que podem ser memorizados pelo sistema
imunitário, mas não sucumbem à acção desencadeada pelo organismo. Continuam a exercer a acção patológica, precisando de antibiótico.

O médico tem de ter tempo para distinguir uma infecção viral de uma bacteriana.
Há muitas otites, dores de garganta, gastrenterites e infecções respiratórias provocadas
por vírus. Não há razão para prescrevermos antibióticos a estes doentes. Ao fazê-lo só estamos a eliminar possibilidades
futuras de os usar.

O que acontece se não se tomar antibiótico no caso de uma infecção bacteriana?

Poderá afastar-se aparentemente
a infecção mas nunca se consegue
eliminá-la por completo, correndo o risco de se vir a ter uma infecção secundária. Tem mesmo de ser tratada.

Em que situações está o antibiótico
contra-indicado?

É preciso avaliar a doença e as eventuais contra-indicações, caso a caso, escolhendo o antibiótico
em função desses factores. É o médico que decide, informando
o paciente.


Veja na página seguinte: Durante quanto tempo devemos tomar um antibiótico

Durante quanto tempo devemos tomar um antibiótico?

De acordo com a prescrição do médico, geralmente
até ao fim da embalagem. Só assim se pode curar totalmente a infecção.

Quando deve ser interrompida a toma?

Se o doente tiver algum sintoma, como diarreia,
infecção vaginal, dores de estômago, erupções cutâneas ou náuseas deve voltar a falar com o médico.

É verdade que os antibióticos enfraquecem o organismo?

Não necessariamente. O que fazem, se consumidos
em grande quantidade, é exterminar também as bactérias úteis. Toda a flora bacteriana
que convive connosco (na boca, no sistema digestivo...) em equilíbrio ecológico é indispensável.

Como podemos reforçar as defesas? O iogurte
natural ajuda?

Sim o iogurte natural ajuda, bem como, tudo o que possa ajudar a repor a flora intestinal, com bactérias amigas, é sempre importante. Em casos de toma prolongada, o médico poderá recomendar a toma de leveduras, por exemplo.

É possível ultrapassar uma infecção recorrendo a vitaminas?

É irrealista pensar isso. A vitamina C, por exemplo,
é útil no controlo de situações infecciosas, mas não estimula a imunidade. Isso consegue-se com uma vida saudável ao ar livre, com alimentação e sono equilibrados.

Mas também devemos conviver com as bactérias desde pequenos, para termos imunidade. Há uns anos esterilizava-se tudo para os bebés. Isso hoje não faz sentido.


Antibióticos: guia de utilização

- Não tome no caso de ter infecções virais, nomeadamente constipação, gripe
ou tosse
- Informe o médico sobre outros fármacos que está a tomar, como a pílula
- Tome a dose certa
na hora certa. Não falhe as tomas
- Não guarde o que sobrar para uma
próxima vez


Texto: Joana Andrade