A simples forma da face, a postura, a tonalidade da pele e o tom da voz revelam um poderoso manancial de informação acerca de cada pessoa. Todos estes aspectos reflectem a vitalidade da nossa constituição, a qualidade dos alimentos que ingerimos e o estado de saúde dos nossos órgãos internos.

As técnicas de diagnóstico oriental são, assim, muito usadas nas consultas de medicina tradicional chinesa no sentido de nos conhecermos melhor a nós próprios e aos outros. A fisionomia, ou diagnóstico facial, tem milhares de anos e foi utilizada no Oriente e no Ocidente como um dos principais métodos de diagnóstico e de avaliação de carácter.

Entre muitas outras, personalidades como Pitágoras, Aristóteles, Avicena, Confúcio, os imperadores chineses, Shakespeare, Franz Joseph Gall, George Ohsawa e Michio Kushi ensinaram ou escreveram sobre esta arte.

Na realidade, cada um de nós utiliza o estudo da fisionomia quando analisa alguém: apercebemo-nos da forma da cara, cor da pele, ângulo dos olhos, forma da testa e muitos outros aspectos, e é com base nestas informações que, quase sempre inconscientemente, tecemos julgamentos sobre as outras pessoas.

O especialista Francisco Varatojo começou a estudar esta arte há mais de 30 anos com um dos seus principais peritos, Michio Kushi, e afirma “continuo a achar extraordinário a forma como todo o nosso corpo revela o que somos, como nos sentimos, o que se passa no nosso interior.

Não são apenas os olhos que são o espelho da alma, mas também todo o corpo, sem excepção, está afinado pelo mesmo diapasão, ao observarmos o microcosmos descobrimos o macrocosmos e vice-versa”.

Leitura do rosto
O mapa da face é um dos modelos mais usados na medicina oriental e na macrobiótica. Este faz a relação entre as diferentes áreas da face e os diversos órgãos. Parte assim do princípio que existe uma relação complementar e antagónica entre as zonas superior e inferior do corpo.

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A nossa cabeça funciona como uma forma contraída do corpo e este como uma forma expandida da cabeça, pelo que podemos facilmente relacionar áreas específicas. De acordo com o mapa da face, a boca representa o sistema digestivo.

O lábio superior mostra o estômago, enquanto o lábio inferior está relacionado com os intestinos. Já os cantos da boca representam o duodeno. Quaisquer sintomas, como alterações de cor, inchaço, rigidez, flacidez ou outros, podem mostrar desequilíbrios nos órgãos correspondentes.

Assim, por exemplo, um lábio inferior inchado é sinal de problemas intestinais enquanto o mesmo sintoma no lábio superior representa desordens estomacais. A zona à volta da boca está relacionada com o sistema reprodutor.

A ponta do nariz corresponde ao coração, enquanto a cana do nariz mostra o pâncreas e o estômago. As maçãs do rosto estão ligadas aos pulmões e ao sistema respiratório; o lado direito representa o pulmão direito e o lado esquerdo o pulmão esquerdo.

Por exemplo, maçãs do rosto muito inchadas e vermelhas denotam em geral expansão dos pulmões, enquanto umas bochechas encovadas e cinzentas mostram uma quebra das capacidades respiratórias. A zona por debaixo dos olhos está associada aos rins e à bexiga. As olheiras e o inchaço nesta zona reflectem debilidade nestes órgãos.

O espaço entre as sobrancelhas representa o fígado e a vesícula biliar. Rugas, alterações de cor, escamação de pele ou outros sintomas demostram problemas nestes órgãos. Por último, as arcadas supraciliares representam a vesícula biliar, as têmporas estão ligadas ao baço e ao sistema linfático e a testa aos intestinos, bexiga e órgãos reprodutores.

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Avaliação da pele
O estudo da pele é também uma ferramenta importante em diagnóstico. Neste sentido, existem significados para as diferentes colorações e condições cutâneas. A pele é o maior órgão do corpo humano e pesa entre 1,8 a 2,7kg. Uma pele saudável é bonita, elástica, brilhante e levemente húmida.

A pele reflecte muito do que se passa no interior, uma vez que funciona como órgão excretório. Quando os órgãos excretórios principais, como os intestinos, os rins ou o fígado, começam a ter dificuldade em eliminar o excesso, a pele pode começar a assumir a função de filtro de toxinas, surgindo assim os primeiros problemas dermatológicos.

De facto, surgem frequentemente alterações extraordinárias na condição da pele quando se começa a ter mais cuidado com a alimentação e quando o sistema digestivo começa a funcionar melhor. Em medicina oriental considera-se que, através das diferentes condições cutâneas, se pode aferir com bastante pormenor a condição geral de saúde de um indivíduo.

Aspectos como a cor, o grau de humidade ou secura, manchas, entre outros, são indicadores preciosos para um praticante de medicina oriental.

Colorações cutâneas
Cada ser humano tem uma tonalidade cutânea diferente, sendo as peles claras mais comuns nos países a norte e as peles mais escuras nos países a sul. No entanto, independentemente da nossa tonalidade ou raça, existem determinadas cores ou “sombras” que em medicina oriental podem indicar potenciais problemas:

Vermelho
A cor vermelha indica problemas relacionados com o coração, sistema circulatório e os intestinos. É provocada pela dilatação dos capilares originada pelo consumo excessivo de alimentos e bebidas, como o álcool, o açúcar ou as especiarias.

Amarelo
A tez amarelada é tradicionalmente associada com problemas de fígado. Em medicina oriental, considera-se que os órgãos mais afectados são o fígado e a vesícula, o pâncreas e os rins. Esta cor de pele é provocada por um consumo excessivo de produtos animais e, nalguns casos, por demasiados vegetais com betacaroteno.

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Branco
A cor de pele branca indica problemas do baço, sistema linfático (branco brilhante) ou pulmões (branco pálido). Pode ainda ser indicador de anemia. A causa está na contracção dos capilares provocada pelo excesso de sal, minerais ou produtos animais, especialmente sob a forma de lacticínios.

Castanho
Uma tonalidade acastanhada pode demonstrar problemas digestivos e/ou de rins e é causada por excessos de proteínas e de açúcares.

Roxo
Este tom representa problemas no sistema nervoso e endócrino ou problemas pulmonares e circulatórios, provocados pelo consumo excessivo de açúcar, medicamentos, drogas ou álcool.

Cinzento
Esta é uma cor cada vez mais comum nos dias que correm (e que reflecte um estado de espírito análogo). O cinzento está associado a desordens hepáticas e é provocado por uma alimentação muito desequilibrada.

Escuro
A cor escura tende a surgir mais sob a forma de “sombra”, em especial à volta da boca ou dos olhos e está associada aos rins e/ou órgãos reprodutores e/ou glândulas supra-renais. A causa alimentar reside especialmente no consumo de produtos químicos e de açúcar.

Observação e introspecção
Apesar de ser necessária bastante prática para usar correctamente as ferramentas do diagnóstico oriental, é, no entanto, possível através da simples observação, apercebermo-nos do desenvolvimento de alguns problemas básicos em nós mesmos ou nos outros.

No entanto, esta avaliação não substitui, de forma alguma, um diagnóstico médico, o qual é essencial para saber em detalhe o que se passa a um nível muito específico. Apesar disso, uma auto-observação bem estruturada, juntamente com uma introspecção honesta sobre o nosso estilo de vida, podem ajudar-nos a ajustar alguns hábitos de forma a resolver potenciais desequilíbrios.

Texto: Francisco Varatojo, director do Instituto Macrobiótico de Portugal (IMP)
Edição: Patrícia Velez Filipe
Fotografia: Dior
Agradecimentos: Instituto Macrobiótico de Portugal (IMP)