É uma resposta rápida, não específica e limitada aos estímulos estranhos ao corpo, constituída por barreiras físicas, químicas e biológicas, células e moléculas e está presente em todos os indivíduos.
Os componentes do sistema imunitário que participam na imunidade inata reagem de forma semelhante perante todas as substâncias estranhas e o reconhecimento dos antigénios não varia de pessoa para pessoa. O sistema imunitário adquirido aprende a responder a cada novo antigénio, sendo específico dos antigénios que o indivíduo encontra ao longo da vida.
As doenças autoimunes ocorrem quando o organismo produz uma resposta imunitária desapropriada contra os seus próprios tecidos. Com efeito, nestes casos, o sistema imunitário deixa de reconhecer um ou mais dos constituintes do organismo como sendo “do próprio” e inicia a produção de autoanticorpos, anticorpos que atacam as próprias células, tecidos e órgãos do indivíduo, provocando inflamação e dano tecidular. Os quadros clínicos são muitas vezes pouco específicos e o diagnóstico é o principal desafio, já que as doenças autoimunes podem ser confundidas com outras doenças.
A designação “autoimune” é aplicada a um largo espectro de doenças com diferentes etiopatogenias, mas que têm em comum muitos fatores que interagem de um modo ainda não totalmente esclarecido. Yehuda Shoenfeld e David Isenberg (1989 Immunology today) ilustraram a complexidade destas doenças, chamando-lhes o “mosaico da autoimunidade”, sublinhando que existem muitas peças dos mecanismos fisiopatológicos subjacentes aos processos humorais e celulares que contribuem para a autoimunidade e que são dependentes de fatores genéticos, hormonais, psicológicos e ambientais.
As doenças autoimunes são entidades complexas e multifatoriais, que atingem virtualmente todos os órgãos e sistemas, com uma assinatura única: a presença de um anticorpo ou de uma resposta celular que atue contra o “próprio”.
A característica comum às doenças autoimunes é o derradeiro mecanismo que envolve o desaparecimento da tolerância imunológica. A perda da autotolerância é um processo multifatorial do qual participam tanto fatores intrínsecos como extrínsecos. Causas intrínsecas estão relacionadas com características do próprio indivíduo, como polimorfismos de moléculas de histocompatibilidade, componentes da imunidade inata, componentes da imunidade adquirida como linfócitos e fatores hormonais, todos sob controlo genético. Fatores ambientais como infeções bacterianas e virais, exposição a agentes físicos e químicos, pesticidas e drogas, são exemplos de causas extrínsecas.
A autoimunidade pode resultar na destruição lenta das células, tecidos e órgãos com manifestações específicas conforme o órgão alvo.
Um artigo de Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica
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