A anorexia, a bulimia e as restantes doenças do comportamento alimentar não são exclusivas das mulheres. A anorexia é, também, um trastorno alimentar dos homens, ainda que esteja infradiagnosticado. Segundo um estudo de investigadores das universidades de Oxford e de Glasgow, no Reino Unido, é precisamente essa perceção generalizada de que só as mulheres sofrem transtornos da alimentação que dificulta a ação.

De acordo com os especialistas, essa ideia errada retarda a ajuda e o apoio necessários aos homens que padecem deste problema. Segundo o instituto que investiga e acompanha as doenças alimentares no território espanhol, apesar da média ser de nove mulheres por cada 10 doentes, os homens afetados por estas doenças rondam uma percentagem entre os 8% a 10% do total e são especialmente jovens que praticam (muito) desporto.

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É o caso de Antoine Gervais, que surge como um dos rostos do problema na internet depois de ter dado uma entrevista reveladora ao site canadiano leNouvelliste.

No início de 2017, o excesso de peso levou-o a um processo de emagrecimento com treinos intensivos no ginásio que o levaram a ultrapassar todos os limites. Tinha acabado de fazer 21 anos. A primeira coisa que fez foi adquirir uma balança. "Foi a pior compra que fiz na vida", assume hoje, aos 22.

Além de passar a alimentar-se à base de legumes e fruta, cortou com o açúcar, com a gordura, com a fast food e com o álcool, inscreveu-se-no ginásio e, fora dos treinos, ainda ia correr. Dois meses depois, tinha perdido 18 quilos. Os elogios não se fizeram esperar. "Boa, continua!", diziam-lhe os amigos, sem se aperceber da verdadeira transformação que se estava a operar no seu interior.

A obsessão pelas calorias dos alimentos

À medida que o tempo ia passando, o plano de Antoine Gervais convertia-se em paranoia. "Estava obcecado pela lista de ingredientes [que podia ingerir] e pelos [respetivos] valores nutritivos. Sabia-os de cor e alimentava-me em função deles para perder ainda mais peso. 14 cenouras mini tinham exatamente 35 calorias", exemplifica. Para conseguir cumprir o plano, deixou de ir ao restaurante com a família e com os amigos.

Só nessa altura é que os mais próximos se começaram a aperceber da obsessão. As constantes mudanças de humor, que variava consoante os números que a balança lhe apresentava sempre que se pesava, o que fazia várias vezes ao dia, também deram o alerta. Em seis meses, Antoine Gervais tinha emagrecido perto de 45 quilos. Uma manhã, ao ver que não tinha perdido peso face ao dia anterior, teve um ataque de pânico.

Os sinais que podem indiciar o problema

Assustado, foi pedir ajuda à mãe. "Não aguento mais", desabafou. Depois de procurar ajuda, iniciou o tratamento que lhe permitirtá alcançar o equilíbrio físico mas, sobretudo, mental que tanto procurava, como revelou na página de Facebook que criou para desmistificar a anorexia e também para esclarecer as dúvidas de muitos que passam pelo mesmo. "Ainda me sinto muito frágil mas faço progressos de semana para semana", garante.

Em Portugal, segundo dados divulgados, a anorexia nervosa tem uma prevalência na ordem dos 0,4% da população, afetando sobretudo mulheres. Os primeiros sinais surgem no período que coincide com o fim da puberdade e com o início da adolescência. Uma altura em que, de acordo com os especialistas, os pais e os educadores devem ser particularmente vigilantes.

Os seguintes aspetos devem, por isso, ser motivo de cautela:

- É muito obsessivo, com tendência para a intelectualização, perfecionismo e rigidez.

- É frequente ter um historial de excesso de peso.

- É obcecado por culturismo, desmesuradamente viciado em ginásio e tem uma grande preocupação com o corpo.

- Tem a mania de cozinhar para os outros, faz compras a mais, gosta de saber qual a composição dos alimentos, as calorias e/ou obriga os outros a comer, mesmo que não tenham fome.

- Tem dificuldades em sentir e expressar as suas emoções ou em dar a conhecer os seus sentimentos sobre tudo o que esteja relacionado com a área sexual.