Quando consumido em excesso, o sal é altamente prejudicial para a saúde.
O facto é que os portugueses não só abusam deste tempero, como chegam a consumir o dobro da dose diária recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de cinco gramas diários.
Mas se pensa que basta reduzir a quantidade de sal que usa na confecção das refeições para minimizar este problema, está longe da verdade.
Vamos pô-lo a par dos alimentos, aparentemente inocentes, que mais sal escondem.
Perigos escondidos
«Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, é da sopa e do pão que provém grande parte do excesso de sal que os portugueses consomem diariamente e isto é tanto mais grave quanto estes dois alimentos são a base da alimentação do nosso país», começa por explicar Alexandra Bento, presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN).
A título de exemplo da gravidade da situação em Portugal, a nutricionista lembra um estudo realizado pela Administração Regional de Saúde do Norte sobre as refeições nas escolas em que, numa só refeição, tinha sido ultrapassada a dose diária recomendada de sal.
País dos AVC
Não obstante o facto de o sal ser composto por cloreto de sódio, um nutriente com um efeito regulador do balanço hídrico, do ritmo do coração e das fibras dos nervos e músculos, as consequências da ingestão excessiva deste produto são graves.
«A hipertensão arterial, resultante, entre outros factores, do consumo exagerado de sal, é um problema grave de saúde pública no nosso país», alerta a presidente da APN.
E, embora Portugal esteja dentro da média europeia em termos de prevalência de hipertensão (cerca de 43 por cento da população), no que respeita aos acidentes vasculares cerebrais (AVC) a situação é mais alarmante, sendo mesmo o único país da Europa em que se morre mais por AVC do que por doença coronária.
Considerando que há uma relação directa e proporcional entre o consumo de sal dos vários países e a mortalidade por AVC, as entidades de saúde nacionais têm lutado por inverter esta tendência.
Unir esforços
Consciente da gravidade da situação, a própria indústria alimentar parece ter reflectido e nota-se uma crescente campanha de sensibilização para a redução do consumo de sal, nomeadamente através da informação da composição dos alimentos com a devida referência à dose diária recomendada nos rótulos dos produtos.
Simultaneamente, os deputados portugueses fizeram aprovar na Assembleia da República uma lei para a redução do sal no pão.
Apesar destas iniciativas merecerem o reconhecimento de Alexandra Bento, a nutricionista defende que «inverter a ingestão excessiva de sal é uma questão de consciencialização individual, ou seja, cabe a cada um de nós, em casa e quando comemos fora».
Dar o exemplo
Para Alexandra Bento, o consumo excessivo de sal só pode ter origem no desconhecimento dos malefícios que este comportamento acarreta.
«Talvez porque são acompanhados muito de perto pelos pediatras dos filhos, os pais sabem que a introdução aos novos alimentos que os bebés fazem, por volta dos cinco, seis meses, deve estar isenta de sal.»
«Mas, por qualquer motivo, quando a criança começa a fazer a mesma alimentação que o resto da família», acrescenta a especialista, «os pais, em vez de aproveitarem para reduzirem também o consumo de sal, acabam por inserir a criança nos seus maus hábitos».
E a verdade é que, quando nos habituamos a comer alimentos com sal, reduzi-lo ou mesmo eliminá-lo torna-se uma tarefa bastante complicada.
As escolhas certas
Enfatizando a necessidade urgente de reduzirmos o consumo de sal no nosso dia-a-dia, um estudo recente veio provar a relação entre a diminuição da ingestão de sal e a mortalidade por AVC: a redução de apenas um grama de sal por dia pode poupar cerca de 2640 vidas por ano.
E se, à partida, a tarefa parece complicada, a presidente da APN dá alguns exemplos que podemos aplicar no quotidiano: «em casa, podemos reduzir a aplicação de sal nas refeições, nomeadamente na sopa, até porque grande parte dos alimentos já contém sal na sua composição natural, e podemos evitar ao máximo a ingestão de enchidos (presunto, fiambre, salsichas) e aperitivos (batatas fritas de pacote, frutos secos enlatados).»
«Nos restaurantes podemos tornar-nos mais exigentes, alertando para o facto de as comidas estarem demasiado salgadas e pedindo para diminuir a sua aplicação nos pratos que ainda não estão confeccionados, como as saladas e os grelhados», recomenda.
Outra forma de se proteger é prestar atenção aos rótulos dos alimentos que adquire e procurar todas as referências à adição de sal (denominações derivadas do sódio).
Para potenciar o sabor dos alimentos e reduzir a ingestão de sal, recorra a ervas aromáticas e especiarias: limão, alho, salsa, coentros, pimenta, orégãos, louro, alecrim, tomilho, noz moscada, piri-piri, mostarda, açafrão, gengibre, canela.
Alimentos ricos em sal que deve evitar
- Pratos congelados
- Cereais de pequeno-almoço (não integrais)
- Refrigerantes
- Comida enlatada
- Enchidos (presunto, fiambre, paio, chouriço)
- Sopa pré-preparada
- Molhos pré-confeccionados (mostarda, maionese, ketchup)
- Frutos secos salgados
- Fast food
Texto: Sandra Diogo com Alexandra Bento (presidente da associação Portuguesa dos Nutricionistas)
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