Sem açúcar. Sem gordura. Sem glúten. Sem lactose. A oferta de produtos alimentares isentos de determinados componentes é grande.
«Facilitar a digestão, absorsão e eliminação dos alimentos sem prejudicar a assimilação de nutrientes essenciais à vida» são as vantagens de consumir alimentos pertencentes à família sem».
Quem o diz é João Lacerda, nutricionista da Clínica do Tempo. Muitas vezes associados à alimentação seguida por pessoas com determinadas patologias, a integração destes produtos na dieta alimentar, em quantidades adequadas, poderá ser benéfica para qualquer um. Basta saber como (não) os ingerir para tirar maior partido deles.
Sem açúcar
Fazem parte deste grupo todos os alimentos que «na sua constituição não possuem açúcar, sendo que, em substituição, são usados edulcorantes, adoçantes e açúcares com um índice glicémico mais reduzido», explica João Lacerda. Se consumidos moderadamente, estes alimentos sem açúcar são uma alternativa inofensiva apesar de, como explica o nutricionista, «o ideal é moderar em tudo o que fazemos, procurar o nosso equilíbrio e recorrer aos adoçantes, tal como o açúcar, em quantidades pequenas e de forma pouco regular».
«Apesar de serem uma boa alternativa ocasional aos açúcares, ainda não está clarificada a sua total segurança a longo prazo para a saúde», acrescenta ainda o nutricionista. Neste sentido, «as grávidas e lactantes devem evitá-los pois os edulcorantes são produtos artificiais», alerta. Iogurtes zero, cereais light, bolachas sem açúcar e gelatinas light são exemplos de alimentos com um baixo teor de açúcar.
Quem beneficia
Entre o grupo de pessoas que beneficiam deste tipo de alimentos estão pessoas que sofram de patologias em que a presença de açúcar é totalmente contraindicada, como a diabetes tipo 1 e 2. Estes doentes devem optar por produtos «que tenham açúcares de absorção mais lenta e que contenham, em vez de frutose ou sacarose, amido presente em cereais integrais e no arroz, por exemplo», salienta o nutricionista.
Sem gordura
São alimentos que não possuem gordura (nem vegetal nem animal) adicionada ou na sua natureza, como por exemplo os iogurtes magros, algumas bolachas integrais e alguns queijos. Na perspetiva do nutricionista «deve-se moderar o uso destes alimentos tal como se deveria moderar a ingestão de alimentos equivalentes com maior gordura». Mais, o seu consumo deve ser mesmo evitado por pessoas que tenham os níveis de colesterol total abaixo do normal e em casos específicos em que o défice de gordura no organismo esteja a provocar problemas de pele e cabelo, como acontece com a anorexia.
Para uma dieta equilibrada, deve dar preferência às gorduras vegetais (como o azeite) e moderar a ingestão de fontes mais ricas em gorduras animais. «Em vez de fritar os alimentos, prefira os estufados, cozidos a vapor e os grelhados sem ser em carvão», aconselha João Lacerda, referindo que «os óleos vegetais, azeite, cremes de culinária à base de esteróis e produtos de soja são opções saudáveis».
Quem beneficia
Pessoas com dislipidémias, obesidade, excesso de peso, problemas cardíacos ou grupos de risco destas patologias e todos os que queiram adotar uma alimentação mais saudável.
Sem glúten
Os alimentos com esta designação têm baixo teor ou são mesmo isentos de glúten pois não contêm as proteínas gliadina e glutenina, presentes na maior parte dos cereais, nomeadamente trigo, centeio, cevada e aveia.
Na opinião de João Lacerda, não existem razões para se evitar estes alimentos dado serem «mais facilmente digeríveis no duodeno», facilitando a digestão. «Contudo, em termos nutricionais, é importante consumir uma alimentação variada».
«Logo, o grupo dos cereais e derivados não é totalmente substituível por alimentos isentos de glúten. Sendo assim, dever-se-á dar preferência aos cereais com baixo teor de glúten», aconselha o especialista, isto porque estes são essenciais à manutenção de um estilo de vida saudável, em que a prática de exercício físico regular depende do consumo deste grupo alimentar energético. Em alternativa, «com baixo teor em glúten temos os cereais, pão ou massas que sejam derivados do arroz, arroz selvagem, milho, quinoa, amaranto e trigo sarraceno», exemplifica o especialista.
Quem beneficia
Os doentes celíacos que devem consumir produtos isentos de glúten ou com baixo teor (estes últimos devem ser ingeridos com moderação para evitar despoletar crises) e com outras patologias gástricas.
Sem lactose
Faz parte do leite e seus derivados, no entanto, existem no mercado diversos produtos deste tipo com baixo teor ou mesmo isentos de lactose.
De acordo com João Lacerda, «estes alimentos poderão ser idênticos do ponto de vista nutricional, desde que enriquecidos com cálcio, vitamina D e outros nutrientes constituintes do leite de vaca que nos são benéficos, na mesma proporção ou até com melhor biodisponibilidade».
«Uma vez que dispomos de outros açúcares semelhantes que nos fornecem energia e dado a lactose ser potencialmente alergénea, não há inconvenientes em consumir uma alimentação que integre produtos deste tipo. Não se fala de limites de ingestão destes alimentos, a menos que o seu teor de gordura ou de açúcares simples seja elevado para o metabolismo de quem os ingere e possa induzir ao aumento de peso», conclui o especialista. Bolachas integrais, tofu, iogurtes de soja, cerais integrais e leite de soja, de aveia ou de arroz são alguns exemplos de produtos que podem ser integrados nesta categoria.
Quem beneficia
As pessoas com intolerância à lactose ou que sofram de patologias como a doença de Crohn e colite ulcerosa.
Nutricionista esclarece três questões comuns:
Uma alimentação isenta de lactose e glúten é benéfica mesmo para quem
não tem intolerância ou doença celíaca?
Sim, poderá ser benéfica. Embora se tenha de estudar a necessidade de cada pessoa e perceber se
esta susbtituição é bem recebida pelo organismo.
Seguir uma dieta isenta destes nutrientes pode levar a carências alimentares?
Se essa dieta for devidamente variada e incluir alimentos com gorduras,
açúcares, substitutos de produtos lácteos e cereais saudáveis,
provavelmente não haverá necessidade de tomar suplementos alimentares.
Em que situações é necessário tomar suplementos alimentares?
Apenas em casos extremos de patologias complicadas de controlar ao
nível alimentar e com rejeição de alimentos ou intolerâncias acentuadas é
que se poderá recorrer à suplementação e a fórmulas alimentares
especiais.
Texto: Fabiana Bravo com João Lacerda (nutricionista)
Foto: Artur
Produção: Mónica Maia
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