E se lhe disséssemos que pode usar o exercício físico como uma espécie de vacina para prevenir algumas doenças ou como um medicamento para tratar outras? Acreditava ou acharia difícil?
Se escolheu a primeira opção está no bom caminho. Efectivamente a actividade física é fundamental para se manter saudável e tratar diversas doenças.
Esta é a opinião defendida pelo American College of Sports Medicine, que decidiu fundar o grupo Exercise is Medicine, com o objectivo de integrar o exercício físico como cuidado de saúde.
O grupo começou o seu trabalho nos Estados Unidos há já dois anos e está a alargar as suas fronteiras para outros países e, em Portugal, os primeiros passos serão dados em Setembro. Conversámos com o vice-presidente da organização, Adrian Hutber, fisiologista do exercício, sobre os benefícios do desporto para a saúde.
Reduzir o risco
«Um estudo publicado no ano passado mostra que a inactividade física é um dos principais factores de risco isolado de morte por doença crónica evitável mas, apesar disso, o exercício físico continua a não integrar o sistema de saúde da maioria dos países», afirma Adrian Hutber.
É essa mentalidade que querem mudar, ou seja, querem aproximar médicos e profissionais do exercício para que os pacientes tenham ao seu dispor todas as armas para lutar contras as doenças.
«Hoje sabe-se que a actividade física não só tem a capacidade de diminuir significativamente o risco de ter várias patologias crónicas, tais como a diabetes, a hipertensão, a obesidade e até de doenças cardiovasculares e cancro, especialmente o cancro da mama e do cólon, como reduz também a dependência de medicação nos doentes que sofrem desses problemas, por isso, queremos apostar na prescrição do desporto como se de um medicamento se tratasse», acrescenta.
Mudar mentalidades
Robert Sallis, médico e ex-presidente do American College of Sports Medicine, resolveu fundar o Exercise is Medicine quando se apercebeu que os médicos podiam prescrever uma cirurgia bariátrica a um paciente obeso mas tinham dificuldade em recomendar um plano de treino que ajudasse a emagrecer e não prejudicasse a saúde nem tinham contacto com fisiologistas do exercício que o pudessem fazer.
«Actualmente, já conseguimos que em algumas instituições de saúde o paciente seja questionado pelo médico sobre os seus hábitos de exercício, tal como é sobre o peso ou a pressão arterial. E se o grau de actividade física constar da ficha clínica de cada pessoa, esta será sempre questionada sobre esse assunto quando for ao médico. O nosso objectivo é que o exercício seja prescrito como parte integrante de qualquer tratamento», explica Adrian Hutber.
Eleição pessoal
A escolha da actividade é uma opção estritamente pessoal. «Cada um de nós deve escolher o que quer fazer e o que funciona, ou seja, não interessa tanto o tipo de actividade que se faz, mas a intensidade e a regularidade desta, desde que não se ponha a saúde em risco», afirma o fisiologista do exercício.
«Por isso, se gosta de correr, corra; se gosta de andar, ande; se gosta de nadar, nade; se prefere tratar do jardim, dedique-se à jardinagem; ou se gosta de passear o cão, faça-o. O segredo é fazer de algo de que goste, caso contrário, o mais provável é desistir ao fim de um tempo», acrescenta o especialista.
Os últimos estudos científicos demonstram que dedicar 150 minutos a uma actividade física moderada por semana é o mínimo exigido para se conseguir retirar todos os benefícios do exercício para a saúde. «Temos de pensar no desporto como um medicamento, ou seja, temos de o “tomar” nas doses certas», realça Adrian Hutber.
Sozinho ou acompanhado
Para aquelas pessoas que dizem não ter tempo para despender os tais 150 minutos por semana, o fisiologista do exercício tem a solução: «Integre-o na sua rotina diária, pode, por exemplo, estacionar o carro a dez minutos de distância do seu local de trabalho e caminhar a pé até lá e regressar ao final do dia, não é obrigatório inscrever-se num ginásio, já sabe que o importante é o tempo e a intensidade».
Para Adrian Hutber, o benefício de fazer exercício acompanhado por um treinador é a motivação que este transmite.
«Mas o importante é que as pessoas se mexam, caso prefira ter um personal trainer é importante discutir com este os seus objectivos desde o início, ou seja, se está a praticar desporto para ser mais saudável, se quer melhorar o seu corpo ou a sua performance física», realça.
Desporto à medida
Quando questionado sobre a necessidade de se ir ao médico antes de iniciar uma actividade física, Adrian Hutber afirma que não é obrigatório: «Primeiro, aconselho a fazer o Par-Q Test (para fazer este teste, clique aqui) e, consoante o resultado, poderá ser necessário ou não».
Se tem um problema de saúde aí o caso muda de figura: «Deve ir não só ir ao médico, mas também a um fisiologista do exercício, quer em conjunto podem ajudá-la a encontrar a melhor actividade para si, mas mais uma vez é importante que fazer algo de que gosta», sublinha o especialista.
Mas em qualquer dos casos, «se está já há algum tempo parada comece, qualquer seja a modalidade escolhida, lentamente e vá aumentando gradualmente a intensidade e se sentir mal pare de imediato», revela Adrian Hutber.
Benefícios do exercício
Vários estudos científicos demonstram que o desporto desempenha um papel importante para diminuir o risco de algumas doenças:
- É tão eficaz a combater a depressão como os antidepressivos e a terapia comportamental
- Pode reduzir o risco de cancro do cólon em 60 por cento
- Reduz a incidência da diabetes aproximadamente em 50 por cento
- Pode diminuir a mortalidade e o risco de reincidência do cancro da mama aproximadamente em 50 por cento
- Diminui a incidência das hipertensão em 40 por cento
- Reduz, em 40 por cento, o risco de desenvolver a doença de Alzheimer
- Baixa o risco de AVC para 27 por cento
Fonte: American College of Sports Medicine, www.acsm.org
Para conhecer as recomendações do grupo Exercise is Medicine sobre as modalidades mais adequadas para cada doença, clique aqui.
Texto: Rita Caetano com Adrian Hutber (fisiologista do exercício)
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