
"Esta coleção, ‘Erro’, é uma ode aos que se enganam. É uma ode aos que tentam constantemente e que não desistem. É um celebrar de toda a criatividade que provém do erro e do quanto é possível aprender na tentativa e erro constante. A resiliência faz a excelência".
Foi com este manifesto que Susana Bettencourt abriu o seu desfile naquele que foi o último dia do Portugal Fashion. Questionada sobre o que motivou este tema, a designer especializada em malhas, e que adquiriu todo o seu know-how nesta área na Central St. Martins College Of Art And Design, em Londres, explica que a ideia partiu daquilo que, atualmente, tenta transmitir a todos os alunos que passam pela sua supervisão.
"Tenho noção de que não existem muitas escolas de malhas, nem existem muitos ateliers que possam ter tempo para eles poderem aprender e usufruir da experiência toda, e esse é o objetivo da marca Susana Bettencourt", afirma a criadora de moda ao SAPO Lifestyle sobre a sua loja-atelier em Guimarães que se tem afirmado cada vez mais como um espaço de formação no setor do knitwear. Atualmente tem protocolos com cinco instituições de ensino europeias, onde se destacam a Central Saint Martins e a London College of Fashion.

"Nesta coleção, o objetivo foi tentar abraçar todas as coisas erradas, todas as tentativas e erros que eles iam propondo enquanto fazíamos as amostras e transformar aquilo em algo belo. 'Ok. A máquina está a fazer isto, mas eu estou a gostar, então agora vamos fazer três looks com o que está a acontecer'."
Fundada em 2011, a marca de slow fashion tem apostado numa identidade muito própria, que vira as costas ao trendy e se apoia na indústria portuguesa para dar vida às suas criações. Desde o início que cruza tecnologia e artesanato naquele que é o material que conquistou o seu coração desde a infância: a malha. "Eu sou artesã e malheira desde os cinco anos, mas o meu DNA de design foi criado em Londres, quando fui para lá aprender", conta.

Foi precisamente a capital londrina, a que chamou de casa durante uma década, que a inspirou a explorar silhuetas mais relaxadas e descontraídas que, na temporada primavera/verão 2025, se vieram juntar aquelas que já são as suas peças best-sellers, como é o caso dos cardigans e das camisolas, que são apresentadas em versões oversized e justas ao corpo. Dos 32 looks apresentados – que demoraram cerca de um ano a desenvolver –, os vestidos e saias – mini, midi e maxi – foram outra presença forte em cima da passerelle, juntando-se a calças, tops e casacos compridos.
Os códigos geométricos e a linguagem gráfica que fazem parte do ADN são desconstruídos para dar lugar a novas criações onde a tradição e a inovação se misturam. "Temos um jacquard [digital] que é mesmo o nosso esfumado e o nosso degradé tão habitual, com um padrão de instruções de crochet por cima, é a fusão do artesanato com o digital."

No que diz respeito à paleta de cores, a criadora natural de Lisboa, mas com raízes na ilha de São Miguel, não quis fugir às cores que têm conquistado os seus clientes ao longo dos 13 anos de marca. O azul real, cor-de-rosa, amarelo, vermelho, preto e branco aparecem em combinações bi e tricolores que prometem alegrar o armário feminino, onde o laranja e o turquesa também dão o ar de sua graça.
No campo dos acessórios, encontramos cachecóis e luvas sem dedos que aconchegam o pescoço, a cabeça e as mãos das modelos que desfilam pela passerelle. Nesta temporada, as atenções recaem sobre duas novidades: uma linha de calçado, composta por sandálias pretas e brancas, e uma coleção de malas em crochet. As bolsas para telemóvel, as malas que as modelos levam pela mão e os suportes onde transportam copos de vinho resultam de uma parceria estabelecida com o Lar e Centro Social de Vila Boa de Quires e da vontade de valorizar e celebrar o feito à mão.

"O artesanato e aquilo que nós fizemos aqui, o termos passado dias a trocar ideias e a fazer as malas com o lar de idosos, isso a inteligência artificial não faz. A parte social e a humana não existem", afirma ao falar sobre os desafios da tecnologia na área da moda.
Susana Bettencourt não podia estar mais feliz com o regresso do Portugal Fashion que, após uma interrupção em 2024, está de volta ao Porto. "Para mim é a validação de todo o esforço que eu faço durante o ano de ter três empregos, ser professora, ser investigadora e trabalhar em duas empresas", afirma. Sobre o seu novo formato – que se realizará apenas uma vez por ano daqui em diante – dá o seu selo de aprovação. "Para o tempo que as minhas peças demoram a fazer – temos vestidos e peças na coleção que demoram duas semanas e meia, três a fazer – prefiro uma vez ao ano, porque assim consigo apresentar uma coleção mais longa, mais coesa, em que tudo casa", conclui.
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