«Promover o exercício através da saúde é lógico, mas as decisões quotidianas das pessoas estão mais ligadas à emoção».
A afirmação da investigadora norte-americana Michelle Segar põe em causa um consenso internacional dos últimos 30 anos.
A ideia de que os benefícios são a melhor forma de promover a prática desportiva.
«Para motivar as pessoas de forma estável e ajudá-las a mudar de vez há que explorar motivos e objetivos mais intrínsecos», concorda Pedro Teixeira, professor catedrático e investigador na Faculdade de Motricidade Humana. Estudos recentes indicam que a chave para que as pessoas façam mais exercício está em apaixonarem-se pela atividade física. Veja como consegui-lo.
Argumentos clássicos
Se «ser mais saudável» ou «perder peso» são as ideias que lhe ocorrem primeiro ao pensar em exercício físico, saiba que não está sozinha. Essas foram também as respostas mais frequentes em 250 mulheres num estudo coordenado por Michelle Segar, diretora associada do SHARP, centro de investigação na área do desporto e saúde feminina da Universidade do Michigan, nos Estados Unidos da América.
No entanto, o confronto com os hábitos reais dessas mulheres revelou que razões como «reduzir o stress» ou «ter mais bem-estar», que surgiram nos últimos lugares, estavam mais associadas à prática de exercício. Como a autora explicou à Saber Viver, «há uma diferença entre dizer acho que ser saudável é importante e isso motivar-nos a fazer exercício e a manter esse hábito».
Ciclo vicioso
Enquanto os motivos de saúde «são abstratos e ignoram que a saúde não é um fim em si, mas um meio para chegar a outra coisa», os que estão associados à silhueta «promovem uma postura de terceira pessoa em relação ao próprio corpo, focam-se nas calorias gastas e estão associados a sentimentos de pressão e culpa», alega Michelle, segundo a qual todas essas razões têm em comum o facto de «terem um retorno insuficiente e competirem mal com outras tarefas e objetivos do dia a dia».
Em Cascais numa formação dirigida a personal trainers dos ginásios Holmes Place, a autora falou do «ciclo vicioso do erro», em que maus motivos conduzem a más expectativas face ao exercício que, por sua vez, levam a más experiências e à desistência. Uma tese que sublinha a importância dos motivos pelos quais se inicia a atividade física, que «podem levar-nos a desistir em seis semanas ou a continuar durante dez anos», conclui.
Bons motivos
Reduzir o stress, melhorar a concentração no trabalho, ser uma mãe mais paciente, ser mais criativa, aproveitar melhor a vida. A estes bons motivos para fazer exercício, identificados pelos
estudos de Michelle Segar, somam-se elementos como a possibilidade de
ultrapassar desafios, desenvolver novas competências, aprofundar laços
sociais, manter um contacto regular com a natureza ou expressar-se
criativamente, indicam vários artigos científicos da equipa da Faculdade
de Motricidade Humana que conduziu o estudo P.E.S.O. (Promoção do
Exercício e Saúde na Obesidade).
Assim, para se automotivar deverá «conhecer-se bem,
perceber as razões pelas quais está a fazer determinada atividade e se
elas se vão manter muito tempo», aconselha Pedro Teixeira, um dos
investigadores envolvidos neste programa financiado pela Fundação para a Ciência
e Tecnologia.
Energia sustentável
A visão tradicional da motivação como uma dimensão quantitativa –
estar muito ou pouco motivado – é refutada pela equipa de Pedro
Teixeira, que distingue diferentes tipos de motivação com base no
«centro de gravidade» (que deverá ser a própria pessoa) e o grau de
autonomia e compromisso pessoal (referente à sua adesão e satisfação).
Segundo os estudos realizados, a motivação intrínseca e autónoma é
a mais eficaz a prazo. «Tendemos a pensar que o que é preciso é
estar-se motivado, seja por que razão for, mas só as pessoas mais
autonomamente motivadas é que, após o programa de acompanhamento,
continuaram a perder peso ou mantiveram-no, e não só continuaram a fazer
exercício como muitas até aumentaram o nível de atividade física»,
revelou à Saber Viver a investigadora Marlene Silva.
Nas palavras de
Pedro Teixeira, esta é «uma fonte de energia renovável, já que dura mais
tempo, e não poluente, pois não gera mal estar ou outros custos
psicológicos». Aliada à qualidade da experiência, seria a fórmula para
gerar a paixão pelo exercício físico
Texto: Rita Miguel com Michelle Segar (dourada em psicologia), Pedro Teixeira (professor catedrático e investigador na Faculdade de Motricidade Humana) e Marlene Silva (psicóloga clínica e investigadora na Faculdade de Motricidade Humana)
Comentários