No Dia Mundial do Animal, o Jorge Cid disse à agência Lusa que os casos de suicídio nesta profissão “não são um nem dois”.
“É uma profissão extremamente stressante”, disse o bastonário, recordando algumas das pressões a que estes profissionais estão sujeitos: “Quem faz inspeção pode sofrer pressões ao nível de alguns agentes económicos” e quem faz clínica, nomeadamente de animais de companhia, “lida muitas vezes com a morte, com um grande desgosto das pessoas”.
“As pessoas colocam em nós uma carga grande, a qual às vezes temos dificuldade em ultrapassar”, acrescentou.
Segundo Jorge Cid, os veterinários são muitas vezes psicólogos. “As pessoas desabafam connosco. Há casos extremos, em que sabemos que aquele animal é a única companhia da pessoa – e há imensos casos – e desenvolve-se ali uma grande carga psicológica” quando o animal sofre uma doença crónica que o vai provavelmente matar.
O bastonário explicou que estes profissionais são muitas vezes chamados a resolver situações, para as quais não têm meios.
“Tudo isto causa alguma depressão e que pode eventualmente, dado o alto stresse, levar a pessoa a suicidar-se”, afirmou.
Outra situação causadora de stress é o conhecimento de casos de maus tratos, que não poucas vezes acabam nos consultórios.
“Há uma panóplia de situações que são extremamente difíceis e a pessoa tem que ter uma grande estrutura física e moral para as aguentar”, disse, concluindo que este é ainda “um trabalho mal remunerado”.
“Se soubessem a realidade, os ordenados e a precariedade, muitas pessoas não entrariam na profissão”, concluiu.
Um estudo elaborado por David Bartram, do Grupo de Saúde Mental da Universidade de Southampton School of Medicine (Inglaterra), concluiu que os médicos veterinários têm uma taxa de suicídio quatro vezes superior à população geral e duas vezes superior a outras profissões.
Em Portugal, o veterinário e especialista europeu do comportamento animal Gonçalo Pereira coordenou um estudo, envolvendo cerca de um quarto dos profissionais, sobre a ansiedade, stresse, depressão desgaste profissional e satisfação com a vida que confirma estes valores “preocupantes”.
“Somos uma classe que não está sequer preparada para identificar os sinais de depressão e de desgaste profissional”, disse.
Segundo Gonçalo Pereira, ao nível dos veterinários de animais de companhia, são os especialistas em oncologia e comportamento animal os que têm menos satisfação com a vida, “talvez por serem as áreas mais frustrantes devido ao final de muitos dos casos”.
“Os níveis de ansiedade, de stresse e de pressão da classe estão muito elevados”, adiantou.
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