Com um aumento de mais de 7.700 casos e 288 mortos, o governo espanhol decretou no último sábado estado de alerta e impôs sérias restrições aos seus habitantes: os cidadãos só poderão sair de casa para comprar comida ou remédios, ir a hospitais, ir para o trabalho ou para cuidar de idosos, crianças ou pessoas dependentes.

É um cenário inédito, que durará no mínimo 14 dias e que implica o encerramento de quase todo o comércio - com exceção dos supermercados e farmácias - neste país que possui 46 milhões de habitantes.

Segundo vários jornalistas da AFP, este domingo a movimentação nas ruas diminuiu, embora em Madrid e Barcelona ainda tenham pessoas passeando com os cães, presentes em filas para compras em supermercados ou exercitando-se ao ar livre, esta última atividade não é permitida.

"Fechado durante duas semanas"

"Eu amo sair para passear e andar, algo que o meu médico disse ser muito bom para minha idade. Não dá para ficarmos duas semanas confinados, mas é o que temos que fazer", disse em Barcelona à AFP Antonio Martín, a caminho para comprar o jornal do dia, a sua única saída.

Os agentes da polícia, que estão todos sob ordens do ministério do Interior, alertavam aos que caminhavam pelas ruas de alguns bairros da capital que não era permitido passear. Em Madrid, drones da Polícia Municipal com altifalantes diziam para a população "permanecer dentro de casa".

"A parte psicológica é a mais complicada de lidar", admite à AFP Miriam Burgués, jornalista de 41 anos confinada num apartamento de um bairro em Madrid, junto ao marido e às duas filhas, de dez e cinco anos.

"Até agora, (as meninas) estão tranquilas, mas quando mais dias passarem vamos ver como é que elas reagem, se nós ficamos aflitos, imaginem elas", conta Miriam.

Desde a última quarta que estas estão sem aulas, mas, numa situação que também acontece nas restantes partes do país, recebem todos os dias do colégio por WhatsApp os trabalhos de casa. Além disso, fazem exercícios físicos, o professor envia uma série de exercícios de flexibilidade e coreografias para "se manterem em forma", relata a jornalista.

María Mosquera, de 40 anos, administradora que faz a gestão das compras para clínicas oftalmológicas, tenta manter a normalidade em casa, onde vive com o marido e a filha: "Na noite do último sábado fizemos um jantar romântico em casa, e comemos como se estivéssemos num restaurante".

A sua filha, de sete anos, chorou um pouco porque queria sair para ir brincar com os amigos.

"Mas quando lhes explicamos (às crianças), entendem a situação. É uma oportunidade de aproveitar para fazer as coisas juntos, como os trabalhos manuais", disse María.

Solidariedade ampliada

Para enfrentar o confinamento, a criatividade surge, com a hashtag #YoMeQuedoEnCasa (em português, #EuFicoEmCasa): assim como em Itália, cada vez mais há na internet pedidos para músicos fazerem pequenos espetáculos nas suas varandas ou janelas, e desportistas partilham exercícios para se fazer em casa.

Em Sevilha, um grupo de vizinhos jogou bingo na varanda, segundo mostrou um vídeo muito partilhado nas redes sociais.

Museus como o Prado oferecem visitas online e plataformas de filmes e séries online oferecem os seus conteúdos grátis.

A solidariedade é ampliada.

"Ofereço-me, de forma voluntária, para ir fazer compras ao supermercado ou comprar remédios à farmácia" a idosos ou pessoas incapacitadas, dizia uma das diversas mensagens no Facebook com a hashtag #YoTeHagoLaCompra (em português, "EuComproPorTi).

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