Coordenado pela investigadora Henedina Santos, da Escola de Ciências e Saúde da Universidade do Minho, o estudo, que será realizado em adolescentes de 13 e 14 anos através de uma análise sanguínea, pretende demonstrar a prevalência da doença celíaca em Portugal continental e nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

“A prevalência da doença celíaca em Portugal é desconhecida. O único trabalho em população portuguesa é um estudo de Braga, que já tem alguns anos e que deu um predomínio de um doente para 134 adolescentes sem doença, que foi feito em jovens de 14 anos”, disse Henedina Santos à agência Lusa.

A investigadora e coordenadora da unidade de gastroenterologia pediátrica do Hospital de Braga revelou que, agora, esse primeiro estudo que abrangeu apenas Braga está a ser replicado a nível nacional, tendo sido incluídos também adolescentes com 13 anos.

O estudo anterior revelou que, no Minho, a incidência (os casos diagnosticados) é de 5,2 por 100 mil habitantes abaixo dos 18 anos e que a prevalência da doença é de um em cada 134.

“O Minho é uma das regiões com mais proatividade em termos de diagnóstico, provavelmente haverá regiões com dificuldades em fazer o diagnóstico”, explicou a investigadora, dizendo esperar em todo o território nacional resultados semelhantes aos da prevalência em Braga.

A especialista alertou que, “quanto mais se fala de doença celíaca, mais se diagnostica, porque é mesmo uma doença que tem muitos sintomas e que abrange muitas especialidades".

Henedina Santos sublinhou que a importância deste estudo prende-se também com a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), lembrando que, desde de 2012, a analise sanguínea anti-transglutaminase é comparticipada pelo Estado e custa sete euros, contra os mais de 50 que custava anteriormente.

“Um tratamento de infertilidade, que a doença celíaca pode provocar, é de quatro mil euros. Até em termos de sustentabilidade do SNS, vale a pena fazer diagnóstico de celíacos, para além da qualidade de vida que se está a dar ao doente, que muitas vezes se sente infeliz e tem dores de barriga e acha normal viver assim, pois não está diagnosticado”, referiu.

Estima-se que existam entre 70 a 100 mil casos em Portugal, ou seja, uma a três por cento da população nacional, sendo que só existem 10 mil casos diagnosticados o que significa que muitos podem desconhecer ter a doença celíaca e estar a ser, inclusive, tratados para outras patologias.

A doença celíaca é uma doença autoimune crónica, que afeta indivíduos com predisposição genética, causada pela permanente sensibilidade ao glúten, que, ao ser ingerido, provoca lesões na mucosa do intestino e origina uma diminuição da capacidade de absorção dos nutrientes.

O único tratamento para a doença celíaca – que normalmente surge entre os seis e os 20 meses, mas também pode aparecer em adultos - é uma dieta isenta de glúten, proteína que está presente nos principais cereais, como trigo, centeio, aveia e cevada e seus derivados.