O “MORfood” passa pela produção de microcápsulas “em compostos bioativos extraídos de moringa oleifera, conhecida como a planta da vida, que serão incorporadas em determinados alimentos (pão, iogurtes e sumos) para crianças em idade escolar, entre os 04 e 10 anos”, explicou a UC, em nota hoje enviada à agência Lusa.
O projeto, que vai buscar o nome à “microencapsulação de extratos de moringa oleifera e sua aplicação em alimentos funcionais”, é liderado pelo investigador Licínio Ferreira, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC), e engloba investigadores da Faculdade de Farmácia (FFUC), PRODEQ - Associação sem fins lucrativos do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da FCTUC, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e Universidade Agostinho Neto (UAN).
A moringa oleífera é uma espécie nativa do norte da Índia, Paquistão e Afeganistão, e muito cultivada em países tropicais e subtropicais de África, Ásia e América Latina.
“É umas das plantas mais nutritivas do mundo, muito rica, por exemplo, em proteínas, vitaminas e minerais, como cálcio e potássio. É uma planta que já é utilizada pelas populações africanas para combater um conjunto alargado de patologias, tais como asma, bronquite, hipertensão, diabetes, entre muitas outras. O nosso estudo centra-se nos extratos das folhas, a parte da planta mais rica em nutrientes”, explicou, citado no comunicado, Licínio Ferreira.
A equipa liderada pelo também investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) “apostou na microencapsulação para enriquecer os alimentos”, porque, segundo Licínio Ferreira, é “uma tecnologia que apresenta muitas vantagens”.
“Protege a atividade biológica de alguns compostos que são extraídos da planta e que de outra forma se degradariam. Por exemplo, no caso do pão, um dos alimentos que selecionámos, as microcápsulas podem ser introduzidas na própria farinha, e se os compostos não estiverem incorporados dentro destas microcápsulas, as suas propriedades iriam degradar-se e desaparecer durante o fabrico do pão, daí a importância das microcápsulas”, revelou o docente da FCTUC.
Nesta primeira etapa do projeto, os investigadores estão a caracterizar as amostras de folhas de moringa provenientes de Angola, de modo a obter a composição fitoquímica e nutricional das folhas.
Após essa caracterização, “que é fundamental”, seguem-se os estudos de extração de compostos e seleção dos mais adequados ao objetivo do projeto, ou seja, compostos importantes para combater a desnutrição infantil, frisou a UC.
Ainda antes da fase da microencapsulação, os extratos serão selecionados, “porque, eventualmente, haverá compostos indesejáveis que têm de ser removidos”.
“Desta seleção, obteremos frações enriquecidas de macronutrientes e micronutrientes que são benéficos para combater a desnutrição infantil, nomeadamente hidratos de carbono, vitaminas, sais minerais, entre outros”, esclareceu.
No final do projeto, os alimentos funcionais, isto é, enriquecidos “com microcápsulas carregadas de nutrientes extraídos de moringa, vão ser testados junto de crianças angolanas”, referiu a Universidade de Coimbra.
“São os chamados testes de aceitabilidade sensorial, para aferir a reação da população infantil a este tipo de alimentos”.
Natural de Angola e conhecedor da realidade naquele país africano, Licínio Ferreira observou que a desnutrição infantil é um grande flagelo mundial.
“Segundo o relatório de 2020 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 8,9% da população mundial estava desnutrida em 2019, o que representa 690 milhões de pessoas. Ainda segundo esse relatório, este número corresponde a um aumento de 60 milhões de pessoas em comparação a 2014. É um flagelo que tende a agravar-se ao longo dos anos”, afirmou.
Se o projeto alcançar os resultados esperados, a equipa irá tentar estabelecer uma parceria com a UNICEF [o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância], para que os alimentos enriquecidos com extratos de moringa “possam chegar a um maior número de países em vias de desenvolvimento”.
O projeto MORfood tem a duração de três anos e foi financiado em cerca de 230 mil euros pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e ela Fundação Aga Khan, “fundação que apoia projetos nos domínios da saúde e educação, nomeadamente o desenvolvimento científico e tecnológico dirigido ao progresso da qualidade de vida no continente africano”.
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