Para o presidente da associação, Duarte Soares, a decisão do parlamento de rejeitar a legalização da eutanásia foi uma “decisão séria, responsável e consciente” que “impediu outorgar ao Estado o dever de matar os cidadãos cujos pedidos fossem aceites” e teve simultaneamente “o condão de responsabilizar publicamente” os líderes políticos a assumir os cuidados paliativos como desígnio nacional na saúde para a próxima década.

Nesse sentido, afirmou Duarte Soares à agência Lusa, “é importante para a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos assinalar essa data e marcar uma agenda que é cívica e não é política”.

“Passou mais de um ano e neste período passamos a ser mote para as mais variadas promessas. Prometem-nos mais investimento, mais recursos humanos, melhores condições de trabalho, e os nossos profissionais respondem com a máxima dedicação e cada vez maior resiliência, colmatando as necessidades com ainda maior paixão em todas as tarefas que cumprem”, sublinhou.

Contudo, existiram “muito poucos serviços novos”, não houve camas novas e “as equipas comunitárias continuam exatamente na mesma e, atendendo a tanto que se disse e que se anunciou sobre hospitalização domiciliária, onde é que estão as equipas”.

Mas o mais “gritante” é falta de recursos humanos nas equipas, que precisam de ser reforçadas com médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais.

“Também não foi feito nada sobre aquilo que foi prometido, nomeadamente o reforço do testamento vital e o reforço das campanhas”, que estão a ser feitas no terreno pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos e pela Associação Portuguesa de Bioética quando há uma recomendação da Assembleia da República para o efeito.

A “maior vitória” para Duarte Soares foi a aprovação do Estatuto do Cuidador Informal, aguardando-se agora que se concretizem no terreno as primeiras iniciativas.

“A outra vitória” é que os cuidados paliativos fazem parte do léxico dos políticos, mas esse discurso que é “amplamente reconhecido, que reúne consenso de todos os partidos políticos sobre a necessidade de investimento nesta área, continua a tardar estar no terreno”.

Em vésperas de eleições legislativas em que as promessas se intensificam, a associação pede que estas sejam concretizadas no terreno “o mais rapidamente possível”.

Duarte Soares vincou que o levantamento de necessidades foi amplamente feito por diversas entidades e que existe um plano estratégico avançado pelo Governo que ainda não está no terreno,

Há mais de 80.000 portugueses a precisarem de cuidados paliativos e que estes não chegam sequer a 10.000, “este é o panorama básico com o qual estamos confrontados há vários anos”.

“Os políticos têm esses dados, sabem qual é a necessidades do número de camas que são 800, temos 362, sabem que precisamos de 100 equipas comunitárias e temos 19”, disse, sublinhando: “Passados quatro anos não podemos continuar a aceitar que para o futuro é que vai ser e que depois das eleições é que vai ser”.

“Não podemos ir por agendas política, o país precisa há vários anos de um investimento forte nesta área”, rematou.