O relatório de atividade nacional do IPST mostra que, em 2023, houve um aumento do número de dadores (+58%), de córneas colhidas (+61,5%) e de córneas transplantadas (+69,7%) em Portugal. Por terem sido realizados mais 466 transplantes que em 2022 foi necessária a importação de tecidos (+19,5% de córneas importadas).
Em que consiste o transplante de córnea?
O transplante de córnea consiste na substituição total ou parcial da córnea de um doente por uma córnea (ou parte de uma córnea) de um dador.
Porque se realizam tantos transplantes de córnea em Portugal?
As doenças da córnea são uma causa muito frequente de perda de visão em todo o mundo. Apesar de se realizarem cada vez mais transplantes, até porque em certas situações podemos usar uma córnea para mais do que um doente, a verdade é que continuamos com uma lista de espera superior ao desejado.
O transplante de córnea, em alguns casos, é a única possibilidade dos doentes recuperarem a sua acuidade visual?
Sim, o transplante de córnea em determinadas situações é a única solução para a restauração da visão dos doentes.
Quais as indicações terapêuticas para este transplante?
São imensas as causas que levam à necessidade de realização de transplante de córnea. Não sendo possível enumerá-las todas, vou referir as mais frequentes:
- Ectasias (a mais frequente é o queratocone);
- Distrofias (a mais frequente é a distrofia de Fuchs);
- Cicatrizes (pós-traumatismos físicos ou químicos, pós-infeções, como por exemplo, o herpes ocular, a queratite fúngica, queratite por Acanthamoeba, entre outros);
- Perfurações oculares (traumáticas ou não);
- Descompensações da córnea, pós-cirurgias oculares prévias;
- Rejeição de um transplante prévio.
Este procedimento é realizado nos hospitais públicos e privados?
Sim, atualmente os transplantes são realizados tanto nos hospitais públicos, como nos centros privados, desde que tenham autorização para a realização de transplantes de córnea.
Quais os principais benefícios para os doentes que recebem este transplante?
Os principais benefícios para os doentes são a restauração da visão, a redução do desconforto ou, por vezes, a preservação do próprio globo ocular.
Este é um procedimento que tem riscos? Quais?
Não existe, infelizmente, nenhuma cirurgia que seja 100% isenta de riscos. Todavia, atualmente os transplantes de córnea têm menos riscos, sobretudo quando fazemos transplantes lamelares. Diria que as infeções e as rejeições são os principais riscos.
Como se prepara para um transplante da córnea?
A córnea é colhida de um dador, depois preservada num meio próprio para o efeito e cortada à medida para o doente que temos.
A maioria dos transplantes de córnea realizados são totais ou parciais?
O século passado foi o século dos transplantes totais. Desde o início deste século, houve um grande desenvolvimento da técnica e os transplantes parciais já ultrapassam os transplantes totais. Atualmente, e sempre que possível fazemos transplantes parciais.
Quais os principais avanços que existem nesta área?
Houve uma grande evolução dos transplantes de córnea nos últimos 20-25 anos, quer do ponto de vista técnico, quer material. Esta evolução permite-nos hoje realizar mais transplantes parciais do que totais. Os transplantes parciais têm uma recuperação mais rápida, menor risco de rejeição, menor risco de infeções e manutenção de uma melhor integridade do globo ocular.
Comentários