O presidente do Instituto da Droga alertou hoje para os perigos de um desinvestimento nos tratamentos de toxicodependentes e alcoólicos numa altura em que a atual crise económico-financeira pode aumentar os consumos e o tráfico de estupefacientes.
Em declarações aos jornalistas à margem da apresentação de novos dados sobre a toxicodependência em Portugal, o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) admitiu que não apoiaria a decisão de passar o tratamento e prestação de cuidados a toxicodependentes e alcoólicos para as Administrações Regionais de Saúde (ARS) e alertou que um possível desinvestimento pode ser “perigoso”.
Na quarta-feira, o secretário de Estado Adjunto da Saúde, Leal da Costa, anunciou que o IDT será extinto e transformado numa direção-geral – Serviço de Intervenção dos Comportamento Aditivos e Dependências (SICAD).
“Estamos preocupados e gostaríamos de ver garantida a continuidade do modelo integrado que vimos praticando, mas é prematuro fazer algum tipo de julgamento ou entrar em desespero”, disse João Goulão.
O ainda presidente do IDT disse que gostaria que fosse mantida a independência do programa vertical que tem sido gerido até aqui e alertou que o atual contexto económico-social “é propicio a que haja um recrudescimento do fenómeno”.
“Um aumento de fenómenos de marginalidade, exclusão, com mais pessoas em dificuldades, mais pessoas tentando recorrer ao pequeno tráfico como forma de subsistência, mais pessoas utilizando drogas para afogar as suas mágoas e falo em primeira linha num recrudescimento do consumo de álcool, mas também tranquilizantes e anti-depressivos e eventualmente drogas ilícitas”, apontou João Goulão.
Na opinião do responsável do IDT, “estes dois fatores, coincidindo com um desinvestimento, com uma desarticulação das estruturas existentes, poderá ser perigoso”, lembrando que os problemas sociais mais importantes podem trazer um aumento no consumo de heroína.
“Com custos que no futuro, se calhar não muito longínquo, serão muito mais elevados do que a poupança que eventualmente seja possível fazer agora”, alertou João Goulão.
Admitiu, por outro lado, que ainda é “prematuro” fazer mais considerações por não ser ainda conhecido que modelo de trabalho o atual Governo pretende colocar no terreno, mas não pôs de lado que o corte nos orçamentos, que tem sido exigido a todas as estruturas da administração pública, “terá reflexos eventualmente nas respostas de proximidade, nos programas de redução de danos que buscam proactivamente os toxicodependentes mais desorganizados”.
“É um alerta antes que as coisas sejam consumadas num modelo que corresponda ao desmantelamento das respostas existentes”, sublinhou.
Nesse sentido, deixou claro que esta não seria nunca uma decisão que apoiasse.
Questionado sobre se estaria disponível para uma possível recondução para o SICAD, admitiu que sim, caso o trabalho até agora feito no IDT tenha utilidade no novo organismo, mesmo num quadro de restrições orçamentais.
21 de outubro de 2011
Fonte: Lusa
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