As mulheres, com idades entre os 72 e os 88 anos, foram tratadas na Flórida em 2015. As três sofriam de uma doença ocular progressiva chamada degeneração macular relacionada com a idade, informa um artigo científica publicado no New England Journal of Medicine.

As mulheres pensavam que se estavam a inscrever para um estudo clínico, porque lhes foi dito que tinham subscrito uma investigação do governo americano ClinicalTrials.gov sob o título: "Estudo para avaliar a segurança e os efeitos das células por injeção intravítrea na degeneração macular seca". No entanto, depois dos procedimentos intravenosos, as três mulheres sofreram complicações, incluindo o desprendimento de retina e consequente hemorragia, que lhes causaram perda total da visão.

A clínica e os pacientes envolvidos não foram identificados no artigo, que foi escrito por Thomas Albini, professor de oftalmologia clínica na Universidade de Miami. "Há muita esperança nas células estaminais e esse tipo de clínicas atraem pacientes desesperados por cuidados que esperam que estas células sejam a resposta", comenta Albini. "Mas, neste caso, essas mulheres participaram num procedimento clínico muito perigoso", acrescentou.

O método consistia em usar células-tronco ou células estaminais recolhidas a partir do tecido adiposo para restaurar a visão. Por isso, foram recolhidas células de gordura do abdómen dos pacientes que participaram no estudo. Este tecido adiposo foi depois processado com enzimas, a fim de se obterem as tais células-tronco, que seriam misturadas com plasma rico em plaquetas e injetadas nos seus olhos.

Especialistas afirmam que não havia nenhuma evidência que sugerisse que o procedimento ajudaria a restaurar a visão, visto que há poucos estudos sobre se as células estaminais derivadas do tecido adiposo podem ser benéficas na regeneração de células da retina.

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As pacientes receberam injeções em ambos os olhos ao mesmo tempo, quando o recomendável seria testar primeiro o procedimento em um dos olhos, informa ainda o estudo. Além disso, as pacientes tiveram que pagar cada uma cerca de 5.000 dólares pelo procedimento, um sinal de fraude, uma vez que os ensaios clínicos não cobram pela participação dos pacientes.

O coautor Jeffrey Goldberg, presidente de oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, descreveu o artigo como uma "chamado à consciencialização dos pacientes, médicos e agências reguladoras dos riscos desse tipo de invmestigação minimamente regulamentada e financiada por pacientes".

A agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) lançou desde então diretrizes mais específicas que exigem supervisão regulatória e aprovação para esse tipo de procedimentos.

"Embora numerosas terapias com células-tronco estejam a ser investigadas em instituições de pesquisa com supervisão regulatória apropriada, muitas clínicas de células-tronco estão a tratar os pacientes com pouca supervisão e sem prova de eficácia", alertou o estudo.